Grêmio Libertador

Falta de Arthur: um lugar comum

Arthur é um excelente jogador. Tão bom que vai jogar no Barcelona na esperança de substituir uma lenda dos meio campos mundiais que saiu do seu lar para o Japão. Arthur fez falta pra Seleção Brasileira por pura bruxisse do treinador. Arthur faz falta pra meio mundo que conhece ele e vai fazer falta pro outra metade do mundo que for assistir ele jogar de azul grená. Então, dizer que o Arthur faz falta para o Grêmio é um lugar comum dos mais rasos. O grande problema, pra mim, é querer agora dizer que todo o problema do Grêmio é falta de Arthur.

Não foi embora porque não era mais importante, mas saiu porque não somos mais dependentes dele como em 2017. Foto: Lucas Uebel/Grêmio Oficial (Via Flickr)

Ontem o Grêmio fez outro jogo fantástico, agora contra o São Paulo. O time que tinha acabado de vencer o Flamengo fora de casa veio pra vencer da gente aqui. Como fazer isso? Aguirre tentou fazer o mesmo que o demitido Roger Machado fez: pressão na saída de bola enquanto o time aguentasse e contra-ataque depois. A diferença dos dois jogos foi apenas o gol: se não tomamos dos palestrinos, levamos dos tricolores. Logo no início, logo numa falha de um dos melhores zagueiros da história do Grêmio.

Depois daí, eles ainda fizeram alguma pressão e tiveram um chute muito bem dado pelo Nenê, pra fora (mesmo assim, essa em contra-ataque). Mas o Grêmio se assentou no campo principalmente à partir de uma grande partida do melhor jogador do Grêmio em 2018: Maicon. Mesmo com marcação forte do São Paulo ele conseguiu aumentar a velocidade do passe e, assim, cansar o time adversário, que começou a ter três jogadores chegando nele sem encontrar nem o cheiro da bola nos seus pés. No fim desses primeiros quinze minutos o Grêmio tinha 59% de posse de bola. Lá pelos 40 minutos do primeiro tempo já andava com 79%. E o São Paulo tinha perdido totalmente o controle da partida, restando apenas o contra-ataque.

Cícero não joga nem 1/3 do que o Arthur joga. Mas nos dois jogos contra esses paulistas, um com e outro sem o Arthur, o Grêmio só esteve bem enquanto o Maicon esteve bem. No segundo tempo da partida de junho o nosso meio campo saiu por lesão e o Grêmio não voltou a repetir um bom jogo até o seu retorno contra o Atlético Mineiro, já depois da Copa. Mesmo tendo o Arthur em campo na maioria desses jogos. Porque não é a característica do Arthur que mais faz falta para o Grêmio de 2018: é a característica do Everton, a bola em velocidade no 1×1. Viramos o jogo exatamente assim ontem, enquanto perdemos o jogo contra o Palmeiras sem isso.

Temos o terceiro melhor saldo de gols e um dos piores ataques da competição. Média de 1 gol por jogo. Com Everton é importante a ligação direta, a bola longa do meio. Exatamente como o Maicon fez para o nosso primeiro gol. E é como o Cícero pode contribuir (já mostrou isso com o Alisson em algumas oportunidades). Com o Marinho entrando de vez no time (talvez no ano que vem, que é o tempo que leva geralmente pra quem tá no exterior se adaptar) é provável que tenhamos esse tipo de bola nos dois lados do campo. Uma festa pra quem costuma lançar bolas em profundidade com qualidade. A tendência é para um protagonismo ainda maior do Maicon e uma melhora no quanto o Cícero vai contribuir. O único jogador no plantel do Grêmio que pode suprir a ausência do Maicon tanto nessa bola longa quanto no toque rápido e certeiro é o Douglas. E eu espero que ele volte ao ritmo de jogo o quanto antes para que não caiamos tanto de rendimento sem o capitão em campo.

Então, sim, nós sofremos e sofreremos a ausência do Arthur. O cara é craque e vai fazer muitíssima falta. Mas o motivo pelo qual o time do Grêmio sofre nas partidas em 2018 não é falta de Arthur. É a falta de gols. E precisamos transformar um pouco o modo do Grêmio jogar para fazer com que nossos atacantes possam render o seu máximo. Hoje, com o que temos de titular (André, Luan e Everton), a bola precisa chegar com menos defensores em cima deles. Pra fazer isso a bola tem que ser mais rápida e, muitas vezes, mais longa. E nisso o Arthur não contribuía tão decisivamente. Esse ano o Grêmio aplicou quase todos os placares mais dilatados desse ano do meio para o final dos jogos, quando o cansaço do adversário deixava o 1×1 mais fácil para os reservas. Arthur ajudava o time deles a cansar correndo atrás da bola, mas a exigência da Série A é bem maior que a do Ruralito. Já não somos mais dependentes do cara como éramos em 2017. Então, já foi, já chega. Vamos mudar de página e começar a elogiar ou criticar o Grêmio pelo que ele anda fazendo?

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