Ao Renato o que é do Renato

0 Postado por - 28 de outubro de 2016 - Artigos

O Grêmio fez mais uma excelente partida nessa última quarta, fora de casa, contra o Cruzeiro. Esse foi o décimo jogo do Renato no comando do time. São 5 vitórias, 3 empates e apenas duas derrotas – contra o próprio Cruzeiro e contra o Atlético Paranaense. Isso dá um aproveitamento de 60%. Se analisarmos as competições em separado, no Brasileiro esse aproveitamento é um pouco superior: 61,1%. São 3 vitórias, uma derrota e dois empates. Mantendo esse aproveitamento conseguiremos somar 60-61 pontos e garantir o sexto lugar. A maior goleada que tomamos no período foi 1×0.

Já na Copa do Brasil são quatro jogos, com 58,3% de aproveitamento – 2 vitórias, 1 empate e 1 derrota. Porém sabemos que, nessa competição, não interessa essa porcentagem. O que importa é conseguir o resultado certo no momento certo. E temos feito tão satisfatoriamente que estamos muito bem encaminhados para a final. Estamos bem justamente no quesito que facilita a obtenção de classificações: gols, principalmente fora de casa. Dos cinco que marcamos nessa competição, 3 foram nessa condição. E sofremos o mesmo número de gols (dois em casa). No geral temos uma média de 0,9 gols/jogo (9 em 10) e 0,5 contra (5 em 10). Considerando apenas brasileirão, fizemos 4 (0,7 gols/jogo) e levamos 2 (0,3 gols/jogo).

Mas, como sempre, incompreensivelmente pra mim, o grande jogo não era mérito do Renato já na quinta feira. O que aconteceu, segundo os entendidos, é que o time do Roger entrou em campo. Há um registro em cartório que, se o time joga com a posse de bola, deixa de ser treinado pelo atual comandante, abandona todos as suas orientações e passa a funcionar no automático. Porque Renato como treinador é apenas motivador. Qualquer coisa que se aproximar de tática é resquício de outro trabalho. Como eu ouvi por aí, “não viram nada de novo” no nosso atual treinador. Ele é antiquado, ultrapassado. O Grêmio só fez três bons jogos (Cruzeiro e Palmeiras pela Copa do Brasil, Atlético PR em casa no Brasileiro), o resto “muito abaixo”.

Renato e seu auxiliar. Foto: Lucas Uebel/Grêmio Oficial (via Flickr).

Renato e seu auxiliar. Foto: Lucas Uebel/Grêmio Oficial (via Flickr).

E como é que foi o Roger com o time do Roger nos seus últimos dez jogos pelo Grêmio?  Não veio mais ninguém, perdemos jogadores por lesão mas, no geral, tem sido o mesmo grupo à disposição do Renato. Certo? Aqueles que são titulares agora e não foram em algum momento – ou em todo o período – são escolhas do atual treinador, Kannemann, Ramiro e Pedro Rocha. Vamos comparar?

Os últimos 10 jogos do Roger no Grêmio geraram 33,3% de aproveitamento. Foram 2 vitórias, 4 derrotas e 4 empates. 9 deles foram no Brasileiro, onde saímos da disputa pelo título com pífios 25,9% de aproveitamento – apenas 1 vitória, 4 empates e 4 derrotas. A outra vitória do período foi contra o Atlético PR, na ida da Copa do Brasil. No período fizemos 7 gols (0,7 gols/jogo, 6 no Brasileiro) e levamos 12 (1,2 gols/jogo). Tivemos uns três esquemas de jogo distintos, boas atuações e outras pífias. As duas vitórias (Corinthians foi a outra vítima) em grandes atuações. Dois empates também – Palmeiras e Galo. Mas tivemos jogos horrendos, como contra o América, o Santa Cruz e o Botafogo. Sem contar as goleadas contra a Ponte (0x3) e o Coritiba (0x4).

Veja bem, são 10 jogos para cada treinador SEM Giuliano. Roger fez onze partidas no comando do Grêmio sem o nosso camisa 8 (segundo alguns, um jogador vendável). Só venceu 3 (o outro foi o São Paulo, em casa). Saímos de 60% com Giuliano para 33,3% sem. Um abismo. Nesse período o time esqueceu o que o Roger ensinou? Pelo contrário. O time tinha posse de bola, criava e não conseguia fazer gols. Jogava sempre igual e tomava gols sempre do mesmo jeito – em contra-ataque ou bola parada. Como o time tem vocação para ser pé-torto, não conseguia vencer. Levando gols e não conseguindo superar a depressão pós-gol sofrido, o time naufragava.

O problema entre as atuações e a falta de resultados era claro: Giuliano saiu. Era vice-artilheiro com 4 gols além de 2 assistências para gol e mais 26 para finalização (em 15 jogos). Mas o que mais fazia falta era justamente a sua função tática, a cobertura defensiva. E, com isso, Roger passou a não conseguir achar uma boa solução. Enquanto o 8 esteve por aqui qualquer jogador parecia substituível, pois o sistema se manteve. Jaílson fez grandes jogos tornando Maicon questionável. Mas, como já disseram por aí, o Grêmio não é o Barcelona, nem o Bayern, nem o Manchester City. O Guardiola ia ter que se virar com o que tinha. O Roger não teria mais um ano de paciência da torcida para moldar um substituto (pra ele, o Negueba). Então, pediu pra sair. As palavras dele foram, mais ou menos: eu não consigo tirar mais nada desse time.

Pois não é que aquele que não é treinador conseguiu? Renato trouxe o time de volta aos 60% de aproveitamento com o Ramiro titular. Demorou alguns jogos para conseguir dar a famosa confiança perdida pelo time, mas o resultado veio por uma decisão dele. Então vamos dar os méritos a quem merece. Sim, a “vocação” pela posse de bola não é acidental. Ela é estimulada pelo treinamento diário e é mérito do método do Roger. Mas o Renato viu que só isso não resolveria o problema. Quando ele falou que o Barcelona perdia com 70% de posse de bola não era chacota. Era a visão dele do futebol.

E que visão é essa? Que posse de bola é bom, mas às vezes a gente precisa abrir mão dela. O Grêmio hoje não é, como antes, um time de posse de bola. É um camaleão. Ter a bola ou não depende do adversário. Fizemos um ótimo jogo contra o Vitória, controlamos a partida, não corremos risco, criamos muitas oportunidades. Exatamente como quarta. Mas muita gente disse que “foi feio”. Não foi “moderno”. Tudo que o Vitória queria era contra-atacar. Ficar fechado em duas linhas, com uma transição veloz e atacantes no mano-a-mano na defesa. Esperar atrás da linha do meio de campo tirou a compactação e escancarou a fragilidade da defesa. De onde isso é “ser antiquado”? Ninguém ri do futebol marcador e vertical do Atlético de Madri do Simeone. Deve ser antiquado, tadinho.

Mas as ideias do Renato não param por aí. A marcação individual em bolas aéreas ajudou a corrigir o problema da zaga. Tomamos uma quantidade ínfima de gols – o que é imprescindível quando o ataque marca tão pouco. Isso é o mesmo problema de 2013. A defesa não foi prioridade em 2010, o ataque marcava muitos gols. Então, embora seja mais velho do que andar pra frente, Renato prioriza fazer mais gols do que tomar. Se não tem atacante bom, tem que ter defesa boa. Por isso também a insistência no Pedro Rocha. Ele fez gols em sequência e cobre defensivamente melhor que o Everton (e eu não estou falando que ele cobre bem, é menos pior). Então, pro Renato, se ganha mais com ele evitando que o Grêmio leve gols. Por isso o Everton entra no segundo tempo, quando o adversário já não avança tanto.

É chato e é repetitivo ficar falando nessas pequenas coisas que as pessoas parecem fazer questão de ignorar. Como a tal da predileção por um “centroavante aipim”. Jogamos assim algumas partidas e agora não mais. O Renato desistiu? O Luan segue jogando mais recuado que quando com o Roger. O Luan é obrigado a marcar. E como o Henrique Almeida acrescenta muito pouco, o único liberado é o Douglas. E, mesmo assim, o 10 não deixa o zagueiro sair jogando tranquilo, ele cerca.

A defesa do Grêmio tem um 4-4-2 que, várias vezes, principalmente quando estamos abdicando da posse de bola, se torna 4-1-4-1. Isso faz com que roubemos a bola mais na frente do que com o Roger, que juntava as linhas praticamente na linha da grande área. A presença do Walace entre linhas e o bote frequente dos laterais na mesma linha do “cabeça de área” tem tirado a pressão de dentro da nossa área. O que contribui mais do que a marcação em zona de bola aérea pro excelente resultado defensivo.

Tudo isso que escrevi não é novidade pra quem presta atenção no jogo. E é um monte de mudanças em relação ao que o Roger vinha fazendo. O Renato só pode fazer isso porque o time do Grêmio sabe jogar com a bola quando precisa. Porque treinava valorizando isso. E essa é a grande revolução que o Roger trouxe pro Grêmio. Mesmo isso não é novidade, é feito lá fora. Elogiar isso é ótimo. Eu também não queria que o Roger saísse. Mas não tapem os olhos para tudo o que o Renato fez em tão pouco tempo. É pura birra.

Comparilhe isso:

3 + comentários

  • Ezio 28 de outubro de 2016 - 14:07 Responder

    Renatão não tem como forte montar grandes esquemas táticos MAS ele tem o que é tão ou mais importante do que fazer esquemas que é justamente controlar o vestiário e arrancar aquele algo mais do elenco. Uma das maiores provas é o Douglas, o maestro sempre foi um dos diferenciais do time mas é inegável que ele cresce sob a batuta do Renatão. Ramiro é outro que está fazendo como poucos a função que era o Giuliano também cresce de produção no comando do Renatão. Enfim Renatão está tendo a sabedoria de não mexer no que funcionava na época do Roger e está corrigindo os ptos falhos que o time tinha. Renatão merece como pouquissimos um titulo na nossa casamata. Chama a atenção o conhecimento que ele tem do clube mesmo depois de bastante tempo longe e ele foi sabotado na sua primeira passagem pelo Odone e na segunda foi praticamente corrido pelos amendoins que reclamavam que ele “só mandava dar bicão” sendo que só tinhamos volantes pra por no meio. Estou otimista que esse ano essa injustiça será corrigida e veremos o Renatão ser vencedor na casamata assim como ele já foi como jogador no GREMIO.

  • Alvaro 28 de outubro de 2016 - 14:07 Responder

    Perfeito…. Ainda me atrevo a acrescentar que, Pedro Rocha no inicio é estratégico tbm, pois no segundo tempo entra o Everton, mais agudo e veloz, contra um time já um tanto cansado… enquanto que no primeiro tempo o Pedro Rocha segura bem na marcação… mantem os dois jogadores jovens motivados e com mercado para futuro.

  • Oliver 30 de outubro de 2016 - 19:28 Responder

    Concordo plenamente, Fagner.
    Sempre achei que o Renato foi extremamente injustiçado, desde 2013, onde a torcida infernizou a vida do Renato pois ele ganhava quase todos os jogos de 1×0, e foi vice campeão brasileiro, com um time onde os atacantes estavam em terrível fase e não tínhamos meio campo de qualidade. E sempre esqueceram do trabalho que foi feito em 2010, onde o Grêmio seria facilmente campeão, se o Renato tivesse assumido desde o começo do campeonato. Aí em 2011, Odone deixou Lins e Junior Viçosa pra disputar a libertadores e, muito evidentemente, foi eliminado, e o Renato junto, novamente de forma injusta.
    Agora, em 2016, estamos virtualmente na final da copa do Brasil, Renato recuperou o time e ainda temos que ver torcedores pessimistas. Eu sinceramente não entendo a “birra” com Renato, acho, tambem, excelente técnico, e tem tudo pra fazer história novamente no Grêmio (se a diretoria não cagar de volta).

  • Deixe uma resposta