Fui ao jogo de domingo contra o Botafogo no Maracanã. Foi uma tarde muito especial que me despertou alguns pensamentos sobre os nossos hábitos em relação ao estádio, aqui no Rio Grande do Sul.
Estava com um pouco de medo de ir ao jogo de metrô com a camiseta do nosso time, achando que ouviria represálias. Logo que cheguei no Rio de Janeiro, todos que identificavam o sotaque perguntavam sobre como andavam as coisas para o Grêmio devido aos atos racistas que nos levaram à eliminação da Copa do Brasil e isso me deixou um pouco apreensiva.
Coloquei a camiseta pra seguir até o Maracanã, mas peguei um casaco, caso precisasse escondê-la.
Caminhei pela rua até o metrô com uma amiga também fardada e o pai dela que estava apenas com uma camiseta preta e tudo foi muito tranquilo. Chegando na estação, vimos alguns botafoguenses e alguns gremistas por lá na maior paz. Entramos no vagão e encontramos vários gremistas cantando as músicas da torcida, já um pouco alcoolizados, e um torcedor que aparentemente era de uma torcida organizada do Botafogo no mesmo vagão. Nada aconteceu.
Como precisávamos fazer baldeação, descemos na primeira estação onde era possível trocar de linha e encontramos, de cara, muitos torcedores do Botafogo reunidos. O rapaz que parecia ser de organizada desceu conosco e se juntou a eles. Além de nós, mais pessoas com camisetas do Grêmio circulavam por ali e nada aconteceu, além de uma batida no vidro do metrô por parte de um homem que estava com as outras pessoas da organizada, provavelmente para assustar os gremistas que cantavam alto e pulavam no vagão que estava saindo.
Pegamos o metrô de novo e, aparentemente, haviam mais gremistas que botafoguenses no nosso vagão. Mas também tinha gente com camisa do Vasco, do Flamengo e do Caxias e foi tudo muito tranquilo. Chegamos ao Maracanã e todo mundo andava misturado. Não se ouviu nenhuma provocação, nada de mais.
Vimos o jogo, cantamos que o Maraca era nosso e saímos junto com a torcida do Botafogo, depois de ganhar um baita jogo. A única coisa que ouvimos de ameaça foi de um rapaz que estava com mais uns 5 amigos e que disse: “ainda bem que vocês são gremistas e tá tranquilo. Se fossem colorados não ia ser tão na boa, assim”.
Voltei pra casa e fiquei pensando: Será que os botafoguenses seriam recebidos com tanta indiferença na Arena? Será que não ouviriam NENHUMA provocação ao passar por muitos gremistas até entrar no setor da torcida visitante?
Na minha cabeça, infelizmente, não consigo imaginar um torcedor fardado com camiseta de outro time andando tranquilo pelos arredores do nosso estádio, a não ser que seja de torcida aliada, mas, mesmo assim, não duvido que se passar sozinho, com camiseta do time e não da torcida organizada, em um ambiente que não o da Geral, talvez escute uma provocação. Também não consigo entender por que aqui tem que ser assim.
Fui no Grêmio x Vasco no São Januário, no ano passado, e tinha sido muito tranquilo também. Mas sabia que as torcidas têm uma amizade forte e fui com menos medo pra lá.
Torcedores gremistas andando tranquilamente no entorno do Maracanã. Fonte: http://www.fimdejogo.com.br/
No jogo contra o Corinthians pelo Brasileirão desse ano na Arena, um torcedor corinthiano – que tem o Grêmio como segundo time – foi espancado por torcedores gremistas, na rampa de acesso ao estádio, na saída do jogo por portar uma camiseta do time paulista. Ele estava acompanhado da família e de amigos que assistiram a agressão ao rapaz que acompanhou o jogo todo sem menores problemas dentro do estádio, em meio a torcida do Grêmio e não na torcida visitante. Sei que Grêmio e Corinthians têm uma rivalidade muito maior, mas precisa disso?
Fiquei com isso na cabeça. Será que somos mais intolerantes por aqui? Ou será que a nossa cultura é diferente por não sermos uma cidade com tanto potencial turístico? O que acontece em Porto Alegre que faz as torcidas serem tão hostis com os seus visitantes? Eu realmente não tenho resposta. Se alguém tiver, por favor, me explica.
22 + comentários
APENAS não se esqueça de como foi a recepção carioca no jogo contra o Flamengo…
Ano passado, o Vasco caiu, esse ano o Botafogo tá na merda… Será que não tem a ver com o momento dos times e a torcida mais lamentar que lutar pelo seu time?
De qualquer forma, fora do estádio, o time é só uma camisa, azul, preta, vermelha, amarela…
Ainda bem que nada de ruim aconteceu com vocês, já fui ao Rio diversas vezes, contra o Vasco e Botafogo foi tranquilo, contra o Flu um pouco mais difícil e muito foda contra o Flamengo, aliás, contra o time rubro-negro, não te recomendo fazer isso, vai por mim, eles odeiam o Grêmio, e não é de hoje que nos acham racistas.
A verdade é que somos diariamente estimulados a competição, sempre travestido como rivalidade, isso causa muita animosidade. Pode ver a desumanidade em que vivemos no trânsito, pura competição de espaço. No futebol é a questão da supremacia, o gaúcho está sempre de espírito armado.
Cara, a torcida do Botafogo sempre foi de boa. Lembro que na final da Copa do Brasil de 99, quando fui com a torcida do juventude pro Maraca, todos estavamos nos cagando, era mais de 100 mil botafoguenses, e os caras foram de boa, subiram a rampa do maraca lado a lado, brincando, nos cumprimentando. O motorista do nosso onibus que era carioca, até falou: “Vcs tem sorte que era o botafogo. Se fosse flamengo ou vasco, vcs nao iam nem conseguir entrar no estadio.”
Por isso acho que depende muito da torcida e da situação para que ocorram problemas.
Acho que antigamente as animosidades eram menores mesmo.
Por razões de trabalho, já vi jogos do Grêmio em Salvador. Quantas lições o torcedor baiano tem a nos ensinar. Andei fardado com o manto entre os tricolores de lá, e nenhuma provocação. Hoje moro no Rio, e apenas uma parte da torcida flamenguista, ao meu ver, tem um pouco de problema com a gente. Os demais, principalmente a do Vasco, é muito tranquilo.
Agora em SP e PR as coisas não costumam ser assim, exceto com o São Paulo. Na Arena de Curitiba é complicado chegar e sair. Os atleticanos, por conta dos episódios Tcheco x Petraglia, não gostam muito da gente. No Couto era tranquilo, hoje nem tanto. Na verdade as três torcidas curitibanas ficaram mais violentas ultimamente. Mas não dá para generalizar.
Não conheço Santos, mas acho que ir ver jogos por lá é complicado, ainda mais agora.
Em Recife, um dos botecos mais famosos é de um gremista. Lá o pessoal nos respeita, inclusive a torcida do Náutico.
E quanto ao nosso quadrado, creio que temos muito a evoluir. O episódio do corintiano foi lamentável. Não se justifica, embora alguns tentam culpar o cara que apanhou. O engraçado é que o gaúcho em si é considerado um vivente hospitaleiro, que na sua casa oferece a melhor carne e um bom chimarrão a seus visitantes. Poderíamos fazer isto na Arena também. Ou fazer nada, o que já é grande coisa.
Kemmel aqui em Curitiba sempre que o Grêmio joga contra o Coxa as torcidas tomam cerveja juntas em um bar em frente ao Couto Pereira. Posso te garantir que se for a um jogo aqui contra o Coxa não terá nenhum problema em andar com a camisa do Grêmio, agora contra o Atlético já é bem diferente, é melhor tomar cuidado.
Grande Farley! Como anda o boteco gremista da Kennedy? Saudades da gremistada barulhenta daí. Morei em Curitiba seis anos.
Abçs!
No último jogo do Coxa… acabei sendo hostilizado por um torcedor do Coxa… Fui umas 10x e nunca tinha sofrido nenhum problema, depois daquele dia nunca mais vou ao Couto…
Fui contra o Flamengo no Engenhão (aquele da lambança do Vitor) e contra o Cruzeiro no Independência (1×3 estreia do meio campo com Zé e Elano se não me engano).
Contra o Flamengo chegamos de taxi, ouvimos um pouco fora do estádio, mas não demos bola, tudo tranquilo. Dentro ouvimos muito, nos jogaram copos, mas muito por causa de um torcedor do Vasco na torcida e torcedores do inter na torcida do Flamengo, tirando o fato que os taxistas tentaram nos cobrar 10 vezes mais que o preço real, tudo certo.
Contra o Cruzeiro chegamos atrasados, mas a policia nos indicou um caminho alternativo que nos levava direto a entrada do adversário, na saída ainda passamos por uma parte da organizada e voltamos de bus, muuito tranquilo, sempre junto com torcedores cruzeirenses.
Pode ser ingenuidade minha, mas levando as piadas na boa, na brincadeira e sem responder, acho que normalmente é tranquilo. Já vi muitos torcedores de outros times na volta da Arena, acho que o ditado “se um não querer, dois não brigam” quase sempre se encaixa. Se tu é minoria, fica na tua. Se tu é maioria, respeito é sempre bom e necessário.
É vergonhoso, mas hostilidades não acontecem somente aqui.
Quando mistura muita gente, ânimos exaltados, álcool (e/ou drogas), rivalidade etc…a chance de dar merda sempre é grande. Inclusive na educada, civilizada e exemplar Alemanha.
Eu sou colorado e já fui em vários jogos no tempo antigo do Olímpico e nada aconteceu. Como muitos amigos gremistas iam ao Beira-Rio, seguiam juntos para o estádio e nada acontecia. Acredito que cabe a mim e a você e a todos que estão lendo mudar essa história hoje. Se eu falar para mais 10 amigos colorados e estes para mais 10 e vocês fizerem o mesmo, vamos começar a combater isso de frente. E, quem sabe, logo mais não poderemos visitar a casa um do outro normalmente como era antigamente? Eu acredito que pode acontecer. E era muito bom. Abs a todos os amigos gremistas.
Não adianta falar que isso existe em outros países. Brasileiros são ignorantes, tudo está bom quando seus interesses estão em jogo. Não pensam nas outras pessoas, são egoístas, acham que podem fazer tudo aquilo que não há placa de proibição. Se fazem de coitados e adoram sempre serem as vítimas. Daqui a 500 anos talvez haja um outro pensamento. Sei que deverá aparecer pessoas dizendo que não é assim, falam isso para dar uma de boazinhas, educadas e na verdade estão tentando esconder seus erros. Quem não se enquadra nisso não ficará ofendido, porque sabe separar as coisas que não lhe diz respeito.
Sou gremista e moro em Curitiba. Aqui também é muito complicado. Sem generalizar, claro, mas parte da torcida do Coritiba e do Atlético PR (diga-se a mesma minoria de sempre) também são bastante agressivos com visitantes… Uma pena!
“Na minha cabeça, infelizmente, não consigo imaginar um torcedor fardado com camiseta de outro time andando tranquilo pelos arredores do nosso estádio..”
Torcedores da Chapecoense e do Criciúma (em grande número) o fizeram, este ano na Arena.
E sobre o Rio, sempre é light contra Flu, Botafogo e, sobretudo, o Vasco. Contra o Flamengo, o clima era totalmente diferente.
Acho que o caso do corintiano foi isolado. Minha rampa de acesso é ao lado da entrada dos visitantes. Vou a TODOS os jogos e nunca vi violência e hostilidade. Pelo contrário, na partida contra o San Lorenzo foi lindo ver a torcida deles circulando no meio da nossa. Como frequentadora de estádios há mais de 20 anos – e jornalista – tenho certo receio quanto a forma como as coisas são apresentadas e, não raramente, supervalorizadas, em especial, por comentaristas esportivos. Minha modesta opinião. 😉
RIO DE JANEIRO É OUTRO MUNDO DENTRO DO BRASIL. NÓS, PRINCIPALMENTE A GAUCHADA, É MUITO GROSSA PRA ESSE TIPO DE ASSUNTO (Futebol, além de outros assuntos). NA OUTRA ENCARNAÇÃO VOU
NASCER NO RIO DE JANEIRO ( é um sonho de guri).
Nunca dá pra generalizar. Já atravessei a Carlos Barbosa no meio dos colorados depois dum Gre-Nal com um parceiro e a irmã dele e “só fomos muito ameaçados” hehe.
Antes que alguém pense, “como”? Pq tava com a guria e eles tinha ganhado (2×1, gols do Cristian! Sim, mas concordam que o máximo de perigo e hostilidade que um gremista pode enfrentar é na torcida do Inter e passemo ileso?!?!
O fato é que tem gente boa e ruim em qualquer lugar!
Só temo o azar de pexar as ruins na hora errada…
Em 2013 se não me engano fui em um grêmio x Botafogo, enquanto esperava a abertura dos portões alguns torcedores do Botafogo esperavam junto aos torcedores do grêmio no pátio do monumental, tudo muito tranquilo sem nenhuma provocação.
O Rio é uma cidade turística. Isso ajuda muito. As pessoas estão acostumados a lidar com a diferença. Ah, mas contra o Flamengo não foi bem assim. Sim, mas estava no calor daquela discussão do racismo.
Fui em Botafogo e Flamengo, na área mista (8 flamenguistas para cada 2 botafoguenses) de camiseta do Grêmio. Tudo tranquilo.
Legal esse post.
Minha opinião é de que os cariocas já estão acostumados a receber gente de fora. O Rio é uma das capitais do mundo e eles sabem lidar com as diferenças há tempos.
Legal lembrar que no Grêmio x Botafogo desse ano, na Arena, vi botafoguenses de camiseta, andando sozinhos, no entorno do estádio.
Mas sim, ainda temos muito o que aprender com os cariocas nesse quesito.
A forma como somos tratados em jogos fora do RS tem muito a ver com as “alianças” entre torcidas organizadas. Os gremistas são amigos de Vasco, Botafogo, Galo, Palmeiras, Bahia, etc… já os vermelhos tem amizade com Flamengo, SP, CUzeiro, Vitória, etc… em certos casos o povão local também acaba tendo simpatia ou antipatia pelos torcedores que vem de fora ao ver a relação dos mesmo com os torcedores do seu time.
Sou colorado e lembro com saudade dos tempos em que íamos tranquilos para o estádio. Os torcedores gremistas ocupavam aquela parte perto do gigantinho. Antes dos jogos ficavam bebendo cerveja… sempre se encontravam amigos adversários que iam no jogo…eram outros tempos… tem tudo a ver com a decadência cultural e moral da sociedade. E também com essas malditas alianças que organizadas fazem com outros times. Em tempos recentes (falo do beira-rio) vi muitos torcedores de outros times circulando tranquilamente em volta do estádio… mas quando criança e adolescente, por morar perto do olímpico, vi muitos jogos do grêmio com outras equipes. E nunca presenciei violências… a não ser uma vez contra o palmeiras e sua mancha verde. novamente, torcidas organizadas enchendo o saco. E não existia essa bobagem de alma castelhana e de se acharem melhores que os outros. Eram gaúchos e brasileiros assim como nós. Mas de uns anos para cá, inventaram um mitologia, que caiu no gosto do público desatento.