O 7×1 da imprensa

4 Postado por - 15 de julho de 2014 - Artigos

O Brasileirão está de volta. Com ele, a cobertura jornalística esportiva se volta para os clubes. Não quero abordar aqui as notícias do dia a dia, que parecem estar cada vez mais reféns da busca desenfreada por cliques, curtidas e seguidores, e sim falar da análise do jogo.

A Copa do Mundo nos mostrou belos e maus exemplos de como se contar a história de uma partida. Se por um lado vimos o uso da tecnologia, de estatísticas, mapas de calor e táticos nas análises, do outros tivemos o uso de velhos clichês como se o torneio fosse o de 1950.

Claro que alguns chavões ainda se fazem valer, mas penso que não podemos mais explicar o resultado de um jogo usando os mesmos métodos de antigamente. Se o esporte evoluiu, sua cobertura também precisa seguir o mesmo caminho. Além disso, os profissionais precisam acompanhar tais mudanças, se qualificando e buscando a cada dia mais embasamento para seu trabalho.

Se o esporte evoluiu, sua cobertura também precisa seguir o mesmo caminho (Foto: fifa.com)

Se o esporte evoluiu, sua cobertura também precisa seguir o mesmo caminho (Foto: fifa.com)

Sinto falta de análises táticas e uma boa leitura da partida por parte da maioria de nossos comentaristas. Os bons comentários ocorrem, é claro, mas isso deveria ser mais presente, ao invés de observações cruas. Outro fato a se lamentar, é que a maioria das análises modernas e com qualidade está na TV fechada, a qual nem todos têm acesso.

Cito ainda a falta de conhecimento mais amplo sobre os jogadores que estão em campo. Quanto mais informações o jornalista (ou ex-atleta que ocupa a função de comentarista) conter sobre quem está jogando, mais fácil será ele analisar seu comportamento tático e técnico. Até porque, o público atualmente também tem acesso as informações, coisa que não ocorria no passado, isso faz com que ele possa tirar suas próprias conclusões sobre o que está vendo.

Posso estar sendo exigente, não sei se de fato o público que consome futebol busca isso durante as transmissões, mas é notório que num esporte em que todo mundo dá seu palpite, a imprensa precisa dar argumentos de qualidade para que cada um possa somá-los à sua opinião.

A grande mídia deve estar atenta ao crescimento de sites independentes, como o nosso, por exemplo, em que grandes análises já são feitas. Eles atraem a cada dia mais torcedores, que se veem carentes de tal conteúdo nos principais veículos do país.

Se a derrota contra a Alemanha fez todo mundo refletir sobre o nosso futebol, penso que a mesma reflexão deve ser feita sobre a nossa imprensa. Uma cobertura com qualidade, certamente ajudará nessa revolução que o futebol brasileiro tanto necessita.

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3 + comentários

  • Victor Hugo 15 de julho de 2014 - 14:15 Responder

    Cabe aqui usar um velho dito popular que muitas vezes é empregado errado. Dois pesos e uma medida. Existe atualmente dois tipos de consumidores de mídia. Esse que vocês elencam no texto e que está insatisfeito com a cobertura da tv aberta, ou melhor, sequer assiste tv aberta. E o consumidor das tvs abertas, aquele que assiste esquenta com a Regina Cazé e acha bacana. Por isso que quando leio que a derrota humilhante que o Brasil sofre para a Alemanha é na quantidade de prêmios Nobel (103 x 0) vejo que temos um caminho muito longo a trilhar como nação. O texto de vocês é correto, ao mesmo tempo que equivocado, pois equiparam (mesma medida) coisas, consumidores de mídia, completamente diferentes (dois pesos). A tv aberta não é feita para nós.

    • Fagner 15 de julho de 2014 - 20:40 Responder

      Olha, Victor Hugo, existem milhares de públicos consumidores de mídia no Brasil. Dividir em apenas dois também é uma forma de reduzir o problema. Pra mim, é clara a intenção de fazer realmente isso que tu descreve como uma “verdade” – uma transmissão populista, da chacota, da piada de bar, e outra técnica, vinculando, inclusive, que só quem pode PAGAR por transmissão pode escolher. E isso é justamente o que acho incorreto: dizer que alguém que gosta do esquenta e não tem dinheiro é burro demais para entender o futebol e, logo, merece transmissão escrota. Isso é de uma arrogância extrema.

      Saludos,
      Fagner

  • Impzone 15 de julho de 2014 - 22:09 Responder

    Não está sendo exigente, só exigindo o básico.
    No PFC há uma série de erros, pessoas mal informadas cobrindo os times, nem parecem que recebem para isso. No Fox Sports, temos uma turma de profissionais que parecem obrigados a gerar conteúdo sob pena de chicotadas, visto que ficam quase que uma hora depois do jogo tentando achar jogadores e técnicos para fazer perguntas irrelevantes, que terão respostas que terão pouco ou nada a acrescentar.
    Na TV aberta, temos na Globo pessoas que cobrem esporte como se estivessem falando com uma turma de crianças deficientes mentais, enquanto na Band temos meia dúzia de incompetentes que não fazem um trabalho de qualidade simplesmente porque são incapazes mesmo.
    Só na ESPN (que se encontra normalmente apenas em pacotes mais caros de TVs por assinatura, ao contrário do Sportv) há um nível mais aceitável de análises, feitas do jeito que jornalismo deve ser feito. No Sportv, Lédio Carmona e alguns outros profissionais da equipe principal (ou seja, aquela que não passa grande parte do tempo só narrando ou comentando no PFC) também quebram um galho.
    Não temos muito mais que isso na imprensa televisiva “especializada”.

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