Grêmio Libertador

Por que o rádio me irrita tanto?

Estava pensando nisso, esses dias. Nasci antes do Grêmio ser campeão mundial, mas era bem pequenino. Porém, tive a sorte de poder acompanhar a fase de ganhar tudo. De 94 até 97 foi um campeonato por ano. Nem vou falar das minhas primeiras memórias, que incluiriam o hexa do Ruralito (eu comemorei, na época, era a única coisa que eu sabia comemorar) e a Copa do Brasil de 89. E nesses quatro anos ganhando tudo, sem internet, sem tv a cabo e com meia dúzia de jogos do Grêmio por ano na programação (Libertadores era sempre pra mostrar Palmeiras ou São Paulo) me acostumei a ser torcedor de radinho. Minha estreia em estádio foi bem tardia, em 2001. Não tinha dinheiro para esses luxos, por mais baratos que fossem. E eu gostava do radinho. Por que não gosto mais?

Até a BBC mudou a tradição de suas transmissões de Rádio. Foto: BBC

As memórias de todos aqueles títulos dos anos 90 que tenho são narradas pelo Haroldo de Souza, da Guaíba. “Aparece a máquina tricolor! Respeitem esse time! Ele é um Campeão do Mundo!” Qualquer um que me perguntasse, na época, não teria dúvidas: era gremista. Narrava cada gol com gosto, festejando. O Reche era o setorista de jogo e sempre achava um juiz ladrão, bairrista, do centro do país roubando o tricolor. De certa forma, a mágoa dos colorados (que não souberam até hoje curtir o seu momento ganhando tudo por não esquecerem do nosso) que diziam que a gente nunca perdia, só ganhava ou era roubado, era reforçada pelas narrações dos jogos.

A gente tomava gol? Sim. Mas a gente dificilmente jogava mal. Não porque os jogadores eram infalíveis, mas porque o rádio sempre me mostrava um time melhor do que era. Sempre era possível virar. E quando virava mesmo, cara, era incrível. Quando o juiz roubava mesmo, também. A gente sempre de cabeça erguida, esperando pela próxima vitória, o próximo momento. Hoje, a narração seca o Grêmio descaradamente, em nome de uma “imparcialidade” sem sentido. Contra o Nacional de Medellín, por exemplo, 2×0 pra nós, 40 do segundo tempo e o narrador da Band falava que, se eles fizessem um gol, o jogo pegava fogo. Tudo é motivo pra crise. Nada está bom.

O que mudou? Os narradores pioraram? Eles perderam a noção? A audiência piorou? Eu abandonei o rádio. Não assisto nem TV com volume se a transmissão é do Rio Grande do Sul. Jogo na Arena? Sem nada, só olhando e tirando as minhas conclusões. Infelizmente, diversas “novidades” (jornalismo fofoca, jornalismo humorístico, furo/barrigada, corporativismo contra jogador/torcia, etc) estragaram essa antiga tradição. Assim, o que mais me irrita, na real, é que o rádio não é mais meu companheiro. Não torce mais comigo. Fica achando birrinha e dizendo que eu vou perder o tempo todo. Acho isso muito chato. E acho que esse é o maior motivo dele ter sido abandonado.

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