Pra quem é novinho

9 Postado por - 12 de setembro de 2014 - Artigos

Faz 18 anos desde o último título de Felipão com o Grêmio. E foi, pra mim, o último grande título que tivemos. Um brasileiro com a cara do Grêmio: enfrentamos o “time sensação”, a menina dos olhos da Rede Globo, no papel de vilão nacional. Todo o Brasil torcendo pelos “meninos da Portuguesa” por um título inédito ao clube (mais um para São Paulo, mas só coincidência) e ainda, lá, tomamos 2×0. E o jogo da volta teve um gol bem no início, do Paulo Nunes e o outro aos 40 do segundo tempo, quando já não havia mais nada além da crença de que: VAI DAR. E deu. Bola alçada na área do meio de campo, escorada de Zé Afonso e bomba de Aílton (eu sou foda, bate palma pra mim).

Agora, que o gringo voltou, gosto mais ainda de lembrar dessa cena. Isso porque pessoas que estão com seus 25, 26 anos nem mesmo lembram do que era torcer pro Grêmio naquela época. Da mesma forma que, pra mim, é completamente inconcebível entender o que se deu em 1983 (“posso apenas sentir”). Há toda uma geração de adultos que se alimenta de lendas e mitos criados gestão após gestão (desastrosa) do Grêmio. E, ainda bem, esses já adultos enganados até hoje estão começando a ver o que era aquela realidade. De quem viveu ela, posso garantir: voltamos aos anos 90.

Felipão. Foto retirada da imprensa da época pelo André Kruse (clique na imagem pra ir pra página)

Felipão. Foto retirada da imprensa da época pelo André Kruse (clique na imagem pra ir pra página)

Foi naquela época que a torcida daqui revoltou o Brasil ao adaptar o FUNK (sim, funk) do “Ah, eu tô maluco”, cantado e copiado aos quatro cantos do Brasil da torcida do Flamengo para “Ah, eu sou gaúcho“. Em mais um episódio clássico de “RS melhor em tudo” (só que não), copiado pelo Juventude e pelo Inter, diga-se, que nos alçou a anti-brasileiros e, portanto, lixo. E nem adiantava gritar que não e ter uma bandeira do Brasil com o símbolo do Grêmio no meio, que voltou na época (que levou o colorados a fazerem uma do RS): como todos éramos xenófobos naquela época, hoje somos todos racistas, ganhamos a pecha.

O futebol também era esse. Muita marcação, quase nunca tomando gol, goleando quem não nos respeita e ganhando de quem respeitava. Como bem diziam os colorados: o Grêmio vencia, empatava ou era roubado. Quem não conseguia entender esse ranço, agora é fácil: lembra do que aconteceu no jogo de ida entre Grêmio e Santos pela Copa do Brasil. 9 em cada 10 gremistas é capaz de dizer que, no futebol, só não vencemos por causa daquela mão não marcada no meio do campo. Era muito difícil ganhar da gente assim, na bola. O líder do campeonato pode atestar que voltamos a esse nível. Por sinal, a última derrota desse time no Brasileiro.

E a expressão “jogando com o regulamento embaixo do braço” é exatamente o que pudemos ver contra os dois últimos rubro-negros: em momentos de futebol distintos, sempre fazer o resultado necessário na hora que precisa. Então, novinhos, fiquem felizes. Não é sempre que temos a possibilidade de viajar no tempo para sentir o passado assim, na pele. O ódio ao Grêmio, o resultado sofrido, a secação que não nos atinge, meio a zero ser goleada, a própria torcida encher o saco de um jogador a temporada toda, um paraguaio no time, um lateral estrangeiro, um centroavante que define, um ponteiro ciscador que inferniza a defesa, um goleiro gremista e formado na base, a estrela do time ser o próprio time. E um cara de bigode pondo ordem na bagaça.

Caros: ressuscitem seus tamagochis.

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8 + comentários

  • Fausto 12 de setembro de 2014 - 16:08 Responder

    Fagner

    Eu diria que tá rolando uma espécie de “amostra grátis” do que foram os sensacionais anos 90.

    Estamos no caminho. Se Felipão permanecer pra 2015 e outras providências forem tomadas, acho que podemos voltar de fato.

    Nos anos 90, por exemplo, o Grêmio era roubado numa semi-final de Copa do Brasil em 96 diante do maior rival da época (Palmeiras), com o juiz anulando um gol legítimo que nos daria a classificação e abriria caminho para o tri, que ficou pra 97.

    Mas se fôssemos roubados porque o jogador adversário dominou a bola com a mão na intermediária defensiva, isso nem contava. Porque a chance desse cara conduzir a bola de lá até a nossa área era 0%. Tinha um Dinho no meio do caminho, no meio do caminho tinha o Dinho! Ou passava a bola, ou o jogador. Na maioria das vezes nenhum dos dois. Esse espírito ainda falta. Se já estivesse incorporado não tínhamos tomado aquele gol do Santos e nem o gol do Cruzeiro, nossa última derrota como tu bem disse.

    E, outra coisa que ainda falta. O Grêmio dos anos 90 era ninja-terceiro-dan-master-dominador das bolas paradas. Escanteio e falta pro Grêmio da linha do meio de campo pra fente era igual a perigo de gol.

    Hoje eu fico me perguntando porque o Rhodolfo e o Geromel se dão o trabalho de subir até a área adversária, sabendo que a bola não vai chegar no cruzamento?

    Mas que já mudou o espírito do time e que isso faz uma baita diferença já na hora de assistir um jogo do tricolor, isso faz!

    • Fagner 12 de setembro de 2014 - 17:29 Responder

      Cara, muitas das coisas que tu colocou no teu comentário hoje não seriam colocadas em comentários dos anos 90. Como eu falei, a gente inventa o nosso próprio passado muitas vezes, nas nossas lembranças. O Grêmio que eu vi, e me matei torcendo, era exatamente como esse. Tudo era difícil, até ganhar. E justamente por isso que eu acho que ganhávamos tanto. A dificuldade era a nossa maior motivação.

      Saludos,
      Fagner

  • Fagner 12 de setembro de 2014 - 17:31 Responder

    Fala xará!

    Baita texto! Lembro-me claramente dessa final de campeonato brasileiro, tinha nove anos de idade na época, recordo que olhei toda a partida sozinho na sala, meus pais são colorados desde sempre. Posso dizer com certeza que naquele dia deixei de ser uma criança que simpatizava com o Tricolor para oficialmente virar um Gremista!

    • Fagner 12 de setembro de 2014 - 18:35 Responder

      Fala! É um daqueles momentos inesquecíveis. Terminou o jogo e eu fui cornetar o vizinho colorado que me cornetou desde a derrota em São Paulo. Eu dizia pra ele: “espera, tem o jogo da volta”. A gente tinha certeza.

      Saludos,
      Xará

  • Paulo Correa 12 de setembro de 2014 - 22:18 Responder

    Assisti esse jogo na casa dos meus primos ( todos colorados ).
    Também acho que o time está encarnando o espírito dos anoa 90.

  • FÁBIO GREMISTA 12 de setembro de 2014 - 23:14 Responder

    Ele tá de volta, parceiro!

    O clima, aos poucos, está voltando. O país com raiva do Grêmio, o Felipão ali, na casamata, gritando, o gol nos últimos minutos, o time subindo na tabela apesar da descrença da imprensa esportiva dita “especializada”…

    Esperem o último Grenal do ano. Garanto que dessa vez será diferente.

    Como diz Marcelo D2: “vai ser como sempre foi”.

    Abraço!

  • Jayme lopes carrabba junior 13 de setembro de 2014 - 21:36 Responder

    EU VI O GRÊMIO AO VIVO E A CORES CAMPEÃO MUNDIAL NO JAPÃO. LEMBRO COMO SE FOSSE ONTEM. NOS ROLÁVAMOS NA RUA DUQUE DE CAXIAS, MAIS OU MENOS 2 Hs DA MADRUGADA. A FESTA VAROU A NOITE. ÉRAMOS O MELHOR TIME DO PLANETA. A TERRA ERA AZUL, JÁ DIZIA YURI GAGARI. NEQUELA SITUAÇÃO APENAS TRES: SANTOS DO PELÉ, FLAMENGO DO ZICO E O GRÊMIÃO DO RENATO.1983.

  • Jones 15 de setembro de 2014 - 12:32 Responder

    Nem lembrava mais do Tamagoshi…
    Estamos em 2014 e prefiro olhar pra 2015 do que pra 1995…são quase duas décadas. É muito esforço pra olhar pra trás.

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