Grêmio Libertador

O “negócio” futebol – Parte II

E o que deveria ser o negócio futebol? Como escrevi no post anterior, ele não é comprar jogador e vender mais caro do que comprou. Nem revelar da base (ou seja, o mais barato possível) pra isso. Ser um “clube vendedor” até gera dinheiro, mas sustenta o clube como entidade? Forma torcida? (São Caetano e Barueri mandam lembrança). O futebol formou a torcida de todos os clubes antes mesmo dessa loucura  de mercantilização dos atores da bola. É por isso que milionários interessados em ganhar dinheiro (ou lavar, ou ainda, só ter um brinquedo caro) buscam times que já tenham torcida própria, grande o suficiente para o que é realmente o negócio futebol: agradar o seu público.

O “12º homem”, apelido de TODA a torcida presencial do Seahawks na NFL, virou marca forte pro clube.

O esporte futebol tem muita audiência porque é um jogo simples e apaixonante. É essa simplicidade que faz as crianças sonharem em ser algum dos seus ídolos brincando no pátio (rua, escola, quarto) com primos, irmãos, vizinhos, cachorro, árvores (sempre quis ser o Mazaropi). E essa identificação cria a paixão. Que pode ser irracional, destrutiva, negativa. Mas também positiva, permitindo ligações, camaradagens, pertencimento. É esse relacionar, gostar, torcer, identificar que é realmente o “produto” do “negócio futebol”. E isso exige que a agremiação se preocupe com muito mais do que só com compra e venda de jogadores – o que é, até certo ponto, secundário. O “negócio futebol”, pra mim, é, por um lado, espetáculo, e por outro, engajamento.

No quesito espetáculo estão inclusos os aspectos do jogo: um certo padrão identificável (pegada, velocidade, “ser letal”, lances bonitos, muitos gols, etc), uma aparente seriedade na relação do clube com o seu ambiente, além da imagem relacionada ao clube. Títulos ajudam, claro, mas não explicam de maneira nenhuma o que faz as pessoas simpatizarem com uma equipe (principalmente que não seja a sua). O mercado real que os marketings clubísticos precisam estar atentos não é formado só pela sua torcida. Seu torcedor vai comprar produtos baseado nos motivos mais diversos e é sempre limitado pelo seu tamanho. Agora, se o futebol for mais interessante globalmente, fãs consumirão produtos de outros clubes que passam alguma ideia de afinidade consigo. Fãs do futebol brasileiro são raros no Brasil. E isso porque o espetáculo oferecido é pobre.

“Ah, os jogos são ruins e tu ainda não quer que não existam investidores?” Não é só um jogo bonito que traz torcedores pro estádio. Aliás, antes, pelo contrário, o hábito de ir a campo é exatamente isso, um hábito. Conheço muitos amigos que vão pela parceria. E o clube precisa ser a maior parceria do seu torcedor, criando um ambiente agradável, festivo, tranquilo e, principalmente, divertido. Se o time perdeu com pegada, agrada o gremista (um padrão de jogo que gera identificação). Se o dirigente não tenta fazer o torcedor de burro, seja cobrando preços abusivos, seja inventando segunda página para liderar, agrada o seu fã (seriedade gera identificação). Se o uniforme é muito bonito, agrada muitos fãs (identificação pela imagem). Se um clube tem valores claros reforçados por ações, agrada outros fãs (identificação pela marca). São essas identificações que fazemos o tempo todo com nossos amigos, marca de carro, cerveja, etc. Mas, pra isso, o Grêmio precisa conhecer o seu “cliente”.

Assim, a torcida precisa ser tratada em dois níveis: local (que vai ao estádio) e global. E mesmo o caso local deve ser tratado como um ente total. Exemplo: se a maior parte da torcida do Grêmio se diverte com a banda DA GERAL, ela deve deixar de ser da geral e ser do Grêmio. Não há nada de errado em ter uma banda que puxe músicas feitas para/pelo clube (com bom gosto sempre, óbvio), que seja paga pra isso, pra embalar todos os jogos. E também não há nada de errado que sejam integrantes da própria torcida, sócios, quem queira. E, melhor ainda, se essa banda fosse formada também por pessoas carentes que o clube ajuda com um fundo social. Música combina com educação e com esporte. E cria simpatia pelo clube. Isso pode ser conseguido através de hábitos de estádio (como os gritos do nome do autor do gol na Alemanha), de pré-jogo, brincadeiras, desafios (como fazer o recorde de altura de vaia durante a posse de bola do adversário, maior período de lotação máxima, mais jogos seguidos). Gerar identificação.

Essa identificação transborda do estádio através das mídias. A quantidade de exposição na TV aberta é importantíssima pra isso. Principalmente a igualdade de oferta entre os clubes, que faça com que seus jogos alcancem o mesmo número de pessoas. Isso para que a maior quantidade de pessoas não precise escolher entre o jogo do seu time e outros. Da mesma forma que os anunciantes, os clubes se mostram para o público durante as suas atuações. Ser visto em uma condição de não adversário é interessante tanto para gerar identificações quanto diminuir as arestas da imposição de uma derrota dolorosa. E a performance da torcida local é um trunfo na busca pela simpatia dos não torcedores.

Mas isso obriga o clube a agir de forma bem diferente do que atualmente. Ele precisa ser uma entidade bem maior e atuar em diversas áreas. Sobre isso, falo na próxima terça.

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