Há 3 anos….

1 Postado por - 9 de agosto de 2018 - Artigos

Quando eu tiver um filho, pretendo um dia contar à ele (com expressão brava da mãe dele) que em 09 de agosto de 2015 o Grêmio venceu um grenal por 5 x0. Se ele me devolver um olhar incrédulo e um par de olhos arregalados, seguido da vozinha fina me perguntando; sério pai?, vou compreendê-lo. Eu estava lá, eu vi, e ainda hoje tenho minhas dúvidas se de fato isso ocorreu.
Aquele agosto em nada serve de comparação ao deste ano. O calor tomava conta do inverno Gaúcho e aquecia discussões sobre o tal aquecimento global, além de nos forçar a usar nada além da camiseta tricolor para ir ao estádio, como comprova a capa do jornal do dia posterior.

Clássicos são em sua maioria partidas duramente negociadas, com vantagens pequenas de parte à parte, não raro terminando em empate, mais por medo de perdê-lo do que vontade de vencê-lo.
Aqui na província sulista não haveria de ser diferente, com os grenais anteriores seguindo a regra da dieta de gols. No entanto, alguma coisa estranha vinha se esgueirando por dentre as travas altas das chuteiras dos volantes e zagueiros mais brucutus. Uma faceirice bizonha, quase carioca, sorria de soslaio ao lado do gramado, como que aquecendo-se ao longo da partida. Tal devaneio deu as caras em 2014, quando cada um venceu o adversário por 4 x 1. Naquele ano os detratores do futebol defensivo escancaram gargalhadas com suas bocas cheias de dentes bem alinhados e brancos, crendo terem atingido seu auge. Dois clássicos terminados em goleada, dois 4 x 1. Acima disso apenas o céu cheio de virgens, charutos e bons whiskies. Estes não faziam a menor ideia do que os aguardava.
Já contei aqui que minha estreia no Olímpico foi no grenal dos 5 x 2. Nunca esquecerei o fato, e sinceramente achei que nunca vingaria tamanha frustração. Felizmente eu estava errado.

Naquele agosto do desgosto colorado, o Inter começava um relacionamento com a série B. Seu treinador era o uruguaio que hoje chefia o São Paulo, neste momento líder do Brasileirão, Diego Aguirre. Aguirre era um comandante muito questionado nas bandas da beira do Guaíba por conta de seu rodízio de jogadores. Boa parte da torcida vermelha e da imprensa esportiva não entendiam porque ele não repetia a escalação em dois jogos seguidos, mesmo tendo os atletas à disposição. Embora tenha sido campeão Gaúcho daquele ano, o time de Aguirre não convencia nem deslanchava.

Foi então que a direção colorada aquieceu à opinião da torcida e convenceu-se que seria preciso outro treinador para o resto do ano e do brasileirão. O detalhe é que decidiram fazer isso TRÊS DIAS antes do grenal, sem ter outro técnico previamente contratado. Atiraram o na época interino Odair Hellman na casamata como romanos atirando cristãos aos leões. Acreditaram no famoso fato novo como gerador motivacional ao grupo para a partida que se avizinhava. Estavam certos. A novidade de fato deixou os atletas estupefatos; de uma forma que eles nunca esquecerão.
O interino, à época sem D’Alessandro e com Anderson (Andershow), juntou todos os defensores que tinha no elenco (entre eles Réver) e mais alguns que encontrou na rua e fez o mesmo que fizeram com ele, atirou aos leões. Não esperava tamanho apetite da alcatéia.  Ninguém esperava.
Quando aos 10 minutos da partida Douglas perdeu um pênalti, os diretores colorados devem ter sorrido o sorriso do alívio, o sorriso do adolescente que vê o sinal de negativo no teste de gravidez da farmácia. Aos 34 Giuliano os lembraria que as regras estavam atrasadas. Aos 42 Luan decretou que não tinha jeito, teriam de contar à família. E havia todo um segundo tempo pela frente.
Logo aos 3 minutos Luan novamente lhes entregou os primeiros boletos. Àquela altura ninguém m ais sabia quem era o pai da criança. Ninguém de vermelho queria assumir a paternidade de tamanho ultraje.
Este momento talvez tenha sido o ponto em que eu e toda torcida tricolor tenhamos nos dado conta que sim, poderíamos ainda nesta vida vingar aquele 5 x 2. A partir deste gol a arquibancada, ao invés da tranquilidade adquirida com o placar, passou a incentivar, quase exigir que o time buscasse mais gols. Marcelo Grohe passou a ser quase xingado ao protagonizar sua tradicional cera. O Inter estava atordoado, e a torcida sabia disso.
Aos 27 minutos Fernandinho substituiu Pedro Rocha. Foi como uma sequência de socos em um boxeador cambaleante, que tombaria pela primeira vez aos 30, com o próprio Fernandinho driblando o goleiro. Eu urrava na escada do último anel de arquibancadas, implorando um quinto gol.

E ele veio, aos 38 minutos, cortesia de Réver, em nova jogada de Fernandinho. O boxeador estava na lona, e dali não sairia. O bucho do céu se abrira. As virgens todas se derramaram sobre o gramado da Arena. A torcida gremista refestelou-se em bálsamo envelhecido em carvalho por 17 anos. Meu filho nunca que vai acreditar nisso.

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