#Libertadoras: Um sentimento chamado – Grêmio

3 Postado por - 10 de março de 2016 - Artigos, Libertadoras

Por Talita, de Chapecó-SC

Quando criança enquanto o sonho de minhas coleguinhas e primas era se tornar paquita, eu só queria poder entrar em campo com meu irmão de mãos dadas com o Danrlei, nosso ídolo da infância que permanece até hoje.

Sou do oeste de Santa Catarina, nunca tivemos condições financeiras para ir a um jogo quando eramos pequenos. Mas era um sonho imaginar a cena, o Olímpico lotado, o nosso ídolo Danrlei. Até hoje ainda sinto um frio na espinha quando imagino a cena.

Meu pai sempre foi um fanático torcedor, daqueles malucos mesmo. Perdi as vezes em que ele ficou sem voz e chorou vendo nosso Grêmio em campo. Tem algo magico em torcer para um time de futebol, eu via o brilho nos olhos do meu pai assistindo aos jogos e aprendi a amar esse esporte e principalmente esse clube.

Mesmo a distancia sempre acompanhávamos o tricolor, quando o jogo não passava na TV acompanhávamos no radio, lembro de imitar as locuções do pessoal da Guaíba, narrar os gols sozinha no quarto e me sentir muito plena com isso.

As minhas melhores lembranças da infância estão relacionadas ao Grêmio, quando a gente ganhava algum título, saíamos nas carreatas pela cidade, o Fusca do meu pai comportava facilmente 20 pessoas hahaha. Era vizinho do lado, da rua debaixo, da rua de cima, era uma festa e era muuuito bom fazer parte daquilo.

Na minha rua eu era a única guria, nunca tive problemas em gostar de futebol ou de brincadeiras relacionadas ao universo dos guris. Não fui criada como um “guri” eu fui criada de igual pra igual. Se meu pai comprasse uma camiseta do Grêmio pro meu irmão, eu também ganhava. Se ele ganhasse uma touca do Grêmio, eu também ganhava. Eu pude escolher gostar de futebol, em casa nunca ninguém me disse que assistir a um jogo não era coisa de menina.

Fora de casa a realidade é outra pra mulher que gosta de futebol, desde pequena fui hostilizada, no colégio, na faculdade, na rua, no trabalho. Como assim uma mulher que quer discutir futebol? Como assim uma mulher que quer ir a um jogo de futebol sozinha?

Usar a camiseta do clube e sair na rua pra qualquer homem é algo normal, pra uma mulher é como deixar um recado para os idiotas “estou disponível para qualquer comentário sobre o que você faria com uma “gremista””.

Não somos o publico alvo do mundo do futebol, somos colocadas pra escanteio nos meios de comunicação, nem mesmo se investe no futebol feminino no país. Mas cara, quem foi mordido pelo bichinho do futebol não desiste, não larga. Quem é apaixonado por um clube o quanto sou pelo Grêmio ultrapassa todos os tipos de preconceitos pra poder acompanhar o clube, ignora comentário de idiota, finge que não viu o olhar de julgamento, desvia de retardado assediador na rua, aguenta os 600 km até Porto Alegre com motorista fazendo piadinha machista a cada parada do ônibus, mas chega no estadio, mas chega no bar, acompanha e alenta aonde for.

Sempre fui muito tímida e tenho poucos amigos, quem não me conhece pelo nome, costuma saber ao menos uma coisa sobre mim: ela é gremista. Já perdi as contas de quantas vezes fui identificada assim, “a gremista”, mesmo sem estar usando nada do Grêmio. E eu tenho muito orgulho disso, porque se tem algo que eu sou e sempre serei: é gremista de alma e coração!

“O grêmio é um sentimento

Que se leva no coração

A vida por toda a vida dale campeão

Dale daleooo, dale daleooo, dale daleooo”

Talita - Arquivo pessoal

Talita – Arquivo pessoal

Este é o primeiro texto recebido no convite que fizemos às mulheres no dia 08 de março: vir aqui e compartilhar com a gente o que quisessem. Até o dia 31/03 nós seguiremos postando todos os textos enviados por mulheres sobre o tema que elas quiserem. Te convidamos a participar. As regras estão no fim do texto.

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