Grêmio Libertador

O “negócio” futebol – Parte I

Já falei algumas vezes que não gostava de ver os times morrendo na mão de investidores. Acho que é um pouco por ter vivido toda a empolgação e a depressão da ISL, mas essa história de alguém colocar dinheiro no clube sempre me passa a impressão de duas coisas: lavagem de dinheiro e prejuízo pro “hospedeiro” de jogadores. “Ah, mas é a base do capitalismo ter um investidor”. Sim. Mas no caso do futebol, um investidor no quê, exatamente?

A UEFA ficou meio que inconformada com o time escudo da Doyen Sports (aka Atlético de Madrid) ter chegado até a final da Champions League usando jogadores da empresa, fatiados. É como o fato consumado do Flunimed, aqui (toda a vez que existe crise entre o clube e o Celso Barros, eles vão mal). Só que, pra gestão europeia do Platini, não é natural a ideia que um clube apenas sirva como laranja para botar jogador de empresa para jogar. Aí começou a pressionar e ameaçar não permitir mais jogadores de terceiros jogando o seu maior campeonato. Afinal, como é que se pede fairplay financeiro pra instituição que não compra o jogador, mas pega emprestado de uma coisa que não é um clube e, logo, não pode ser cobrado? Foi a senha para a FIFA se antecipar e dizer que também vai proibir nas suas competições.

No Brasil, diversos clubes já se manifestaram contrários. E, pra minha surpresa, torcedores. A grande questão é: como é que os times vão contratar jogadores caros e repatriar sem dinheiro de investidor? A minha pergunta é: PRECISA DISSO? Clubes não deixaram de gastar dinheiro com o advento do investidor. Pelo contrário. A popularização deles desde o início dos anos 2000 acabou tornando os salários absurdos. O Grêmio, em 2006, trabalhava com um teto de 80 mil reais que podia subir até 100. Quem ganha isso hoje? Qual é o teto do Grêmio? Como é possível ser bom negócio para um clube emprestar jogador para pagar só metade do salário? Esse caos é resultado direto de maiores salários que puderam ser pagos por não gastar no “passe”. Os negócios entre clube e jogador se dão na base do salário. Entre praticamente todos os clubes do Brasil.

O presidente do Coritiba ainda disse que proibir é ruim para os clubes porque é necessário (veja bem, obrigatório) vender partes de jogadores para ter CAPITAL DE GIRO. Isso me leva a origem deste post: afinal, que negócio é esse onde é necessário vender maquinário durante a produção pra pagar salário e comprar mais maquinário no próximo exercício fiscal? O que os clubes brasileiros entendem como “negócio futebol”?

Pra mim, hoje, clubes de futebol são apenas PICARETAS DE JOGADOR. Querem comprar atletas baratos e vender caro, ganhando dinheiro nisso. E mais, com o dinheiro vindo de um “investidor”, eles são apenas vitrine – mesmo que não se importem muito em quantas vezes vão aparecer na TV no ano (desde que recebam uma merreca que, com os gastos que tem, não sustenta uma temporada inteira). E quem quer ir ao estádio ver exibição de mercadoria? Pagar caro para ver um jogador jogar seis meses e sumir para dar lugar a um outro com seus 30 e poucos que precisa de dois anos pra jogar 30% daquilo que jogava quando saiu e, ainda assim, ser um oásis de qualidade no meio de uma multidão de nabas? Por acaso Charles Miller trouxe uma bola ou um livro caixa para o Brasil quando voltou da Inglaterra?

A preocupação dos clubes, o negócio dos clubes, deveria ser futebol. Isso é o que deve ser vendido. E os clientes são os OUTROS torcedores e as mídias (televisão, internet, etc). Sexta feira explico isso um pouco melhor.

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