Grêmio Libertador

Gerenciamento de crise

Por mais que a torcida queira fazer ginásticas mentais para justificar as suas atitudes. Por mais que um punhado dela tenha sido inocente o suficiente para não acreditar que a vaia ao goleiro Aranha seria encarada pelo mundo todo como vaia ao Aranha, não ao goleiro. Por mais que alguns queiram adotar aquela postura estúpida de culpar uma vítima pelo seu comportamento (bota aí, “saiu de minisaia na rua e não queria ser estuprada?”) ao invés do agressor. Enfim, por mais que a torcida ainda não saiba como lidar direito com o fato ser confrontada com ela mesma, é simplesmente inadmissível que a instituição Grêmio siga sendo burra ao tratar com o caso.

O nome disso (sim, já tem nome) é gerenciamento de crise. E, nessa área, a postura do Grêmio tem oscilado entre pífia e medíocre. Começou muito bem, com a rápida manifestação sobre a exclusão dos envolvidos. Começou a degringolar quando deu o mesmo peso aos procedimentos contra os racistas e a opinião infeliz da revista Placar, apresentando uma nota oficial contra ambas. Há maneiras menos públicas e mais incisivas de criticar a imprensa e seus posicionamentos. Depois, foi patético no julgamento: primeiro com o Adalberto Preis dizendo algo como “se o juiz não viu, nem o bandeirinha, então o Aranha inventou” – o que é, no mínimo, ridículo, visto que havia um vídeo provando o contrário. Depois, Koff perdeu a oportunidade de fazer dos limões uma limonada ao dizer COM IRONIA que “se a punição do Grêmio significa a punição ao racismo no futebol o Grêmio se dá por satisfeito”. Era exatamente essa a postura, sem a ironia, que deveria ser adotada.

Durante a semana, o Felipão foi lá dizer pra imprensa que caíram numa armação do goleiro. Pra não deixar passar, o Rui Costa também contribuiu com a bobagem: defendeu o Felipão e criticou o Aranha, passando claramente a mensagem pra torcida. Depois dessa “liberação”, quem queria vaiar mesmo vaiou e quem não queria ser tachado de racista, mas queria vaiar o anti-jogo do Aranha, entrou junto. Mas ainda tinha mais. Depois do caso das vaias, outro CA do clube, Odorico Roman, resolveu usar a internet para se manifestar. Ao contrário do seu colega de Conselho de Administração, não “cadeou” seu perfil. Depois de endossar a posição DESASTROSA do Davi Coimbra (redundância), que quer culpar a vítima pelo ocorrido (sim, o Aranha é vítima e não há nada que mude isso – nem perdão), publicou:

Pra quem ainda não sabe, uma das coisas que mais vale para o clube Grêmio é a marca Grêmio. E quando uma empresa faz o ranking de marcas, ela consulta, bem, como eu vou dizer, pessoas que ouvem o “TNR”. Gente que acha que ele tem razão, ou mesmo que simplesmente se acostumou a dizer que o jornal está sempre certo. Em resumo, a opinião pública, que é quem tá sentando o pau no Grêmio. Ou seja, por mais que a posição individual de cada um desses representantes do Grêmio – Fábio Koff, Adalberto Preis, Felipão, Rui Costa, Odorico Roman – represente as suas mais sólidas convicções morais, elas são simplesmente absurdas para o clube. deveriam ter sido guardadas para um churrasco. Por partirem de seus representantes máximos enquanto a instituição se resumiu a duas notas e duas propagandas, vai ser difícil que não sejam tomadas como posição DO GRÊMIO, ao invés de suas. E chorar mais uma vez pela “generalização” será, simplesmente, inútil.

“Ah, mas estamos acostumados com todos contra o Grêmio”. Pra quem não sabe, diversas franquias da NFL tem enfrentado problemas com seus ATLETAS (veja bem, indivíduos e não o clube inteiro) que foram escrotos o suficiente para serem denunciados por violência doméstica. O caso mais emblemático, onde o atleta foi extremamente covarde contra a noiva dele, ocasiono a sua EXPULSÃO do clube (e era um bom atleta, tanto que demoraram para fazer o que o público queria) – não sem antes levar um PATROCINADOR junto. Patrocinadores, pasmem, se importam com a opinião pública! Não é incrível isso? E o Grêmio ir para o lado oposto do lado para onde vai o patrocinador significa o quê, exatamente?

A sorte do Grêmio é que nossos “patrocínios” são bairristas (Banrisul, Tramontina, Unimed-RS), com exceção da TIM, que, como telefônica, está acostumada a  não dar bola pros clientes (tudumtssss). São quase “padrinhocínios”. O Grupo Hospitalar Conceição, público, já começou a tratar do racismo institucional. Quanto tempo mais para o Banrisul não querer juntar seu nome com racista? Qual é a chance de uma empresa de fora querer aliar o seu nome com a Arena da Injustiça?

Então, mesmo que vocês achem que eu sou um chato: parem de prejudicar o Grêmio a troco de teimosia. Engulam o choro e aprendam algo com isso.

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