Grêmio Libertador

A “Torcida”, o Jonas e o Dilbert

Não gosto de alimentar polêmicas, ainda mais em semana do jogo pela Libertadores, porém esse assunto não foi comentado aqui no blog e o Fagner, nosso leitor assíduo, escreveu um texto que não poderia ficar só num email.Segue:

A “Torcida”, o Jonas e o Dilbert

Estou realmente cansado de ver alguns torcedores da Social argumentando que o Jonas exagerou. Dizem, principalmente, que ele é jogador do Grêmio e que a “torcida” é que paga o seu salário. Mesmo desconsiderando que o Grêmio fatura mais de verba de TV do que do Quadro Social (o que significa que o Grêmio depende mais dos torcedores que não estão no estádio do que daqueles que gastam uma merreca por mês e acham grande coisa), ou que a vaia nunca ajudou ninguém a jogar melhor, resolvi pensar um pouco no que eles dizem. A conclusão que cheguei é que essa “torcida social” é, em verdade, o mais “perfeito” chefe se tomarmos como parâmetro as tirinhas do Dilbert – nunca se põe no lugar do funcionário. Assim, resolvi deixar um pequeno exemplo, como ilustração dessa conclusão.

Tu está trabalhando numa empresa já faz três anos. Depois dos primeiros três meses, depois de perder uma venda que já era dada como certa, mesmo tu tendo feito a tua parte perante uma maluquice do teu supervisor de fazer o cozinheiro apertar parafusos, te mandam para uma filial na Sibéria. Tu tira a filial da Sibéria do inferno e tem um trabalho destacado, sendo lembrado como “o cara” da Sibéria. Aí tu volta, não vai tão bem nos primeiros meses, e teu chefe começa a reclamar de ti. Te coloca de lado. Coloca no teu lugar um figurão em fim de carreira, que faz questão de ter uma máquina de escrever na sala dele. Com muita luta, tu supera ele. Aí, contratam um argentino metido a bonzão, com uma mulher gatíssima para apresentar nas festas, e dão um salário dez vezes melhor para ele, sendo que ele não produz metade do que tu produziu. Mas teus chefes adoram ele, porque ele fala “jo” ao invés de eu. E no final, o “lindo” resolve ir embora mesmo no meio de um compromisso firmado, dando um desfalque na empresa.

Aí tu acha: “bom, agora vão me valorizar”. Logo depois, com medo da concorrência que começou a crescer o olho, os teus chefes resolvem discutir um aumento. Tu quer garantias de que vai poder continuar mais tempo, para realizar os teus projetos e tal. Mas, no final, ganha um aumentinho e a promessa que no próximo ano a lenga lenga recomeça. O que tu recebeu te coloca com o salário perto do que os outros funcionários, que não rendem metade do que tu rende. Nem comprar uma apartamento, porque em 24 meses é possível porque tu não tenha como pagar no final. Mas tu aceita, acreditando que 2010 vai ser o teu ano.

Enquanto teus chefes estão se reunindo e trazendo gente de “primeira linha” para o teu cargo, te botam de novo na salinha e te tiram do “time principal”. Mas só até dar o primeiro problema. Te chamam e tu mata a pau. Começa a bater recorde em cima de recorde. Poucos funcionários na história da empresa fizeram o que tu fazia. Parecia que agora ia. Tapinhas nas costas e coisa e tal. E aí tu sai de férias. Quando tu chega, teus chefes te dizem: atrasado mais uma vez? E ainda quer me cobrar aumento de salário…

Tu realmente iria ficar quieto? Eu arrumaria as minhas malas e ia embora (como já fiz ao longo da minha curta carreira de dez anos). Sou bom demais no que faço para ficar trabalhando para quem acha que eu devo um favor.

Saludos,
Fagner

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