Grêmio Libertador

Não seja babaca nem com o Falcão

O Falcão voltou a ser técnico do Inter. Se eu contei bem, é a terceira vez. Em todas as anteriores – assim como nessa – uma coisa se repete: “piadas” sobre a sexualidade dele. Claro, isso vem da parte da nossa torcida. Sim, isso é encarado como uma revanche sobre o suposto caso que ocorreu na tal Poltrona 36. Inclusive, há um boato forte que essa poltrona não existe nos ônibus colorados. Agora, com whatsapp, facebook, twitter, isso virou um inferno. Toda a vez alguém vai lá e posta alguma coisa falando do professor de tênis do treinador do Inter. Porém eu peço encarecidamente: não seja babaca de disseminar esse tipo de coisa.

Foi lindo. Deveria ser de novo. (Foto: Reprodução.)

Em primeiro lugar porque ninguém tem nada a ver com o cu dos outros. Um homem sentir prazer com sexo anal não é crime no Brasil. Mas é motivo pra muitos problemas para essa pessoa. E eles começam a partir do momento que alguém decide que isso é motivo de piada. Porque esse modelo de piada é pegar uma característica de outra pessoa e mostrar como anormal. É tornar essa posição ridícula. É tirar a humanidade de uma pessoa tornando ela vítima de escárnio. Isso não é engraçado. Isso leva à violência, tanto de terceiros quanto da própria vítima em si mesma. Isso é terrível.

Sim, somos atacados diuturnamente com essa IDEOLOGIA de que ser gay é um problema. Ainda mais no mundo do futebol. Não interessa se o cara é o melhor jogador do time. Se há qualquer suspeita sobre a sexualidade de um atleta ele é automaticamente transformado em menos que os outros. Vira estopim de todas as críticas, motivo da desgraça do time. E  nós, sendo babacas a ponto de aceitar fazer parte dessa opressão, alimentamos essa merda toda. Não precisamos aceitar que alguém possa ser diminuído porque prefere x. Ninguém é obrigado a preferir y. Preferir x ou y não influi em nada no que torcedores dizem ser o que mais importa: jogar futebol.

Se o Falcão é gay, bi, isso é uma questão pessoal. Se ele precisa se esconder pra ser alguma coisa, se ele não pode “admitir”, é um problema nosso. Não podemos obrigar ninguém a se comportar como queremos. Não faz sentido querer obrigar alguém a fazer alguma coisa que não vai te proporcionar absolutamente nada. Não faz sentido sentir prazer em obrigar alguém a se contrariar enquanto pessoa. Esse tesão por mandar nos outros é que deveria ser imoral, alvo de piadas. Ainda mais sabendo que, como em qualquer lugar, homossexualidade é natural também no futebol.

Então, faça uma força pra não ser babaca. Não divulgue, não compartilhe, não estimule esse tipo de comportamento. Deixem as pessoas serem o que quiserem ser. E antes que role aquele mimimi forte, chorumoso e tradicional nos comentários: se quiser continuar sendo babaca, seja. Mas faça isso pra ti mesmo, no teu âmbito privado, sem querer converter alguém pra tua causa. Porque ser babaca, tudo bem, até tenho amigos que são. Mas não dá pra dar pinta, né? Babaca tudo bem, bolsominion é que não dá.

O gay não obriga ninguém a ser gay. Por que é que tu vai querer obrigar um gay a deixar de ser?

Obs: O fato de tu já ter feito essa “piada” antes não te coloca como babaca eternamente. Ao contrário da sexualidade, babaquice é escolha. A gente pode simplesmente escolher não ser mais babaca e parar de reproduzir esse comportamento ridículo. Escolha parar.

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