Escrever estas breves crônicas sobre os jogos do Grêmio tem sido cada vez mais difícil. E não é só a reforma trabalhista, o preço do tomate, o ressurgimento do neonazismo, a internet que não funciona, enfim, a vida me atropelando tal qual um Jael voltando pra marcar. É que tem dias que me faltam palavras pra descrever o que estamos presenciando desde o segundo semestre de 2016.
Assim que, hoje, eu talvez tenha que resumir tudo a uma palavra que considero já meio gasta nestes tempos de “mais amor, menos qualquer coisa”. E esta palavra é GRATIDÃO.
Sou grata por não ter desistido de assistir o jogo no final do primeiro tempo. Era tão chata a evidente disparidade entre o Goiás e o Grêmio, tão chata a economia do tricolor em campo por conta disto, que dava vontade até de levantar e ir lavar a louça. Mas não fui e agradeço à tricoloridade que me habita. Só assim foi possível entender que não era avareza, mas parcimônia o que o Grêmio praticava nos primeiros 45 minutos no Serra Dourada.
Sou grata, portanto, por este time que joga cada partida a seu gosto (e sou grata, também, por ter topado com esta feliz definição do colega Carlos Guimarães).
Sou grata por Ramiro, este pequeno imenso homem que ocupa todos os espaços do campo. Só este noite, foi ponta direita, lateral e zagueiro — e não se duvide que tenha entrado no vestiário recolhendo uniformes como um roupeiro e chegado no hotel fazendo as vezes de coordenador de delegação, não sem antes promover a paz mundial.
Sou grata por podermos passar um jogo inteiro sem nem perceber direito que o Madson estava na lateral e, mesmo assim, não querer jogar cadeiras nas paredes.
Grata porque é possível haver disputa entre dois jogadores do Grêmio para bater um pênalti. E o pênalti ser convertido para consolidar a vantagem já na ida.
Grata porque foi só um corte feio no supercílio do Kannemann, a quem já nem sei mais como agradecer pelos serviços prestados.
Grata por não cair do sofá de bunda no chão e praguejando quando o técnico tira um zagueiro pra deixar uma linha de três defensores e cinco atacantes. E muito grata por saber que isto só é possível porque existe Pedro Tonon Geromel.
Sou grata acima de tudo por Éverton. E como não tenho palavras para explicar o que ele fez ao abrir o placar, apenas CLIQUEM AQUI.
Por fim, sou grata simplesmente por estar viva e ser gremista neste momento. Que nem sei quanto durará e, talvez por isso mesmo, seja importante registrar tantas vezes esta gratidão.
(E como o texto me saiu meio como oração, peço um minuto de silêncio por aqueles que já não estão entre nós.)