Grêmio Libertador

A que ponto chegamos…

Eu ia deixar isso passar. Mas, sabe? Não passa. Não é um grande drama, mas é um sintoma: as coisas andam mal. Nós torcedores, o Grêmio, a Brigada, o MP, a Geral, precisamos parar e pensar: precisa isso tudo? Sexta feira, fui visitar um daqueles amigos queridos que o Grêmio me deu, o Márcio Neves, lá no Olímpico. Fui correndo, tinha um monte de coisas para fazer em Porto Alegre. Fui com minha esposa e filha, já que ambos tínhamos agendas a cumprir. Essa primeira parada foi muito legal, já que, além de tudo, pude voltar ao Velho Casarão depois de mais de um ano. A Elis, filhotinha, adorou: em todos os cantos tinham símbolos do Grêmio (pra ela, com seus dois anos, Bâi-bâi) e as estrelas (pra ela, Biiia, abreviação de brilha brilha a estrelinha). Ela apontava pra tudo, dizendo “óia!!”. Resultado: uma funcionária muito gentil, vendo toda essa empolgação, deu pra ela uma bandeirinha do Grêmio. Um brinquedinho de, sei lá, 20 centavos, que passou a ser o preferido dela. O bâi-bâi do nenê.

Minha filha Elis com seu brinquedo preferido do fim de semana, logo ao sair de casa.

Fomos com elas duas (bandeira e filhota) na Arena no domingo, ver a vitória do Grêmio. Ela de cavalinho em mim, agitando a bandeira e cantando: bâi-bâi… bâi-bâi… aiaaaaa (qualquer semelhança com aquela do Grêmio Grêmio lalaiááá lalaiala não é mera coincidência). A alegria dela durou da saída do carro, na casa do seu Dari (um senhor muito simpático e prestativo que está tirando uns trocos com um estacionamento improvisado na sua casa) até a entrada da rampa sul – uns seiscentos metros, como diria o anfitrião. Quando passamos da revista, um segurança privado da Arena se dirigiu à minha filha e disse “o tio não pode te deixar entrar com isso aqui”. Tirou da mão DELA, arrancou o mastro e devolveu a bandeira pra mim. Como se a graça não estivesse justamente no agitar o conjunto.

Não vou nem relatar o quão irritado isso me deixou. A resposta dele a todos os meus xingamentos (e não foram poucos) foi que isso está no estatuto do torcedor. Nem vou falar quão triste ela ficou. Não é esse o foco aqui. Alertado por um amigo, o Luís Fernando Partichelli, fui buscar o tal estatuto e, como ele havia me dito no twitter, não existe tal “proibição”. O Estatuto apenas diz, sobre a segurança do torcedor, (Art.13-A) que tem acesso garantido ao estádio quem “IV- não portar ou ostentar cartazes, bandeiras, símbolos ou outros sinais com mensagens ofensivas, inclusive de caráter racista ou xenófobo” e “X – não utilizar bandeiras, inclusive com mastro de bambu ou similares, para outros fins que não o da manifestação festiva ou amigável”. Pela foto aí de cima, tirada momento antes de entrar no carro pra ir pra Arena, vocês podem tirar as suas conclusões sobre o “enquadramento” do segurança.

O que temos que pensar é: COMO CHEGAMOS A ESSE PONTO? O que fez um segurança privado, que não é nem da polícia, utilizar a lei como bem entende para impedir uma criança de dois anos de entrar no estádio com um brinquedo? Ela por acaso poderia ser encarada como um “mal elemento” da Geral, que é marginal até que prove o contrário? A bandeira é uma arma como a muleta do Juliano naquele episódio de espancamento da BM? A minha filha descumpriu algum acordo ou deve ser punida da mesma forma pelo Ministério Público como torcedora da Geral? O Ministério Público pode julgar e punir alguém por não cumprir uma decisão que partiu de uma mesa de negociação quase sexual onde a torcida entrou apenas com o cu? O estatuto do torcedor não está aí pra proteger o torcedor?

Geral, Brigada, Arena, Grêmio, Ministério Público e até torcedores em geral: parem e pensem no que estamos fazendo. Já fomos longe demais. Sejamos mais humanos uns com os outros. Por favor.

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