Estreia sem vergonha, Grêmio!

1 Postado por - 6 de março de 2017 - Artigos

Tu sabe quem estreia esta semana?

Isso mesmo, o Grêmio.

No Campeonato Brasileiro Feminino de Futebol.

Mas sabe quem parece que não sabe disso?

O Grêmio.

Nenhuma linha, foto, chamada, nadinha, nadinha, nadinha pode ser encontrado no site do clube.

A única notícia dedicada ao time feminino publicada oficialmente pelo Grêmio data do dia 22 de fevereiro. Nela, sabe-se que a estreia contra o Vitória de Santo Antão (PE) será no dia 12 – também conhecido como sábado que vem. Que o jogo será realizado no Centro de Formação e Treinamentos Hélio Dourado, em Eldorado do Sul, “mas o horário ainda não está confirmado”. [O site da CBF informa, desde a sexta-feira – dia 3 de março – que o jogo será às 16h na Arena.]

Mas sabem o que eu consigo saber no site do Grêmio?

Que as inscrições para Musa do Grêmio 2017 poderiam ser feitas apenas presencialmente no dia 7 de fevereiro. Que houve seis classificadas para a próxima etapa da Musa do Grêmio. Que os torcedores podiam votar na Musa do Grêmio pela internet, em um site desenvolvido especialmente para apresentar as competidoras e recolher os votos. E, por fim, que a Tainy Fritzen foi eleita Musa Oficial do Grêmio – e que ela tem 20 anos, 1,74m de altura e pesa 65 kg.

A comparação entre a atenção oficial dada pelo clube a uma e outra “competição” (e que fique claro que as aspas se aplicam a apenas a uma delas) diz muito sobre o que ainda temos que enfrentar para que o futebol e o Grêmio sejam, de fato, lugar de mulheres. No plural.

Quando, em janeiro, a imprensa local anunciou (não, não foi o Grêmio, podem procurar lá no site) que teríamos um time feminino já neste Campeonato Brasileiro, dois anos antes das exigências formais da Conmebol e, agora, da CBF, dei alguns pulinhos de alegria. Demos, nós todas e todos que acreditamos que o processo de mudança na forma como o futebol acolhe as mulheres, dentro e fora do campo, tem de contar com a atuação positiva dos clubes.

Ao ler que o time seria formado por uma seleção de jogadoras realizada pela Associação Gaúcha de Futebol Feminino (AGFF), pensamos ok, compreensível, estamos começando devagar um projeto de futebol feminino forte, dando passos do tamanho das pernas que estão disponíveis agora. Mas, nossa!, que excelente notícia darmos um passo na direção do fortalecimento do futebol das mulheres, participarmos desde o início deste processo de construção de campeonatos mais fortes e anteciparmos os esforços de organização dos grandes clubes brasileiros e sul-americanos. Nossa. Nossa! Nossa!!!!

A empolgação, no entanto, não durou dias. Justamente pelo que descrevi logo acima: o clube parece não ter se convencido da grandeza das suas próprias decisões. Grandeza que reside no fato de que, ao apresentar um projeto de criação de um time e posteriormente um Departamento de Futebol Feminino, abre a possibilidade de nós, mulheres, nos relacionarmos de TODAS AS FORMAS com o Grêmio.

Até agora, no entanto, o Grêmio ainda prefere apostar na histórica construção de que a única forma OFICIAL das mulheres ostentarem o escudo do Grêmio é sendo musa e não jogadora. E, ao fazê-lo, repete padrões machistas muito evidentes.

O primeiro, claro, é reconhecer como válida a presença feminina no mundo exclusivamente pelos nossos atributos físicos. O que as quatro notícias publicadas pelo site do Grêmio neste ano sobre a Musa do Grêmio 2017 nos dizem claramente é: “Só representa o Grêmio se for musa”.

O segundo é menos evidente e se comprova justamente pelo silêncio do clube: ao entrarmos em um território supostamente “masculino”, temos que primeiro provar que merecemos estar ali, que somos “machas” o suficiente, que nossos resultados não apenas igualam, mas superam os dos homens. Ou seja, é de se esperar que as mulheres que vestem a tricolor no Brasileirão Feminino receberão algo próximo da atenção dada ao time masculino apenas e somente se fizerem chover, relampear, cair granizo e também nevar em campo.

Não. Eu não espero que logo de cara o futebol das mulheres gremistas tenha a mesma atenção que o time masculino. É óbvio que são, ainda, coisas bem diferentes, com investimentos diferentes, retornos diferentes, engajamento diferente da torcida. O que não significa que tenha de ser assim pra sempre e, muito menos, que a mudança deste quadro não dependa – de novo – da atuação POSITIVA dos clubes, federações e confederações.

Portanto, o mínimo que espero do meu clube, que teve a coragem de dar um primeiro passo, é ter mais coragem de dar o segundo. E este segundo passo só poderá ser dado com o apoio do torcedor, apoio que tem de ser convocado pelo Grêmio. Oficialmente. E com vontade.

Aguardo, portanto, o local e hora da convocação.

Se for o caso, até Eldorado nós iremos.

No site do Grêmio, uma única notícia sobre o time feminino. (Reprodução)

P.S.: Não tem nenhuma foto oficial do time para ilustrar este texto. Nenhum álbum no Flickr do Grêmio dedicado aos treinos, que acontecem semanalmente desde o início de fevereiro no CFT Hélio Dourado. Tem uma fotinho, feita pela assessoria da AGFF, na única notícia publicada no site.

Para quem, como eu, quer torcer pelo Grêmio onde o Grêmio estiver, resta decorarmos os nomes da nossa equipe e tentar ligar o nome ao número e à pessoa durante as partidas. Nomes que reproduzo aqui a título de informação e homenagem:

Goleiras

Ana Sara da Silva Mendes (Canoas)
Andreia Guimarães de David (Ijuí)
Luana Santos (Atlântico)

Zagueiras

Bruna Helena Oliveira Flor (Canoas)
Elisabeti S. Gaieski (Atlântico)
Letícia Bongiorno (Atlântico)
Vera Lúcia A. Marostica (Black Show)

Laterais

Rafaela Medina Ancheta (Canoas)
Caroline dos Santos Gomes (Atlântico)
Daiane Fernandes (Canoas)
Jissele Agnes (Canoas)

Meio-campistas

Thiellen G. de O. Nascimento (Canoas)
Stefani Cabral (E.C. Pelotas)
Itainá Ávila Silveira (E.C. Pelotas)
Roberta Rosa (Canoas)
Michelly Santos (Canoas)
Thaiane Almeida Caetano (Cruzeiro)
Daniela Fonseca Magallon (Canoas)
Shaiane Madeira Pedrozo (S.C. Rio Grande)
Aline de Borba Fermino (Canoas)
Priscila Graziele C. de Almeida (Black Show)

Atacantes

Carla Tatiane da Silva Antônio (Canoas)
Júlia Cipriani (E.C. Pelotas)
CAroline Dalazen (Atlântico)
Jenifer Braga da Silva (Sapucaiense)
Karina Balestra da Luz (Canoas)
Bruna de Souza Gomes (Black Show)
Maria DAniete Gonçalves (Cruzeiro)

Comissão Técnica:

Patrícia Gusmão – Técnica
Bagé – Assistente Técnico
Sol Farias – Treinadora de Goleiras
Mauro Cruz – Preparador Físico
Vainon Rodrigues – Preparador Físico
Paulo Henrique – Fisioterapeuta

 

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2 + comentários

  • Rafael 6 de março de 2017 - 22:53 Responder

    Boa noite Cris, sabe se este jogo terá alguma transmissão, nem que seja online?

  • Marcelinho Gaúcho 7 de março de 2017 - 23:29 Responder

    Cris, lembrei dum post em que foi abordado o machismo relativo ao episódio da entrada da Carol no gramado. Pois acabei lendo-o muito tempo depois e perdi de entrar no debate.

    Entendo que aquele fato teve sua pitada de machismo sim, por que a guria só entrou no campo por ser uma mulher bonita, ou seja, um produto valiosíssimo na visão atual da nossa sociedade.

    Mesmo que se argumente que a mulher pode ganhar dinheiro através de sua beleza, não contraria o fato de que ela acaba valorizada somente pelo seu corpo, nunca por sua personalidade.

    E também, que o fato de existir uma demanda/necessidade pelo corpo feminino como objeto de consumo, vem do público masculino.

    A prova disso tudo é que se a Carol – ou qualquer mulher – fosse feia, ou tivesse uma “deficiência”, por exemplo, nunca teria sido exposta pelo Renato. E por que não dizer que ela poderia se candidatar á jogadora…mas só lembramos de sua bunda!

    Dito isto, o machismo é forte e a luta vai ser longa. Força pras mulheres e á próximas jogadoras do Grêmio!!!

    Uma prova do machismo entranhado em nós, que atrasou o futebol feminino:
    http://dibradoras.com.br/por-que-o-futebol-feminino-foi-proibido-por-decadas-no-brasil/

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