As 60 horas do Tri

0 Postado por - 3 de dezembro de 2017 - Artigos

De volta pra casa, ainda de ressaca, começo a organizar as imagens, as histórias de uma viagem épica e sem precedentes. Aqui vai o relato de um pouco do que vivenciamos nestas 60 horas de final de Libertadores.

Saímos de Porto Alegre em torno das 14 horas de terça-feira, até Uruguaiana, nada de especial, alento e cerveja, cerveja e alento.

https://photos.app.goo.gl/Nb9p79GdKH2Igo1u2

Por volta da meia noite chegamos na aduana. Ali ficamos retidos até as 5 horas da manhã, juntos com mais uns 15 ônibus. Resolvidos os procedimentos legais partimos para Buenos Aires. A partir deste momento começamos a sentir o clima que nos esperava, fomos impedidos de realizar qualquer parada. Em cada posto de combustível havia uma viatura da polícia argentina que nos proibia de parar. Assim foram as oito horas seguintes da viagem.

https://www.facebook.com/GremioLibertador/videos/1505557036194336/

Próximo a Buenos Aires paramos num posto policial com mais uns 15 ônibus, depois de alguns minutos partimos para Puerto Madero, local onde ficaríamos concentrados até a hora de partimos para Lanús. Durante o trajeto fomos escoltados por viaturas e um helicóptero da polícia.

Em Puerto Madero, o coração começa a bater mais forte. Muitos ônibus já tinham chegado e outros tantos estavam por vir. Um manto humano nas cores azul, preto e branco cobria este espaço. Tricolores por todos os lados, Quilmes de litro vendidas por dezenas de ambulantes e até um rachão Grêmio x Argentina em um dos vários campinhos do local. Ali encontramos um torcedor gremista alemão, que apesar de mal saber dizer “oi” e “obrigado” cantava perfeitamente “quem não canta é amargo, nunca vai sair campeão, Inter cagão, Inter cagão!”

https://photos.google.com/photo/AF1QipP7ks_B3ODf4bgDlrBVwRB-qoCoi3syzzt2ILZR

Parte o comboio em direção a La Fortaleza. Cinco minutos depois uma pedra arremessada, que de tão improvável lembrou Aílton em 1996, acerta a coluna que dividia as janelas do ônibus e consegue estilhaçar dois vidros ao mesmo tempo. Entre o alento surge um grito:

– Isso é Libertadores porra!

Não dá pra negar que o clima de tensão aumentou um pouco em função disto. Como seria a chegada em Lanús? No final tudo tranquilo, desembarcamos há algumas quadras de La Fortaleza e seguimos a pé. No caminho policiamento ostensivo e uns poucos moradores nas janelas das casas, alguns sorriam e abanavam.

https://photos.google.com/photo/AF1QipPL7cJUmvARPxdHS48QCnrazxB9Y5Hd8Nka1kmX

Bem próximo ao estádio, na porta da sua casa um menino acompanhado do pai e dos avós vestia orgulhoso a camisa do Grêmio. Quem passava por ele abanava e o convidava para alentar. Orgulhoso teve seus minutos de fama, posou para selfies e foi aplaudido. Os olhos dele brilhavam ao ver aquele rio tricolor que corria em frente a sua casa.

No primeiro ponto de revista – foram cinco ao todo – encontramos novamente o alemão que continuava com o seu alento. Não bastasse ele, conhecemos um turco. No meio da conversa dissemos a ele que tínhamos conhecido um alemão fanático. O turco foi taxativo:

– Não mais do que eu!

Era o Grêmio de Porto Alegre que encantava torcedores dos locais mais improváveis do mundo.

Quatro estágios depois adentrávamos ao estádio completamente tomado pela sua torcida.

https://photos.google.com/photo/AF1QipP3p7vjGRf4GseGTAkjSHuyl81ythRYwOqFGNza

A noite começava a cair e os refletores permaneciam desligados. Ocupamos o espaço na lateral do campo, uma linha reta até marca do pênalti. A hora estava chegando e uma mistura de tensão com euforia ia tomando conta de todos. É um sentimento único, difícil de explicar. Tu está no palco de uma decisão de Libertadores. Teu time está em vantagem e tu sabe que além da vantagem no placar somos muito superiores tecnicamente. Mas bate aquele sentimento de negação. Tu não quer admitir a superioridade, não quer zicar, não quer se iludir.

Na medida do possível, tá tudo indo bem, até que surge uma dúvida. Onde está a banda da Geral? Porque não entraram ainda? Provavelmente a direção do Lanús está dificultando a entrada. Sabe a força que uma banda tem e sabe a força da banda da Geral. O tempo passa e nada da banda chegar. Somos ruidosos, mas desorganizados, não tem ninguém para reger os mais de cinco mil tricolores.

E começa a partida. Desde o início é aparente a nossa superioridade, como era de se esperar eles se abririam um pouco mais para buscar o prejuízo e isso nos seria favorável.

O time está bem, mas ainda falta a nossa torcida se incendiar. Um olho no campo e outro na arquibancada atrás do gol.

Então surge um movimento diferente, as faixas começam a serem desenroladas de cima para baixo e presas ao alambrando. Liberaram a banda!

Um minuto depois a banda entra, se posta bem no meio da arquibancada, que se abre e forma um corredor para que ela suba e se posicione.

Chegou a peça que faltava. A banda começa a tocar e incendeia a arquibancada. Do outro lado a torcida do Lanús sente o golpe e se cala. Estão em casa, sim, mas o seu time é claramente inferior em campo e o alento adversário toma conta do estádio.

Do nosso lado cresce o sentimento de confiança, o gol é questão de tempo, ele vai vir, ninguém tem dúvida que ele vai chegar e vai ser no primeiro tempo.

E ele chega, e quando chega é como se jogassem gasolina na fogueira que já era a arquibancada. Fomos parar de comemorar uns três degraus abaixo de onde estávamos. Descemos pulando abraçados.

La Fortaleza se cala. Ao fundo do gol do Grohe uns duzentos torcedores, não mais do que isso, tentavam sem sucesso acordar os granates. E se Fernandinho jogou gasolina na nossa arquibancada, Luan jogou água gelada na deles.

https://photos.google.com/photo/AF1QipNnhGp4F1RpaWuzjIMR2tYduI9QocdomIx8MM_e

Descontrole formado. Estávamos abraçados na taça. Não ia ser fácil tirar ela de nós.

Veio o segundo tempo e o olho não saía do relógio. Relógio desgraçado que não andava. O raio do telão pifa e tu não sabe mais o tempo de jogo. Mas apesar disto o sentimento de vitória começava a tomar conta, se espalhava pelo corpo como um vírus.

Mas é Grêmio, né? E por mais que a gente confiasse, a saída do Arthur deu margem para eles crescerem em campo e abrir o placar. Não dá pra dizer que bateu o desespero, bem longe disso. Mas o coração aperta um pouco, não tem como não lembrar da virada que o River tomou. Isto até os quarenta minutos, aí tu vê que falta pouco tempo para acabar e que eles não tem condições de reverter. Até que acaba.

https://photos.google.com/photo/AF1QipOPLHWUQZKpW6tlLnUyqUhaJ5LeSFkT97mBDTJ9

Acaba o jogo e tu não sabe mais onde está, só sabe que não quer mais sair de lá. Quer congelar o tempo e ficar indefinidamente vivendo aquele sentimento.

Sandro Scotta – Binho Staudt – André Trento

 

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1 comentário

  • Rudi 4 de dezembro de 2017 - 12:26 Responder

    Show de relato. Representaste bem a nação que não pode ir. América é nossa novamente, está em ótimas mãos. Vamos pro bi mundial.

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