Grêmio Libertador

COMO UM RAIO: Godoy Cruz 0 x 1 Grêmio

Lucas Uebel/Grêmio FBPA

Para que se tenha um relâmpago, as nuvens de tempestade devem ter no seu interior quatro elementos: as gotas d’água que formam, normalmente, todas as nuvens, minúsculos cristais de gelo, água quase congelada e granizo. Agitados pelo vento forte, estes elementos se chocam entre si, criam um campo elétrico e transformam a nuvem em uma grande pilha que, de repente, zaz! Luz e estrondo, que apenas nuvens especiais em condições específicas podem provocar.

Chovia forte em Mendoza. Nuvens pesadas cobriam o céu sobre o Malvinas Argentinas quando Godoy Cruz e Grêmio entraram em campo para o primeiro jogo das oitavas-de-final da Libertadores 2017.

Mas a combinação que deu origem ao relâmpago que caiu sobre o Godoy Cruz não foi de gotas d’água, cristais de gelo, água semi-congelada e granizo. A combinação especial do Grêmio incluiu: um Kanneman levantando a cabeça para procurar alguém bem posicionado antes do que usualmente chamaríamos de balão pra frente, mas que se tornou um lançamento preciso; o eficiente topo da cabeça de Lucas Barrios; a incontestável obstinação de Pedro Rocha em levar a bola até perto do gol; a chegada de Ramiro na área, um quarto atacante atacando, enfiando o pé na bola. Aos 44 segundos do primeiro tempo, zaz. Gol. Relâmpago.

Quem piscou, não viu. Mas comemorou igual. (Lucas Uebel/Grêmio FBPA)

E depois, choveu. Mais água ainda do céu e patadas dos argentinos. Sobrou mão na cara do Cortez, paulada em Pedro Rocha, carrinho violento sem advertência. Sobraram também dois buracos no joelho do Grohe, cavados a trava de chuteira.

(Grohe merece um parênteses. Aliás, merece parênteses, dois pontos, exclamação. Começou sua participação no jogo salvando com o pé um gol que poderia ter sido posto na conta de Michel ter esquecido que em campo pesado não pode chutinho. O pessoal que faz coro contra nosso goleiro junto com comentarista criador de crise já estava disfarçando, quando lá veio o cartão amarelo por retardar o jogo. Cartão bastante ridículo diante das botinadas que o Godoy Cruz distribuía e do fato de que havia levantado a mão para pedir que lhe amarrassem as chuteiras. O pessoal do coro falou em cera. Cinco minutos depois, Grohe foi atropelado dentro da pequena área. Ouvi muxoxos sobre mais cera até que o joelho furado pela botina argentina merecesse close na TV. Calou-se o coro. E no segundo tempo, deixou-se de vez de ouvir o nhé-nhé-nhé: Grohe fez milagres que apenas infiéis dirão que ele não é capaz de fazer!)

Ainda assim, botamos uma bola na trave em cobrança de falta de Edílson e quase ampliamos num cruzamento de Cortez que Ramiro (na área!) tentou ajeitar de cabeça para Barrios que, meio desengonçado, não conseguiu tocar para o gol.

E seguiu chovendo. E o Godoy Cruz botou a cabeça no lugar, chegou perto do gol, obrigou as defesas de Grohe e os desarmes eletrizantes de Geromel.

Foi cansativo. O primeiro a sucumbir a tanta água gelada caindo do céu e tanta lama foi Pedro Rocha, que correu o campo todo e carregou como sempre faz a bola, só quem em um campo dez vezes mais pesado que o normal. Éverton entrou e pouco fez. O segundo foi Barrios. Fernandinho entrou e fernandou sem sorte hoje. Por último, Arthur, o motor silencioso do time, estafado. Entrou Jaílson, assumindo posição mais a frente que o normal e permitindo que também Michel e Ramiro descansassem no fim do jogo.

Num jogo que foi decidido antes de 1 minuto, os mais de 90 que se seguiram acabaram parecendo uma eternidade. Mas tudo acabou como começou: bem. Nas condições específicas do jogo de hoje, um único raio foi o suficiente para que se faça luz sobre o que resta ser jogado nestas oitavas da Libertadores.

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