Grêmio Libertador

Mais respeito com a torcida mista

Casal na torcida mista (Foto: Cristina Charão)

A torcida mista é a coisa mais importante que aconteceu com o Grenal nos últimos anos (tirando o 5×0, mas isso aí é só pra quem pode, não pra quem quer hahahahahahahaha).

Diria mais: é uma das coisas mais importantes que aconteceu com o futebol nacional. Algo que pode fazer frente à relação trouxa, truculenta, animalesca, violenta, babaca, escrota que uma parte pequena das torcidas mantém com o futebol. E pode fazer isso justamente porque prioriza a parcela da torcida que quer ter uma relação digna, saudável, amistosa, amorosa, respeitosa e nenhum pouco menos corneteira ou divertida com o futebol.

Só que aí, pessoal do Grêmio, tem que priorizar mesmo. MESMO. O que não custa quase nada. Talvez uma ou, no máximo, duas horas a mais planejamento e meia dúzia de telefonemas.

Vejam só: o esquema montado para a torcida mista é chegar até as 14h no DC Navegantes e aguardar para ser transportada em ônibus especiais até a Arena. (Eu já acho uma pena a gente ter de ir de ônibus e não a pé, mas aí o papo é a nossa transferência para o Humaitá e a conversa fica comprida demais…) No fim do jogo, aguardar a saída da torcida do Grêmio para deixar o estádio, antes da torcida rival, entrar nos ônibus estacionados na descida da rampa leste e voltar ao DC Navegantes.

Mesmo que eu sonhe com o dia em que não seja preciso um esquema de segurança pra separar torcidas e acredite que a mista seja o primeiro passo pra isso, ok, vamos lá, se é assim que tem de ser. Só que, fora esta preocupação com a segurança, o resto dos cuidados com a torcida foram: zero.

Não dá pra deixar os torcedores duas horas inteiras fazendo fila sob o sol no DC Navegantes esperando pra pegar um ônibus às 16h. Tinha muito idoso, muita criança, justamente porque a torcida mista tende a acolher estes públicos que, de outra maneira, ficariam reticentes ou nem iriam a um Grenal. Se foi sofrido pra mim, imagina pra um senhor de 73 anos e uma criança de 7 – meus acompanhantes.

A mista é uma torcida acolhedora. Tem de ser ainda mais. (Foto: Cristina Charão)

E vejam só como seria simples resolver o problema: o shopping estava aberto. Tinha praça de alimentação, locais mais sombreados, restaurantes pra quem ainda não tinha conseguida almoçar. Se a gente chegasse e recebesse uma senha pra entrar no ônibus, ninguém ia se preocupar em ficar 2 horas em uma fila. Qualquer pessoa poderia ter recortado quadradinhos de papel e escrito “Ônibus 1 – n.1, 2, 3…42”. Simples. Rápido. Nada impossível.

(A propósito: não vi NINGUÉM identificado como representante do Grêmio ou da Arena. Nenhum funcionário. Nada. Ninguém se dirigiu à torcida dando boas vindas. Apenas seguranças, que eu nem sei se eram do shopping, da empresa de ônibus contratada ou sei lá daonde, tentavam organizar a bagunça.)

Outro detalhe: os ônibus estavam estacionados na Voluntários da Pátria desde as 14h. Às 16h, quando o trânsito para chegar na Arena já estava a milhão, a EPTC fechou a avenida para o comboio da mista. Tudo muito bem planejado, acredito, pra que o torcedor que queria chegar ao estádio AME a torcida mista um pouco mais, não é mesmo?

Novamente, vejam como seria simples e VANTAJOSO: se nos levassem mais cedo para a Arena, esperaríamos de boa, na sombra, conversando, tomando um refri a mais. Aliás, poderíamos papear ali na Esplanada e beber cerveja e interagir com o “público comum” do Grenal.

Bem verdade que houve estúpidos, babacas, escrotos que se puseram a gritar impropérios contra a torcida mista na nossa chegada, mas certeza que a acolhida generosa seria maior do que a imbecilidade. Além disso, mostrar a cara da torcida mista pra mais gente é reforçar o papel que ela tem de ter, de reeducar e transformar o clima bélico extracampo do clássico. Botar uma música, fazer festa, mostrar que o Grêmio se importa com esta iniciativa.

(Aliás, o único momento divertido da espera no DC Navegantes foi a participação de 20 minutos da Banda da Brigada Militar.)

Na volta, ficamos mais de uma hora dentro da Arena, esperando que alguém (A direção da Arena? A Brigada Militar? A EPTC?) liberasse a saída da torcida mista. Como de praxe, as lojas de comida e bebida fecharam antes do fim do jogo. Ou seja, ninguém pode ter fome ou sede. Quem sabe devemos agradecer por deixarem os banheiros abertos?

E pra coroar o supra sumo do planejamento (parabéns, BM e EPTC), a saída da maioria dos carros dos torcedores do DC Navegantes foi cronometrada pra se encontrar com o bloqueio da Voluntários da Pátria para a saída da torcida do rival. Mais uma vez, esperamos.

Eu e meus parceiros (pai, filho e sobrinho) conseguimos tomar o rumo de casa às 21h.

Fomos todos pacientes. Só que paciência tem limite. E ela acaba de vez com time que não tem meio campo, não faz gol em rival em fase muito inferior e com a flagrante falta de disposição do clube e das autoridades envolvidas de fazer da torcida mista o que ela realmente é: prioridade.

 

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