Grêmio Libertador

Histórias da Carochinha – I

Odone assumiu o Grêmio pela segunda vez em 2004, logo após o time ser rebaixado. E faz questão de dizer que, se não fosse ele, o Grêmio poderia não ter voltado, porque ninguém queria segurar a bronca. Consta como seu maior feito a Batalha dos Aflitos. Bem, vou aproveitar esse espaço para mostrar alguns episódios que nos levaram até aquele confronto épico do dia 26/11/2005. Aquilo que, de motivo de vergonha, passou a ser de orgulho por vencer um jogo com apenas sete jogadores em campo (ao invés de alguém se “machucar” para o jogo acabar, como é prática em outros times da cidade). A ideia aqui é mostrar que esse discurso, que sempre aparece nas derrotas, é uma mentira bem contada e precisa ter alguns pontos esclarecidos. Os três posts dessa série são um apanhado da nossa história recente eleição de 2004 e o retorno à Primeira Divisão.

A eleição

A memória de muitos torcedores lembra que depois do vergonhoso rebaixamento de 2004, com algumas rodadas de antecipação, Paulo Odone foi o único que se candidatou para ser presidente. Certo? Aqui está o primeiro ponto que devemos ver. Na verdade, enfrentaram o pleito três chapas: a de Paulo Odone (que saiu vencedora); a de Adalberto Preis e, finalmente, a de Antônio Vicente Martins. Para quem gosta de acompanhar os movimentos internos do Grêmio, recomendo fortemente que dê uma boa lida nas listas das chapas da época. Muita gente trocou de lado nesse tempo. Porém, de certa forma, Odone tem razão em afirmar que “ninguém queria” o tricolor. Depois de uma grande demora na composição das chapas, houve uma tentativa de consenso em torno de uma candidatura de “oposição”. Quando todos os gremistas clamavam seu retorno, Fábio Koff preferiu sugerir que Preis fosse o candidato – o que, pela função na presidência Obino (era vice de finanças) não agradou. O grupo rachou e, depois disso, o nosso “ex-presidente midas” preferiu se abster e não apoiar grupo nenhum, se fechando no seu Clube dos 13. Desse racha, Odone se lançou candidato contra Preis, conseguindo o apoio de, entre outros, José Alberto Guerreiro. O “ninguém” de Odone é, a meu ver, um ataque direto a Koff, que não quis concorrer quando era considerado o único capaz de ajudar o Grêmio naquela hora.

A eleição se deu em dois turnos, sendo o primeiro no Conselho Deliberativo. Neste foram qualificados Odone e Preis, sendo que o último foi vencedor com 136 votos contra 100. Vicente Martins ficou com 27. Depois disso, seguiu o show de horrores das acusações entre os candidatos para ganhar os votos do sócio que, pela primeira vez, podia decidir os rumos do Grêmio. Preis tinha que se defender das acusações de ser da “situação” – ou seja, de um time medíocre que perdeu 25 jogos (um turno inteiro e mais duas partidas) na temporada. E a sua defesa não foi nada bonita: não estava no futebol, logo não fui eu.

Já Paulo Odone teve atacada principalmente a sua vida política, com seu oponente afirmando que ele não teria tempo para se dedicar ao Grêmio e que, provavelmente, concorreria em 2006 para deputado estadual usando o Grêmio como pilar. Odone não disse que não ia concorrer e essa era, na verdade, uma situação muito interessante. Porém, pelo seu momento político, muito improvável. Depois de duas eleições seguidas para Deputado Estadual (em 1994 e 1998),  enquanto contava com a máquina partidária do PMDB, acabou brigando dentro do partido e indo para o PPS com a saída da ala Fogacista. Como nome forte em seu novo partido em 2002, lançou-se no pleito para Deputado Federal, conseguindo apenas alcançar a suplência. Sem destaque político desde então, decidiu novamente vincular a sua imagem ao Grêmio (como fez o Brasinha) e conseguiu ser eleito vereador em 2004 com 8 mil votos.

Quase três mil sócios se reuniram na assembléia que referendou a chapa de Odone com uma vitória esmagadora: 1469 contra 901. Discursando já logo depois da apuração, fez diversas promessas de novos tempos, como um “time guerreiro” e a contratação de jogadores que acreditassem na vitória – já que, como sempre, para a média dos torcedores, o que mais faltou para o time de 2004 foi raça. A posse oficial ficou acertada para o dia 23 de Dezembro, dando tempo para iniciarem-se os trabalhos para 2005.

Em 2006 a “profecia” de Preis se cumpriu. Como sócio, fui um dos milhares que recebeu um texto no celular, diretamente do cadastro do Quadro Social gremista, com quase exatamente essas palavras: “Eu já ajudei o Grêmio. Agora é a tua vez de me ajudar”. Depois desse apelo, Paulo Odone foi o segundo mais votado do pleito com 83 mil votos no estado (perdendo só para o Paulo Borges), sendo quase 36 mil votos só em Porto Alegre (ver página 13). Só para comparar, em 98 ele teve 38 mil votos e, em 2002, 54 mil votos para Deputado Federal divididos pelo estado inteiro.

Com base nisso, fica a pergunta: quem ajudou quem mesmo?

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