Grêmio Libertador

Com naturalidade: Grêmio 1 x 0 Cruzeiro

Quem tem, tem medo. No caso, quem tem o título do ano passado e a reputação de melhor time do país a defender. Sim: de repente, passamos de azarão vivendo de memórias e reminiscências a rei de copas e do elenco sensacionalmente equilibrado entre as pratas da casa e as contratações perfeitamente encaixadas em um esquema belissimamente treinado.

Enfim: quem tem, tem medo.

Então, duvido que estivéssemos supertranquilos às 21h45 do dia de ontem.

Porque sempre tem a ameaça dele, esta instituição do futebol, o gol de chiripa. Sim: ninguém poderia acreditar que um time do Mano partisse pra cima do Grêmio em plena Arena. Nosso único risco, de fato, era acontecer um gol sem ninguém querer.

Talvez este medo do sobrenatural tenha feito o Grêmio trabalhar em meia fase ontem – um primeiro tempo superior, mas sem nenhum massacre, e um segundo tempo facilmente administrado. Mas meia fase é o suficiente pra este time brilhar e espantar qualquer tipo de bruxa, duende, caipora, fantasma. Ou quase todas.

Digo quase porque, se não houve sobrenaturalidade nenhuma no ataque do Cruzeiro, Fábio foi sobre-humano naquela defesa. Depois de Cortez e Pedro Rocha criarem um bololô no lado esquerdo do ataque, Luan cruzou de maneira a dar inveja aos bretões para Barrios, no meio da área, cabecear forte e certeiramente. O goleiro cruzeirense deve estar, como nós, se perguntando como aquela bola não entrou.

Em seguida, Pedro Rocha tirou da sua cartola um drible para a galeria dos seus encantos e chutou de fora da área, como pouco faz (mas o tenteado é livre e a fase é boa). Lá estava Fábio de novo, espalmando de mão trocada para fora.

Até ali – e o primeiro tempo estava por acabar – o Cruzeiro parecia acreditar que a linha do meio campo funcionava como um portal amaldiçoado e raramente ousou cruzá-la. Numa dessas, nasceu naturalmente, sem sobrenaturalidade alguma, o nosso gol: Grohe repondo a bola com as mãos para Michel quase no círculo central, deste para Pedro Rocha na ponta esquerda, dele para Luan chutar para o gol, a defesa parcial de Fábio e Lucas Barrios fazendo o que esperávamos dele. Tocou para o gol vazio e correu para espantar de vez o frio na barriga e o receio do quem não faz, leva.

Do segundo tempo, talvez possamos lembrar um dia da pequena confusão do árbitro apontando o pênalti e marcando falta. E da defesa de Grohe, agigantando-se contra Raniel e fechando o gol aos 45 do segundo tempo para evitar o gol que a gente temia.

E certamente lembraremos dele tombando, mão na coxa, pedindo substituição. Dirão que se não houve gol sobrenatural do adversário, houve algum trabalho, reza braba, promessa ou maledicência para tirar Pedro Geromel do jogo de volta. E talvez tenha mesmo havido, pois apenas seres sobrenaturais devem ser capazes de pará-lo.

Em uma semana, teremos de espantar de vez toda e qualquer outra sobrenaturalidade. A lâmpada acesa pelo gol de Barrios deve nos guiar, sem medos, até a final.

Me abraça! (foto: Lucas Uebel/Grêmio FBPA)

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