Entendendo os boleiros

4 Postado por - 28 de julho de 2015 - Artigos
Fonte: Flickr oficial do Grêmio.

Fonte: Flickr oficial do Grêmio.

Ando num esforço pra tentar entender o que se passa na cabeça desses moleques que viram titulares muito cedo.

Pra mim, o melhor jeito de entender é se botar no lugar do outro. Não parece justo?

Imaginemos, hipoteticamente, que eu não tenha fracassado como goleiro da escolinha do Grêmio (sim, um dia eu joguei bola, me lesionei num treino e machuquei as mãos, por isso acabei largando e fiquei só com a música).

Imagino que com uns 16 ia começaria a ter viagens e tal e coisa. Uma graninha pouca no bolso, pq não ia dar pra trabalhar. Com certeza não ia pra faculdade. Treinos, jogos e viagens iriam ser minha rotina. Nesse processo iria acabar ficando cada vez mais distante da família e mais próximo do time, da galera do vestiário. E, como em qualquer grupo, quando um tem uma ideia cretina todos acabam embarcando. Jogo em Caxias, balada com a galera, retorno pro hotel antes de sair o busão de manhã. E assim consecutivamente.

Como teria que estar em forma, a ressaca ia ser pequena. Essa rotina não me faria mal.

Nesse momento imagino que o sonho de todos seja o time profissional, a tendência é idolatrar o way of life da turma do profissional. “Tu viu o carrão do fulano?” Tu ficou sabendo da zona que o cicrano aprontou no hotel?” Por aí…

Daí (sons de trombetas) aconteceria o tão esperado convite para treinar com os profissionais. Cacete, imagina a felicidade. Imagina a comemoração? Pois é…

Treino vai, treino vem e… jogo. Batismo de fogo.

Onde ficaram os meus valores? Lá atrás, a essa altura eu já pagaria as contas da casa, ninguém mais mandaria em mim. Eu sei o que eu faço. 

Quem tem moral pra me cobrar qualquer coisa? Só estou seguindo o que os outros já fizeram.

Daí um dia meu rendimento cai. A imprensa critica. Mas a garrafa e as maria chuteiras não me criticam, então é pra lá que eu vou…

 

É muito fácil se perder, me parece que estamos retroalimentando uma situação que se torna cada vez mais insustentável. Cada vez mais difícil formar craques com fibra moral.

Mas, sempre tem uma mas. Tem a máxima: não fuma? não bebe? não deve jogar também…

 

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2 + comentários

  • Rafael 28 de julho de 2015 - 19:48 Responder

    É fácil se perder pra quem nunca teve no caminho, começou a jogar só pra ter fama…
    Quem entrou no futebol como forma de PROFISSÃO, pra ajudar os pais, pq era realmente talentoso e quis se aproveitar disso [pq não? forma legítima de ganhar dinheiro…] Esses não se perdem…

    Uma coisa é parar a cada “motel” de beira de estrada, outra coisa é sair dela…

  • mano 29 de julho de 2015 - 10:10 Responder

    Gente, futebol só é paixão para o torcedor. Pra jogador, futebol é grana.
    Por isso é tão fácil de entender e difícil de aceitar os boleiros.
    A gente trabalha o mês inteiro e bota uma grana no clube do coração pra um bosta que não cresceu amando esse clube, não sabe o que é isso e não tem ambição nenhuma pelo clube, tem ambição pessoal que é fechar um bom contrato e ir o quanto antes pra Europa. Isso dá raiva.
    Mas o jogador vê o torcedor como a gente vê nosso chefe, pra maioria um babaca arrogante que paga meu salário no final do mês.

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