Grêmio Libertador

Marginal tem que apanhar

Infelizmente, esse é o raciocínio majoritário de uma porção cada dia mais numerosa da sociedade, principalmente em Porto Alegre: o cidadão de bem. É ele que usa as redes sociais para dizer que a polícia tem que bater em marginal, que direitos humanos não substituem uma boa palmada, que foram criados à base do relho e são exemplos de pessoas hoje. Foram eles que aplaudiram a BM em dois casos que ocorreram esse ano: os tiros em um provável assaltante dentro de um trem urbano e a reação desproporcional nos manifestantes da Defesa Pública da Alegria contra a privatização de espaços públicos em Porto Alegre (o famoso caso Tatu Bola).

Porém, quarta feira o caldo entornou. Diversos desses cidadãos modelares estavam com sua camiseta do Grêmio, em grupos predominantemente masculinos tomando cerveja, gritando pelo tricolor no entorno do estádio, alguns mijando em muros e fazendo aquelas coisas que muitos fazem em dias de jogos. Ou seja, tudo dentro da normalidade. Aí, vários relatos dão conta de violência policial. Eles não estavam fazendo nada, mas a brigada caiu batendo. Tem fotos de pessoas atendidas nos hospitais, sangue e a reação imediata de vários pela internet.

Só que eu preciso avisar uma coisa para você, caro cidadão de bem: os fatos relatados nesses dois parágrafos não são diferentes. Também não são ações isoladas da Brigada Militar. Nem em Porto Alegre, nem no Rio Grande do Sul, nem nesse século. São resultado de despreparo, falta de apoio psicológico, “mentalidade de ditadura” (que ainda perdura nos comandos da BM) e até mesmo “booms midiáticos”, como o Tropa de Elite (onde, ao invés de ver as críticas sociais, muitos aumentam o mito de Super-polícia-porradora acaba com bandido). Muitos dos que viram a brutalidade da polícia na quarta fizeram o disparate de criticar a corporação por não ter defendido a sede da ATP (uma associação PRIVADA) sentando o sarrafo nos “baderneiros” que quebraram tudo lá.

Se a ficha não caiu, explico: torcedor e manifestante “é tudo marginal”. Duvida? Pergunta pro Lasier Martins. Muito embora tu,  que é torcedor e vive no estádio,  saiba que são meia dúzia de gatos pingados que promovem movimentos de depredação de patrimônio privado. Afinal, que diferença existe entre quebrar as cadeiras da Arena e os vidros da sede da ATP? O que me espanta é que, mesmo que tu saiba que “torcedor é tudo marginal” é uma baita mentira falada por um comentarista que NUNCA PISA NO ESTÁDIO, tu saia por aí acreditando nesse mesmo cara quando ele diz que “manifestante é tudo marginal”. “Ah, são coisas diferentes”. Sim. Numa delas tu participa e conhece. Na outra, não. Vai dar uma de Lasier?

“Ah, mas tu é só um chato. Vai deixar a marginália passar em branco sem apanhar? Isso é BRAZIU”. Realmente. Enquanto tu continuar achando isso e dizendo que tem gente que merece apanhar,  a BM vai seguir batendo em quem ela acha que merece. Vai descer o  sarrafo em manifestante, em passeata política, em banda de torcida, em grupos “potencialmente perigosos” diversos em qualquer beco escuro. A polícia não tem que ser estimulada a bater em ninguém. Não há lugar algum na legislação brasileira que diga que alguém tem que apanhar. Mesmo que tivesse, a BM não é juiza, não pode julgar quem merece ou não. Tu vai querer ser juiz?

Mas se mesmo depois de tudo isso tu ainda me acha um chato de esquerda que merece apanhar junto com a marginália, prepara teu lombo. Se tu continuar indo ao estádio,  tua hora vai chegar.

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