Grêmio Libertador

Eu Não Quero Ser Chato.

Uma das coisas que eu me lembro do começo da minha jornada como gremista, ainda na primeira metade dos anos 70, é da reclamação constante das pessoas nas cadeiras do Olímpico (naquela época, meu pai tinha duas perpétuas que, com o tempo, acabaram não sendo assim tão perpétuas).

Tá certo que era um tempo em que eles ganhavam tudo e nós não ganhávamos nada. Mas eu achava as reclamações um saco, apesar de ter apenas 4 anos. Eu gostava do Grêmio, gostava da camisa, e via o time ganhar. Pra mim tava bom, muito bom.

Depois vieram os anos de títulos e a corneta acalmou. Hoje, onze anos depois do nosso último título nacional relevante, dou graças a Deus por morar longe e ir muito pouco ao Olímpico (desde que vim para SP, em 2010, só estive duas vezes no Casarão: na última partida do Silas e agora, contra o São Luiz e no GREnal). Porque se eu fosse ao Olímpico, meus amigos, ia ficar muito de cara com os chatos que nós, gremistas, voltamos a ser.

Quer saber por quê?

Porque a gente vive numa merda do caralho há anos e não consegue mais ficar feliz com o nosso time.

Não tô dizendo que o jogo foi bom ontem. Porém ganhamos, classificamos e deveríamos comemorar. Mas todo mundo só reclama. Começamos perdendo, precisamos de zagueiros, o Victor falhou no gol (bobagem), o Marco Antônio é um merda (mentira), o Leo Gago fez um gol na sorte, o time jogou mal, blá, blá, blá.

Não tô querendo defender o Marco Antônio, nem o Leo Gago, nem o Werley, mas vou dizer uma coisa pra vocês: foda-se.

Porque o que interessa é ganhar, classificar, ter a chance de conquistar um título relevante. E com o resultado do jogo de ontem, ou muito me engano, ou estamos na segunda fase da Copa do Brasil. Se estamos na próxima fase, diminuiu o nosso caminho para o título. E se, para ganhar esta porra, tiver que ser ganhando de 1 x 0 e levando sustos, que seja. Nossa história é assim. O próprio Felipão dizia que as vitórias do Grêmio eram o parto de uma bigorna, lembram?

Mesmo os times do Grêmio que foram campeões desde que eu comecei a acompanhar o nosso Tricolor, e que hoje são lembrados com saudade, nunca ganharam nada convencendo a torcida o tempo todo.

O time campeão brasileiro de 81 levou olé no Morumbi na segunda fase antes de ter aquela fotografia da final. A solução, naquela época, foi apostar na gurizada, porque tudo parecia perdido depois do sacode que levamos dos bambis. Neste mesmo ano, perdemos o segundo jogo da semifinal para a Ponte Preta com o Olímpico ultralotado. E começamos perdendo no primeiro jogo da final. Mas deu tudo certo no final.

O time campeão de Libertadores de 83 levou 3 x 1 da Ferroviária de Araraquara no Olímpico e saiu do Brasileirão, depois perdeu para o América, em Cali no triangular seminifinal e dependeu do resultado entre América x Estudiantes para chegar à final. A gente teve que torcer pelo rádio, porque só passavam os jogos do Grêmio naquele tempo. E a final não foi moleza. Meu pai e eu já estávamos com tudo certo para ver o terceiro jogo, que seria na Argentina, quando o Renato fez aquele cruzamento louco e o César se atirou pra guardar.

O nosso Mundial podia ter sido bem menos sofrido se o time não tivesse chamado o Hamburgo pro nosso campo até eles empatarem.

A final da Copa de Brasil de 94 foi quanto mesmo? Ah, 1 x 0 contra o Ceará no Olímpico, um resultado bem apertado.

O time campeão de Libertadores de 95 começou levando 3 do Palmeiras e empatou com o Verdão num jogo pavoroso no Olímpico na primeira fase, sem contar aquele 5 x 1 que nos classificou contra o mesmo Palmeiras, e que seria mais, se o jogo durasse mais dois minutos. Nesta mesma Libertadores, depois de ganhar o primeiro jogo da final por 3 x 1, o Beto, o Rafa e eu descíamos completamente bêbados e felizes a rampa das cadeiras laterais enquanto a galera reclamava do placar. E nós que mandamos o povo se fuder e começamos a gritar bi-campeão.

Levamos 2 x 0 da Portuguesa no primeiro jogo da final do Brasileirão de 96, empatamos em 0 x 0 e 2 x 2 com o Flamengo na final da Copa do Brasil de 97, largamos com 2 de desvantagem no primeiro jogo da final de 2001, em casa, contra o Corinthians.

Ou seja: desde que eu acompanho o Grêmio, nunca foi fácil pra nós. O problema é a memória seletiva, que faz lembrar da foto com a faixa de campeão e esquecer do que aconteceu até chegar a ela.

Mais uma vez, não tô dizendo que temos um baita time, ou que seremos campeões. Mas acho que dá pra acreditar e que a hora é de jogar junto com os caras que estão vestindo a camisa do Grêmio, porque é com eles que a gente vai contar no Gauchão e na Copa do Brasil.

Talvez por estar longe de casa, as coisas pra mim têm outro sentido. Sinto-me cada vez mais gremista, mais apaixonado pelo nosso manto. Sinto cada vez mais gana de voltar a comemorar um título mas, se não der, não vou me privar de saborear uma vitória.

Os morangos levantam o nariz e tentam nos ridicularizar? Fodam-se. A imprensa imparcial pisa em nós? Azar. Odones, Dudas, Cacalos e Pelaipes da vida são uns merdas. Não tô nem aí.

Eu não vou cair no joguinho deles e me voltar contra o time que eu amo. Eu não vou sentir vergonha de ser gremista, nem me sentir menor do que os torcedores de nenhum outro time.

É uma escolha que pouca gente anda fazendo. Talvez porque seja mais fácil mostrar os defeitos. Talvez pra se proteger, porque é melhor dizer “eu te disse” do que ouvir.

Mas eu não comecei o Grêmio Libertador pra chorar nas derrotas, ou pra inflamar leitores contra a instituição que eu amo. Isto aqui começou como um bunker pra defender a paixão pelo Grêmio e, sempre que eu escrever aqui, vou continuar usando o espaço com o mesmo objetivo.

Meu conselho pra você hoje, amigo gremista, é um só: comemore a classificação e se prepare pra um jogo difícil contra o Cruzeiro no domingo. Orgulhe-se do seu time que não perde desde que mudou de treinador. Mande qualquer colorado que tente falar mal do nosso time tomar no seu devido cu. E lembre aos seus amigos gremistas que estão desesperançados que torcer pelo Grêmio é a coisa mais próxima da vida real, onde o normal é se dar mal e cada passo certo na direção de alguma coisa boa deve ser comemorado.

De minha parte, prometo que não vou mais ser um chato vestindo azul, preto e branco.

Dá-lhe, Grêmio!

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Muito obrigado ao André Kruse, que me corrigiu numa besteira que escrevi sobre 83. Tá arrumado, irmão.

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