No início do ano olhei, apavorado, as partidas do Grêmio na Taça São Paulo de Futebol Júnior. Aquele torneio que nunca ganhamos que, anualmente, vem reeditando a máxima de que de onde nada se espera é de onde sai coisa nenhuma. O time do Parraga era de doer. Ganhou alguns jogos do seu grupo, mas conseguiu, em sequência, perder por duas goleadas: 3×1 para o Osasco e 2×0 para a Juventus, dando adeus ao torneio. Ali eu pensei que a base do time era uma merda. Gérson machucado, Misael se achando o Maradona, Gustavo de centro-avante, Yuri de segundo atacante. O quadro da dor.
Não acompanhei o estadual da categoria. Como quase todo o mundo, não tenho como morar no Olímpico (ou no CT de Eldorado) e só acompanho o time nas cada vez mais frequentes exibições pela TV. Após a derrota para o SCI na final, um monte de gente dizendo o que eu também pensei: a base era uma merda. O super Parraga, trazido pelo mega Biasotto, por sua vez trazido pelo Odono, foi demitido e o contestado Marcelo Mabília, cara da nossa própria base que acabou se destacando mais pelo Juventude, veio para o seu lugar. Tava no Novo Hamburgo, que não tinha sido assim tão forte no RS. Aí veio a Taça BH. E o bi-campeonato. Agora, a Copa do Brasil sub20. E estamos fortes. 25 jogos de invencibilidade é uma grande demonstração disso. Temos chance de abocanhar o segundo caneco em sequência e disputar DUAS Libertadores no ano que vem. O que não é pouca coisa.
Porém, aconteça o que acontecer, o destaque tricolor do sub-20 na nossa base, nesse ano, é só um: o Mabília. O que mudou de janeiro para novembro? Nos reforçamos? Até que sim, mas a base do time é a mesma. O time continua com os mesmos destaques: Misael e Gérson. O resto é monte de jogadores esforçados, aplicados taticamente e, acima de tudo, muitíssimo bem treinados. E aí está a grande diferença. O nosso time da base joga no 4-3-3 (sou ortodoxo quanto a prefixos, passou de três linhas não existe), com dois pontas abertos, geralmente o Calyson e o Gustavo, que sobem e voltam marcando os laterais, além de um centro-avante, o Yuri. Um meia, dois volantes que saem (onde o Misael é que tem mais qualidade para isso) e quatro jogadores de defesa MESMO, sendo que os laterais sobem de vez em quando.
“Ah, mas ele só trouxe o esquema que tem na Inglaterra e é o meu favorito no Playstation”. Não é o sistema o mérito do nosso treinador. É o simples fato de identificar que era esse o melhor esquema disponível para o grupo que tem. Sou capaz de apostar que qualquer um que subir (a não ser o Misael e o Gérson) vai ter muitas dificuldades. É capaz de ser mandado embora em um ano, como o Aloísio, que está sendo sondado para ir para o São Paulo. Mas juntos, como equipe, que é o que podemos ver hoje, são fortíssimos. O time do Grêmio é forte, com qualquer peça. E isso me deixa muito feliz.
Então, parabéns, Marcelo Mabília, o melhor treinador que vi no Grêmio nos últimos anos. E obrigado por devolver ao Grêmio a cara de Grêmio. Mesmo que no sub-20.
EDITADO: como bem lembrou o Eduardo Cecconi, que vive a base do Grêmio intensamente, base não é só o Sub-20. Então, seria muita injustiça dizer que o destaque da base é o Mabília. Mas, com certeza, é o destaque do sub-20, que é a camada da base que mais posso acompanhar. E, também, a que está na boca do túnel para entra para o time principal.