Grêmio Libertador

Pra começo de história: Grêmio 3 x 1 Fluminense

Foto: Lucas Uebel/Grêmio FBPA

Quando a gente escreve crônicas de jogos de futebol, vamos escrevendo e reescrevendo tudo. É preciso registrar rápido pra não esquecer a jogada, nem a sensação provocada pela jogada. O problema é que, em seguida, acontece outra coisa qualquer e a percepção que tínhamos do que acontecera até ali muda completamente. A jogada aquela pode não ser mais importante e até a sensação que tínhamos tido com a jogada muda.

A estreia do Grêmio na Copa do Brasil 2017 não apenas obrigou a escrita e reescrita. Foi a própria escrita e reescrita.

Aos 5 minutos do primeiro tempo, perdíamos. Já estávamos preparando a boa velha crônica baseada na eterna narrativa da bola aérea que não acertamos nunca. “Tomamos o gol de Renato Chaves e a estratégia se desfez”, diria a crônica, como já disse outras vezes. Esta teria o detalhe do “nossa!, bola espanada do Geromel, que lástima, hoje a nossa defesa falhou” e seguiria lamentando a péssima largada na Copa do Brasil, mas terminaria com a famosa máxima “o Grêmio é copeiro, imortal, etc etc etc”.

Então, aos 17 minutos, a jogada. A Jogada. Arthur, Luan, Arthur, Barrios, Arthur. Aquela que transformaria a narrativa anterior para “realmente uma pena nossa defesa de deuses ter falhado, hoje o jogo foi do nosso ataque, Arthur mais a frente, como o Renato mandou, uma pena a falha de fato”.

Ao fim do primeiro tempo, parecia que a novela da estreia já tinha tudo mais ou menos definido pela marcação forçada do Fluminense, com a participação especial de Diego Cavalieri como Diego Cavalieri. Registraríamos as palmas para Pedro Rocha pelo esforço tático – em jogada em que a tentativa de tabela de frente para a grande área evidentemente treinada com jogadores variados foi perdida e ele, Rocha, correu atrás do jogador do Fluminense que disparava no contra-ataque. E diríamos que, talvez, haja pessoas tentando entender alguma coisa deste time para além do que dizem os comentaristas enchedores de linguiça. E terminaríamos dizendo que não foi ruim, jogamos bem, lá resolvemos, o Grêmio é copeiro, imortal, etc etc etc.

[Intervalo de jogo. Aqui, abro um colchete para registrar a declaração do guri Arthur na saída do primeiro tempo: “É uma jogada que a gente treina muito e o Renato pediu e eu pude executar”. Treina. Muito.]

Aos 8 minutos do segundo tempo, a marcação apertada do Fluminense surtindo efeito e os cariocas achando jogadas que não eram de contra-ataque chegaram a redigir um parágrafo que começava com “o acadelamento do Grêmio no início do segundo tempo nos custou caro”. Os erros na finalização do ataque gremista faziam o texto flertar com reclamações sobre Luan e Pedro Rocha, talvez sobrando um tanto de reclamações para Bruno Cortez não substituindo Marcelo Oliveira a altura.

Eis que a gente olha pro campo aos 16 minutos, sai Pedro Rocha e entre Éverton, e a crônica, no entanto, registraria não a mudança no ataque, mas sim que a posição dos volantes-meias do Grêmio se inverteu: Arthur mais próximo de Michel, Ramiro chegando mais à frente. A esta altura, não se escrevia nenhum texto, pois nosso jogo melhorou sobremaneira (metade por conta da inversão que atrapalhou o sistema de marcação, metade porque o Fluminense também não tinha como manter a pressão permanente no ataque e na defesa). Não há cronista-torcedora que sossegue até sair o segundo gol, que ali parecia tão evidente.

Saiu. Aos 19. Numa jogada ensaiada na cobrança de escanteio. Luan, o topo da cabeça de Kannemann, Barrios chegando por trás da zaga e metendo a bola pro gol, com Cavalieri, com tudo. O texto voltaria em sua quarta versão, agora para dizer que, ao longo da partida, o Grêmio consertou o sistema defensivo e teve calma para praticar o que é treinado, bem treinado.

Aos 25, o menino Cortez – que pode ter sido xingado no fim do primeiro tempo – recebe passe de Éverton, cruza, rasteiro e certinho. Barrios hace que vá, pero no vá e acaba se indo. Com bola no meio das pernas do zagueiro, com chute certeiro, com Diego Cavalieri, com tudo.

E aí, amigas e amigos… aí o texto, por fim, registra que o atual e maior campeão da Copa do Brasil deu início à Copa do Brasil. O que virá pela frente tem chance de ser uma bela história.

“Foi bom, hein?”
“Si, claro, como no?”
(Foto: Lucas Uebel / Grêmio FBPA)

Comparilhe isso: