Grêmio Libertador

O problema é com a cor vermelha

Começo esse texto com um lugar comum, mas absolutamente verdadeiro: não suporto racismo. A ideia de que determinados seres humanos se considerem superiores a outros é abominável, ainda mais quando o que se leva em conta é a raça/cor.

Outra coisa que me causa repulsa é o oportunismo. Ainda que seja muito menos nocivo, ele se baseia na ação de pessoas de espírito pequeno, que se utilizam de interpretações duvidosas, generalizações e até de inverdades para obter vantagem sobre outros.

A essa altura do campeonato, é claro que vocês já sabem que estou falando da acusação do jogador Zé Roberto, encampada por um dirigente do Internacional em ofício junto à Federação Gaúcha de Futebol.

A história é velha: não é a primeira vez que os cânticos da torcida do Grêmio são associados à prática de racismo (mesmo que, a cada quarta e domingo, inúmeros jogadores negros pisem o gramado do Olímpico sem receberem insultos racistas).

O curioso é que, quando jogava pelo Botafogo, Zé Roberto veio ao Olímpico em 2006, esteve frente a frente com a torcida do Grêmio e não relatou ter recebido qualquer ofensa racista. Como eu não acredito que a pele de Zé Roberto tenha passado pelo processo inverso ao que atingiu o rei do pop Michael Jackson, cabe perguntar: o que mudou desde então?

Só a cor da camisa que ele vestia.

Vamos raciocinar um pouco. O mesmo jogador, em dois jogos diferentes. Em um, vestindo a camisa do Botafogo, não ouve a palavra “macaco”. Em outro, com a camisa do Internacional, surge a palavra “macaco”. Jogadores de pele negra, das mais diversas equipes adversárias, não recebem tratamento diferenciado no Olímpico. Jogadores brancos, vestindo a camisa do Inter, são chamados de “macacos”. Que espécie de racismo explica isso?

Nem seria necessário, mas vou lembrar que jogadores negros são perfeitamente aceitos no Grêmio, e muitos se tornam ídolos adorados pela torcida. Zé Roberto e seu dirigente paladino nem precisam ir longe: podem perguntar para Paulo César Tinga se, em seus anos e anos de Grêmio, foi alguma vez discriminado por sua cor.

E uma vez que a defesa da igualdade passou a ser bandeira dos colorados, aproveito a coincidência de a denúncia ter surgido no dia 17 de maio, Dia Internacional de Combate à Homofobia, e pretendo ampliar o debate.

O Grêmio, em sua história recente, teve no elenco uma dupla de zaga que, dizem, se entendia melhor fora do campo do que dentro. A história da famigerada “poltrona 36” é de conhecimento público e, só por isso, não será detalhada neste momento.

Acontece que, para a torcida e para a diretoria do Internacional, tal fato merece grande importância, como uma forma de colocar seu clube constantemente em um nível superior ao Grêmio. A citação recorrente da antiga torcida organizada gremista Coligay é motivo de chacota junto à comunidade colorada, como se torcedores homossexuais não tivessem direito a apoiar seu time do coração. Afinal, o respeito às diferenças faz ou não faz parte dos valores tão fortemente defendidos pelo Inter?

Domingo de Dia das Mães. No intervalo do Grenal vencido pelo Grêmio no Beira-Rio, a torcida colorada saúda em peso o técnico gremista Renato Portaluppi aos gritos de “viado”. Embora a fama de Renato entre o público feminino seja notória (acredito, inclusive, que muitas familiares daqueles que urravam pudessem testemunhar, com detalhes, em favor do gremista), o que chama a atenção no episódio é novamente a intolerância daqueles que se posicionam como vítimas de preconceito.

E não para por aí: a segregação por uma suposta opção/orientação sexual parece ser prática oficial no Beira-Rio. A apresentação de um novo ônibus do Inter ganhou destaque porque, segundo seus diretores fizeram questão de aladear em meio a gargalhadas, “aqui não temos a poltrona 36, a numeração pula do 35 para o 37”. Devo entender que jogadores que não sejam héteros não são aceitos no clube?

Acho que me fiz claro. E o melhor: sem precisar atribuir aos colorados, em sua totalidade, a pecha de “simpatizantes do nazismo” ou coisas do gênero, até porque não sou inconsequente.

Com a palavra, os verdadeiros disseminadores do ódio.

ADENDO: por mim, os cânticos com a palavra “macaco” nem seriam ouvidos no Olímpico, pois acredito que falar do Inter é dar uma importância que este clube não merece. Mas não sou eu quem decide isso. Se resolverem banir tais músicas, eu (que nem as canto) ficarei feliz. Só não quero servir de bode expiatório para gente desqualificada.

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