Grêmio Libertador

Os Muleke são Zika

Passei décadas do meu gremismo repetindo mantras em defesa do respeito a princípios mitológicos sagrados que faziam parte da minha interpretação do conceito “A cara do Grêmio”. Não gostava de ver os cortes de cabelo estilo Neymar ser repetidos nos nossos jogadores da base, simplesmente porque a imitação de um cabelo de um mainstream não faz ninguém jogar a mesma bola, além de denunciar a total falta de personalidade do indivíduo. Não podia dar certo. Jogadores vindos da base com um sufixo diminutivo no nome. Joãozinho, Pedrinho, Ronaldinho me doíam os ouvidos. Houve um tempo que algum treinador, massagista ou motorista do ônibus tratava de resolver estes problemas antes de chegarem ao profissional, determinando uma nova alcunha baseada no sobrenome do guri ou na cidade de origem. Essa pessoa deve ter se aposentado. E deve ter sido logo antes do Fernando resolver jogar com a gola levantada.

Foi também por essa época que fui diminuindo minha intransigência a esses elementos que eu julgava definitivos para que determinado guri fosse dar certo no Grêmio. Um guri que vem da base pra dar certo de verdade, além é claro do treinamento e trabalho que se faz por lá, tem que sai de lá com sua personalidade e intransigência e um pouco de desobediência civil. Se para essa geração isso se traduz no corte de cabelo, funk ostentação, chuteira combinando com as borrachinhas coloridas do aparelho, que assim seja. Desde que tenhamos os Renatos, Marios Fernandes, Andersons que precisamos para ganhar os títulos que não aparecem desde que o termo “Cara do Grêmio” surgiu.

O novo Grêmio 2014 é um bonde, onde quem está tomando a frente são justamente os moleque zika, formados ou não no clube. É o caminho contrário ao que foi tomado no ano passado onde nossa esperança estava na mão de Dida, Elano, Zé Roberto, uns 100 anos de muita experiência e pouco “pra dentro deles”. Um mérito do Enderson Moreira que está tendo olho para lançar essa gurizada no ponto certo, sem passar do ponto e sem serem queimados. Barcos, Riveros, Zé Roberto, Kleber e Edinho são indispensáveis para segurar eventuais broncas de Libertadores, mas os protagonistas para buscar o título são exatamente os Luan, Dudu, Wendel, Ruiz, Maxi, etc. Pra dentro deles! Na disposição.

Comparilhe isso: