O pulo do gato é no treino

0 Postado por - 7 de outubro de 2016 - Artigos

Era uma vez o Grêmio. Um time que estava amargando um jejum de títulos. Não conseguia ganhar um Gauchão há seis anos, vendo o Inter triunfar. Um time que precisava mudar, dar o pulo do gato, voltar a ser a referência no RS. Para isso decidiu, mais uma vez, trocar de treinador. Vários medalhões haviam sido experimentados, sem sucesso. Então o presidente resolveu fazer uma aposta: um ex-jogador que recém havia começado a vida como treinador. Mas não era um qualquer: era um grande campeão, que estava no time de uma das últimas grandes glórias do time duas décadas atrás. Tão grande que seria lembrada eternamente. Uma década vestindo a tricolor como jogador, mas, naquele momento, treinando um time azul e branco.

O seu primeiro ano de Grêmio foi sem títulos. Mas ninguém se importava. Era colossal a diferença na maneira de treinar o time em comparação a todos os outros. Métodos que aprendeu na Europa, observando gigantes como o Real Madrid. Tinha um elenco sem craques individuais, mas com um com um time muito forte. Tão forte que jogadores “prata da casa” acabaram despontando como referência técnica.

Foguinho, na capa da Revista do Grêmio (Nov.Dez 1958)

Foguinho, na capa da Revista do Grêmio (Nov.Dez 1958)

Você já deve saber de quem estou falando, né? Sim, ele mesmo: Oswaldo Rolla, o Foguinho. O ano é 1955. O Grêmio não conseguia ser Campeão Gaúcho desde 1949. O Inter teve cinco títulos no período (só não foi hexa porque o Renner interrompeu a escrita em 1954). Mesmo os anos 40 não tinham sido bons com o Grêmio: em 16 anos eram 13 títulos colorados, dois do Grêmio e um do Renner. Tempos difíceis deviam ser combatidos com medidas criativas.

Ué, pensou que eu falava de outro cara? Pois tivemos recentemente alguém com história bem parecida aqui pelo tricolor. Foguinho jogou 12 anos com a tricolor. Roger, 9. Foi campeão do Citadino de 1935, aquele último Grenal do Lara, fazendo o primeiro gol da vitória que é comemorado até hoje, 83 anos depois. Roger foi campeão da Libertadores de 1995. Foguinho teve 10 títulos com o Grêmio, Roger 11. Antes de assumir o comando técnico do time que o consagrou, Foguinho dirigia o Cruzeiro (azul e branco como o Novo Hamburgo, do Roger). Foi com esse time que fez a primeira excursão de um time gaúcho pra Europa, entre 1953 e 1954, jogando contra gigantes de lá.

Foguinho nunca havia sido campeão antes de ser chamado pelo Grêmio. De fato tinha apenas 3 anos na frente do time portoalegrense. Mas tinha algo que era inédito: o método de treinar. Daquela viagem inusitada trouxe consigo a ideia que a preparação física era importante. E foi o primeiro treinador a efetivamente implementar isso em uma equipe no Brasil. Juntou a isso o sistema WM, que já estava sendo execrado pelos entendidos, conseguiu montar a base do Grêmio que venceu 12 em 13 campeonatos Gaúchos. Germinaro, Gessi, Juarez, Milton. Sim, demos o pulo do gato.

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A carreira de Oswaldo Rolla pelo Grêmio terminou a sua primeira passagem da única maneira que poderia acabar: com ele na Seleção Brasileira em 1960. Mesmo com passagem efêmera acabou retornando ao Grêmio apenas em 1976.

E por que diabos eu estou falando em Foguinho hoje? Porque o Roger também fez isso pelo Grêmio. Trouxe um modelo europeu de treinamentos que, embora conhecido, não era aplicado por ninguém. Dividindo o campo em quadrantes conseguia transmitir mais facilmente aos seus jogadores exatamente aquilo que queriam. Com treinos curtos de 40 minutos de muita intensidade conseguiu fazer o time ser rápido na transição e fazer pressão lá no ataque. Coisas que demoraram muito tempo para serem combatidas pelos adversários.

Roger deixou o time. Mas o sistema de treinamentos é o seu legado. Não há problema algum no Renato seguir fazendo o seu trabalho no Grêmio, colocando a sua marca nos seus treinos. Mas acho que existe espaço para que alguém familiarizado com o método do Roger siga comandando treinamentos desse estilo. O Grêmio estava formando um padrão de trabalho, uma filosofia. Algo que ia do profissional à base. Poderia ser o novo pulo do gato. Fica agora sob responsabilidade do Espinosa manter isso. Que não se perca em nome do resultado.

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7 + comentários

  • Félix Nuñez 7 de outubro de 2016 - 17:07 Responder

    Esse é meu maior receio. Deixar nas mãos de Espinosa. Não posso critica-lo já que sequer iniciou o trabalho no Gremio. Mas, nunca me empolgou como técnico e coordenador.

    Espinosa se diz um cara atual, então espero realmente uma continuidade destes treinamentos para 2017. E espero que Renato aceite. Ele é um bom técnico e inteligente. Só não sei se seu ego aceitará isso.

    Jogo a jogo o time parece mudar lentamente suas características. Algumas até para melhor como a marcação, outras me incomodam. Mas, é justo que aguardemos mais.

    • Fagner 7 de outubro de 2016 - 17:28 Responder

      Eu via os vídeos do Espinosa. Sim, ele tava vendo futebol e falando das novidades, etc. Mas vejo nele um tipo de futebol que não curto muito, mais ocupação de espaço e velocidade (tipo Sampaoli ou Sabella). Acho um futebol bem feio, mas cada um com seu cada um.

      Saludos,
      Fagner

  • Félix Nuñez 7 de outubro de 2016 - 20:29 Responder

    Pois é, eu até ia te perguntar se vc via os vídeos dele…

    Enfim, agora é aguardar as cenas dos próximos capítulos…

    O que desanima mesmo é que quando parece que politicamente e estruturalmente o clube começa a achar um norte descobre-se picuinhas, sacanagens e afins e voltamos a estaca zero. Eu não vejo problema algum numa política de situação e oposição com idéias bem diferentes, desde que em prol do clube. Mas, há anos não vejo nada parecido com isso. Apenas briga de egos e com finalidades pessoais. Isso sim é broxante

  • Pensador 8 de outubro de 2016 - 16:25 Responder

    Futebol é entretenimento, não paga minhas contas e não muda a minha vida, só serve para distrair quando não tenho nada para fazer.. e ainda tem gente q se mata por isso, lamentável..

  • dexter holland 10 de outubro de 2016 - 04:56 Responder

    A historia tambem conta que apesar do primeiro ano sem titulos, o time apenas evoluia, o que veio a culminar no posterior titulo. Ao contrario de Roger, que se perdeu, acumulou fracassos (ate com certa dose de fiasco) e o desempenho decaiu drasticamente.

    Agradeço o Roger, acho que ainda tem um GRANDE futuro pela frente e espero que retorne ao tricolor, mas quando estiver maduro e tiver revisto determinados conceitos. E trazer algo de 60 anos atras como se pudesse servir de referencia ao futebol de hoje, nao serve. Achei muito interessante, mas a titulo de historia.

    (desculpem-me a falta de acentuaçao, culpa do teclado)

    • dexter holland 10 de outubro de 2016 - 05:01 Responder

      Também é valido lembrar que por alguns anos apos 1955 houve um declinio do nosso rival, nao me recordo se foi uma fase de transiçao de jogadores, porem ficaram alguns anos sem chegar nem entre os primeiros.

  • Eduardo 10 de outubro de 2016 - 09:53 Responder

    O Grande problema do Roger foi ele ter se negado a fazer uma marcação melhor na bola parada. Foi eliminado assim do Gaucho, SulMinas, Brasileiro e LIbertadores. Sempre para times piores que no nosso ,que estavam jogando menos futebol.

    A direção nao teve pulso para exigir marcação homem a homem, deu no que deu, demissão.

    Roger achava ultrapassado marcar assim a bola aérea defensiva, e 35 gols foram feitos assim. Incrivel e triste.

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