Grêmio Libertador

Respeitem esse cara. Ele é um campeão do mundo.

O recado não é só para o torcedor do Grêmio. O recado é para todos os torcedores do Brasil. Frasezinha que cansei de ouvir pelo rádio nas narrações do Grêmio campeão dos 90 serve e  muito para essa hora. Tem muita gente de choradeirinha, dizendo que é pensamento mágico, uns torcedores rivais dizendo que vai chamar novamente o Falcão, blá, blá, blá. Vamos botar os pingos nos is. Não vem comparar o Renato jogador com um certo volante careca cacheado dos anos 70. Pelos motivos já escritos no título desse post. E não cai na bobagem de comparar o Renato treinador com o avatar de 2011. “Ah, mas o Renato perdeu pra ele no Olímpico”. É. Quantos títulos nacionais esse “vencedor de ruralito nos pênaltis” tem, mesmo, na casamata de algum time? Qual foi a melhor posição de um time comandado por ele em uma Libertadores? Quantos grandes clubes no Brasil ele treinou? Pois é. É essa a quilométrica diferença entre os dois. O Renato não é projeto de marketing. É um treinador com apelo entre os torcedores. O que é muito diferente.

Esclarecido esse ponto, vamos ao segundo mimimi: “ele é um baita motivador, mas não é técnico”. Se não vejamos: ele foi o último treinador a ter um esquema de jogo claro por estas bandas. Para ser mais honesto o 4-4-2 losango, que ele introduziu em 2010, foi copiado e era “o” esquema dos grandes times até 2012. E tinha variações defensivas (laterais zagueiros) e ofensivas (variando os atacantes, fazendo o Jonas matar a pau por um ano). Time teve lesão, teve que lançar jogadores e teve a melhor campanha do campeonato. Só não foi campeão por ter um Silas no início do caminho. Sem acadelamento. Demorou uns seis jogos para pegar o esquema, teve um pouco de sorte, mas soube ver que nenhum dos laterais era fantástico, mas juntando dois por um lado e usando um atacante (o Jonas) para corrigir o Gabriel (que nunca na vida foi na linha de fundo) o Grêmio tinha volume de jogo e alternativas.

“Ah, mas isso é passado, ele tá parado”. Bem, vamos ao presente. Qual foi a primeira coisa que ele fez? Elegeu a equipe titular e saiu a ENSAIAR JOGADAS. Treinar bola parada. Fazer o que o nosso time não tinha quando tinha que jogar contra retranca. Voltou ao 4-4-2 losango. Não por que ele só saiba esse esquema. Mas é o que vai dar resultado imediato. Temos um ex-lateral no meio, que já mostrou que sabe jogar ajudando o lateral pelo lado. O Souza é um cara com muito mais saída de bola e velocidade que o Adílson. Sem contar que é o lado preferencial do Vargas, que pode fazer o que o Jonas fazia. A mensagem pro Barcos na coletiva foi clara: “pode deixar que ele vai voltar a fazer gols”, ou seja, esquece marcar, função tática, etc. Vai lá, tu é atacante, encara e mata. O Adriano faz a do Rochemback, mas é melhor ter um cara que chegue mais ao ataque (o que pode ser resolvido com um dos novos). E, finalmente, o Elano é o 10, mesmo sem a camiseta; “craque não marca”. Tá caindo de maduro. Depois, com tempo, conhecendo mais o grupo, aí propor alterações táticas para encarar as dificuldades que vieram em 2011. E olha que, no mundo do 4-3-3 inglês que se tornou o Brasil, nem sei se vai ser necessário ser tão rápida essa escolha.

Tem tudo para dar certo. E não é pensamento mágico. Eu poderia recorrer ao retorno do Felipão para aumentar a mística, 30 anos, Koff+Renato, tem milhões de maneiras de ser místico. Se isso te faz feliz, vai lá e se esbalda. Eu fico tranquilo. Já chegou mostrando que enxerga tanto que deu uma ótima definição do que pode ser o grande mal do Grêmio: falta de confiança. “Ah, isso sim é pensamento mágico”. Será? Quantas vezes vimos jogadores como o Zé Roberto dizerem que fizemos o que era pra fazer e a bola não entrou? Quantas vezes tivemos a bola do jogo e perdemos? Quantas vezes repetimos o resultado ridículo em condições parecidas? Quantas vezes o time entrou na pilha da imprensa de “primo do Renteria”, agora o “time do Rentería”, a “mística do el Campín”, “não ganha fora de casa”, etc? Será que o jogador não entrou mesmo achando que “putz, mais uma vez” e aí só fez cagada?

Veio um cara que conhece tanto o mundo dos jogadores quanto a nossa imprensa. O Renato não faz “media training” para falar com quem se esconde lá no fundo da coletiva. E sabe que tem outros que nem bem fica fazendo cobertura no Grêmio. É na base do esculacho, dos óculos escuros, dos recados em coletiva. Claro, vai ter jogador que não vai gostar de caixinha, de não jogar no carteiraço, vai ter bruxo perdendo o seu bruxismo e surgirão novos. Mas as perspectivas são muito melhores que em 2010. Com tempo, com confiança, com a parceria de já ter trabalhado com o presidente e com o executivo de futebol, vai ser a vez do Portaluppi subir ao topo e se sagrar, de vez, o maior nome do Grêmio em todos os tempos.

Seja como for, estou muito feliz em não precisar escrever mais uma vez o nome do ex-treinador nesse espaço a não ser para mandar ele à merda. E muito mais feliz porque, como disseram no twitter (@mardruck), se o Grêmio seguir mal e sendo eliminado, pelo menos o nosso treinador vai chorar por isso. “Pode ter certeza”.

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