Outro perfil de treinador

1 Postado por - 15 de fevereiro de 2017 - Artigos

Em outubro de 2015 o Roger foi o convidado do Bola da Vez da ESPN e fiz um post comentando. Ontem foi a vez do Renato participar do mesmo programa e vou fazer o mesmo. Da mesma forma que no anterior, os vídeos de partes da entrevista estão na página do programa e a versão completa pode ser vista no Watch ESPN (para aqueles que tem alguma TV por assinatura). E foi uma entrevista muito legal. Tanto pelo que o Renato é quanto pessoa quanto pela franqueza de apresentadores e do treinador. Vou resumir um pouco nos mesmos moldes daquele post.

Frame do programa Bola da Vez – frame do programa da ESPN

Humildade: o Renato é o Renato. Não precisa de humildade quando fala de si. Ele foi melhor que o Cristiano Ronaldo, por que ser humilde? Mas é um cara que nunca se coloca na frente do seu grupo. E isso ficou mais uma vez patente na entrevista. Existem sempre dois elementos muito claros para o treinador – a sua figura folclórica, o seu lado ídolo, promotor do espetáculo, e o time que está sob o seu comando, o trabalho conjunto.

Liderança: O Renato é um motivador? Isso todo o mundo diz. Mas a liderança dele vem do exemplo (ele, óbvio, o melhor jogador do mundo) e da responsabilidade que dá ao seu comandado. E que responsabilidade é essa? O jogador jogar o futebol que sabe. Em vários momentos da conversa ele citou isso – chegou inclusive a dizer que o que mais irrita o treinador é ver alguém tentando fazer lance de efeito não como recurso técnico, mas para o público. É uma via de mão dupla: ele dá confiança pro atleta poder render o máximo que sabe fazendo O QUE SABE.

Coordenação: bem ao contrário do Roger, o Renato pesa muito bem quem pode fazer o quê e quando. E isso é o que mais irrita a geração Fantasy Manager. Eu gosto de ler sobre tática, acho legal tecer teorias sobre como o treinador pensou a saída de bola, a fase ofensiva, a transição, etc. E muita gente faz isso com propriedade, mesmo sem nunca ter treinado (ou jogado) em lugar algum. E geralmente quem faz isso parte dos números (4-2-3-1) pras pessoas. O Renato parte das pessoas para o número. Já cansou de demonstrar isso nos trabalhos do Grêmio, criando padrões de jogo sempre adequados às peças que tem em campo.

Contextualização: É o que discuti acima que faz ele estar cheio de razão quando CONTEXTUALIZA os títulos de “melhor jogador” e “melhor treinador”. Pep Guardiola (e ele falou isso outra vez) é um grande treinador que poderia estar no Boa Esporte hoje, no Brasil, tentando reerguer a carreira. Para que a mente brilhante do treinador mais inovador dos últimos tempos funcione precisa de jogadores com o mesmo nível de inteligência. É por isso que o Roger fazia os treinamentos que fazia no Grêmio (curtos e com campo marcado): para estimular que seus jogadores pensassem rápido e executassem o que foi pedido. Nem sempre isso é disponibilizado (o Roger foi demitido depois de 20% de aproveitamento em 10 jogos depois de perder o seu jogador mais inteligente taticamente, o Giuliano). Renato costuma “trabalhar com o que tem” – isso inclui fazer jogador naba se sobressair no conjunto.

Inteligência: o Renato é uma das poucas pessoas no Brasil que gosta de futebol. Não só os números, nem só os salários, nem só as noitadas e o glamour. O Renato entende que o futebol é um espetáculo que tem vários componentes que funcionam juntos. Pra ele jogadores falam pouco porque hoje tem assessor de imprensa. E lembrou das célebres disputas verbais dele com o Romário, Túlio e Edmundo nos anos 90. Mesmo quando instrui a sua equipe ele deixa isso bem a mostra: primeiro o resultado, a vitória que seu torcedor espera. Depois vem a atuação. Se vai perder, perde atirando. Ele falou praticamente isso ao dizer que não mudaria em nada a experiência do vice campeonato da Libertadores com o Fluminense.

Já falei várias vezes que acho o Renato um dos melhores treinadores do Brasil. E sei que muita gente riu quando ele disse que o sonho dele é ser treinador da seleção brasileira. Mas ele tem uma coisa que poucos hoje também tem (e nem o Tite tem): saber como tirar o melhor de cada jogador. Pode não dominar o linguajar da moda, dos analistas táticos, mas deixou todo mundo bem quieto ao falar de quais são os defeitos do Cristiano Ronaldo e do onde o Lucas Lima pode melhorar (e como ele faria para desenvolver isso). Tite escolhendo o seu elenco é um baita treinador (que pode ser neutralizado até facilmente por quem conhece o seu trabalho, como provou o Roger), principalmente para pontos corridos. Com o elenco já dado, é difícil ter resultado. O Renato sempre tem (muito mais do que quando escolhe os nomes, eu diria).

Mas, enfim, quem ri e desdenha o Renato vai seguir rindo e desdenhando. Quem idolatra, seguirá idolatrando. Eu acho é que a gente devia ser mais sincero em escutar um pouco mais o Renato treinador. Ele tem muito pra ensinar.

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