Novas receitas

0 Postado por - 21 de agosto de 2014 - Artigos

Nada melhor que um profissional para trocar ideias sobre o mercado esportivo mundial e os rumos do futebol brasileiro. Por isso, inauguramos com esse post um espaço de colaboração do Daniel Gamba, gremista radicado nos EUA, que trabalha no ramo há mais de dez anos. A observação do mercado e dos movimentos do futebol profissional mundial é a principal base para poder formar opinião sobre se queremos ou o que queremos do futebol moderno implantado no Grêmio. Bem vindo, Gamba!

O futuro do futebol mundial passa por conseguir diversificar a geração de receitas em diversas categorias evitando dependência de uma só área. Explico: os clubes passariam a gerar receitas como uma carteira/portfólio de investimentos, diversificando as áreas de captação de recursos e minimizando assim os riscos. Além da diversificação das receitas, importante ressaltar o aumento no valor relativo ao total da geração de recursos referente ao MATCHDAY (arrecadação em dia de jogo). Essa simples constatação é facilmente observada numa breve análise das receitas dos 5 maiores clubes de futebol no mundo. Os dados podem ser vistos no infográfico abaixo.

Principais receitas dos cinco clubes mais ricos

Principais receitas dos cinco clubes mais ricos

Analisando o ranking da Deloitte Football Money League 2014 (reporte completo aqui), temos um resultado interessante. Em quinto lugar aparece Paris Saint Germain com quase 400 milhões de Euros em receita, sendo 13% do total só em dia de jogos. Em quarto, Manchester United com cerca de 425 milhões de Euros em receita, 30% em dia de jogos. O terceiro colocado é o Bayern de Munique, com quase 435 milhões de Euros em receita e 20% disso nos Matchdays. Em segundo vem o Barcelona, com quase 485 milhões de Euros, 24% receita de Matchday. O campeão em arrecadação é o Real Madrid com quase 520 milhões de Euros, sendo 23% em dia de jogos.

Quando comparamos somente os 5 maiores clubes de futebol do mundo de acordo com o estudo, podemos observar ainda que o campeão de arrecadação no Matchday é o Manchester United, com valores absolutos passando os 127 milhões de Euros. Quando o quesito a ser analisado é o Comercial, ninguém chega perto do PSG, com valores absolutos maiores do que 255 milhões de Euros. Na arrecadação somente com os contratos de Televisão, podemos dizer que há um empate técnico entre Barcelona e Real Madrid, que beneficiados pelo contrato individual (cada clube negocia por si, como é no Brasil atualmente) de TV na Espanha, alcançam valores extremamente significativos, e muito acima da média, arrecadando, respectivamente, mais de 188 milhões de Euros e 186 milhões de Euros. Na média geral, os cinco maiores do mundo, tem 22% de suas receitas provenientes do Matchday, 47% da área Comercial e 31% dos contratos de TV. Como vocês podem ver, não existe uma dependência expressiva de uma específica área, como é observado na maioria dos clubes do Brasil, que segundo alguns especialistas, são reféns da televisão e dependentes quase que exclusivamente da venda de jogadores. Basta um pouco de criatividade, conhecimento e planejamento pra se mudar esse panorama. Não será da noite pro dia, mas com o tempo, poderemos sim ver um maior equilíbrio na geração das receitas no futebol Brasileiro.

Daniel Gamba é Vice Presidente Executivo na Cartan Global, Sócio-Diretor na iSportsMarketing e Sócio-Investidor no Lane United FC. Para saber mais sobre o autor, visite www.about.me/DanielGamba

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1 comentário

  • Fausto 21 de agosto de 2014 - 14:24 Responder

    Fagner

    Aí, de cara, cabe a pergunta … quanto seria o salário do Daniel, ou de um executivo da mesma área altamente qualificado?

    50 mil? 100 mil? 150 mil? 200 mil?

    Não creio que tenhamos em larga escala no Brasil, executivos ganhando tanto assim.

    O aumento de receitas, criação de novas fontes de receitas e muitas outras coisas que precisam ser melhoradas na gestão de um clube de futebol, especialmente o nosso, não passa por uma profissionalização da gestão?

    Por que podemos pagar 500 mil, 700 mil para um único jogador. Que se lesiona, que é suspenso, que entra em má fase, que briga com o treinador, que não se adapta ao futebol brasileiro, que é perseguido pela arbitragem, etc, etc, etc. E não podemos pagar 3, 4, 5 executivos de ponta do mercado gastando a mesma quantia?

    Por que nosso executivo remunerado de futebol, não é um cara com experiência prévia no ramo?

    Quanto custaria, por exemplo, pra ter um cara como o Leonardo, trabalhando na gestão do clube? Ou pra trazer o Rodrigo Caetano de volta?

    Acho que mesmo nas receitas que o Grêmio já tem, muitos erros são cometidos. Posso falar só de exemplos que eu presenciei e já tem bastante coisa.

    Lá pelo ano de 2008 (não me recordo bem), eu me associei ao Grêmio. Não pra ir aos jogos, visto que moro longe, mas somente pra ajudar o clube. Porém, logo em seguida o Grêmio anunciou que iria lançar o programa sócio torcedor, cobrando mensalidade menor pra quem não pode ir nos jogos. Então eu liguei e cancelei minha associação. A moça me perguntou o porquê e eu expliquei que iria me associar na outra modalidade. Ela disse OK, cancelou meu título e nunca mais recebi um contato do Grêmio. De momento eu estou impossibilitado de me associar, mas assim que der, eu terei que ligar por inciativa própria. E olha, que faço parte do Exército Gremista desde que foi criado. Os caras tem o contato e não fazem nenhum tipo de trabalho para fomentação de novos sócios.

    Outra questão, o estádio.

    Há uns meses estive em Porto Alegre e o Grêmio não jogava na Arena naquele final de semana. Liguei lá pra conhecer o estádio, mas não podia. Infelizmente isso é com a OAS e não tem, ou pelo menos não tinha como visitar fora dos dias de jogo. Simplesmente não havia (não sei se já foi modificado) nenhuma iniciativa no sentido de explorar a curiosidade de gremistas e turistas torcedores de outros times, em cima de um estádio novo, recém construído, padrão europeu e o diabo a quatro!

    Voltando uns anos antes, estive no Olímpico para conhecer. Não me recordo se foi de graça ou se paguei meia dúzia de pilas no guichê. Daí pude entrar e a visita era livre. Tive acesso ao estádio, ao museu e depois me dirigi por conta própria à Gremio Mania, para comprar uma camiseta. Nenhuma iniciativa pra mexer com o sentimento do torcedor, incentivar o consumo de produtos, nada.

    Agora, comparo com a experiência na Argentina, no estádio do Boca. Veja bem, não estamos falando da Europa e sim de um dos maiores clubes de um país em crise, que fica localizado num bairro pobre de Buenos Aires e cujo poder aquisitivo dos torcedores não é dos maiores. Pois bem, ao chegar na vista da Bombonera, que estava lotada de turistas, paguei um belo valor pelo ingresso do TOUR. E, estrategicamente, anexo ao guichê e sala de espera para o tour, estava a “Grêmio Mania do Boca”, vendendo camisas a 100 dólares e uma infinidade de produtos. Isso é estratégico, ninguém precisou ir por iniciativa própria à loja. Ela esta no caminho! Depois, quando se entra, primeira parada é pra assistir a um filme, sobre a história do clube, depois a visita é guiada, passa pelo museu, pelas arquibancadas, vestiários, sala de imprensa. Pra quem gosta de futebol, vale cada centavo investido. É um exemplo de um clube que se preocupa com os produtos que tem a oferecer para o seu torcedor e mesmo pra quem não é torcedor.

    Segue o baile! Em 2011 estive no Olímpico com a minha família pela primeira vez. Sem conhecer as manhas para acesso ao estádio, sendo de fora e com meu filho pequeno eu quis montar um esquema que fosse mais seguro pra ir ao estádio. Descobri na internet um negócio chamado “Área Vip Tricolor”. Era um flyer de 2010. Entrei no site que tinha no flyer e estava fora do ar. Liguei no Grêmio e me informaram que não sabiam do que se tratava. Liguei na loja que vendia ingressos pro jogo e também me informaram que não sabiam do que se tratava. Único contato que eu consegui foi um endereço de e-mail, pelo qual troquei mensagens com o cara, que me passou também um celular (mas não um telefone fixo) e me explicou todo o esquema como funcionava. Uma van sairia do shopping, nos levando diretamente para um portão separado e acesso a uma área vip para assistir o jogo. O preço era salgado, mas justo pelo serviço apresentado. Único problema é que de Joinville, eu não conseguia confirmar que se tratava realmente de um serviço sério ou de um golpe para aplicar em turistas. E foi assim até eu fazer o depósito adiantado do valor (correndo o risco de perder o dinheiro). Somente poucos dias antes da viagem, eu consegui contato com uma secretária do Grêmio, que esta sim confirmou que havia mesmo o serviço, sabia do que se tratava e como funcionava. Pelo que eu entendi inclusive, não era um serviço do Grêmio, mas sim algo terceirizado. No fim das contas, era um baita serviço, o ponto de encontro era no Dado Bier e tinha cerveja cortesia lá, o cara gente boa pra caramba, me disse até que poderia conseguir numa outra oportunidade do meu filho entrar com os jogadores em campo e tal. Mas, também não preenchi nenhum cadastro, nunca mais recebi e-mail, não sei se o serviço ainda existe e se existe, não sei quanto custa!

    Ou seja, sem fazer esforço, tenho diversos exemplos de pequenas coisas que observando de fora, parecem ser tocadas no total amadorismo. Imagina então querer que se pense em novas fontes de receita. Aumentar a receita nos dias de jogo e essas coisas.

    Acho que atualmente, estamos longe de conseguir coisas desse tipo.

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