Grêmio Libertador

Pirlo mestre

Como o Bonatto está tirando um “período sabático”, aproveito para colocar outro craque pra compartilhar com vocês um pensamento atemporal: o Pirlo. Aquele da Juventus e da seleção italiana. A passagem está num artigo da Trivela retirado da autobiografia dele. Nesse trecho ele fala sobre Mário Balotelli – um cara marrento e constantemente vítima de racismo. Leiam e pensem.

“Eu não tenho certeza se ele sabe disso ainda, mas ele é um tipo especial de remédio, um antídoto para o veneno potencial dos racistas que você encontra nos estádios da Itália. Eles são realmente um grupo horroroso, uma horda de indivíduos frustrados que pegaram o pior da história e assumiram como se fosse deles. E são mais que apenas uma minoria, apesar do que certos bajuladores tentam fazer você acreditar. Esses caras usariam um extintor para pagar um fósforo.

Sempre que eu vejo Mario em um campo de treinamento da Itália, eu lhe dou um grande sorriso. É o meu jeito de informá-lo que estou logo ao lado dele e que ele não pode desistir. Um gesto que significa “obrigado”. Ele é sempre um alvo de insultos dos fãs adversários. Digamos que a forma como leva a vida talvez não o ajude a conquistar muito amor, mas ainda estou convencido que se ele fosse branco, as pessoas o deixariam em paz.

‘Pule alto para Balotelli morrer’ é um grito inominável que, infelizmente, eu ouvi no Juventus Stadium, entre outros lugares. É ainda pior que os barulhos de macacos que eu ouvi em praticamente todo lugar. Mas ao invés de deprimir Mario, esse comportamento idiota na verdade o deixa mais inflamado. Ele não permite que esse lixo humano fique em seu caminho, e é a resposta mais inteligente porque se você ouve o que uma pessoa estúpida diz, você a eleva ao posto de interlocutor. Se você simplesmente ignorá-la (ao mesmo tempo em que registra que infelizmente ela existe) você a está cozinhando em seu próprio mar poluído, onde não há amigos e nem costa. A boa notícia é que mesmo tubarões podem morrer de solidão depois de um tempo. Prandelli passou aos jogadores da seleção uma diretriz bem firme sobre o assunto.

‘Se você ouvir pessoas nas arquibancadas desrespeitando Mario, corra para ele e o abrace”. Nesse conceito, o ódio pode ser cancelado por uma dose equivalente de amor. Não é uma escolha elegante, mas uma ideia muito forte. Estou feliz que Mario seja do jeito que ele é. Ele vai reagir (erroneamente) à provocação no gramado, mas não se permite ser afetado pelo que acontece com o público. Se marcar, pode colocar o dedo nos lábios para tirar sarro dos fãs adversários, algo que realmente os deixa furiosos, mas se eles dizerem que ele tem a cor errada de pele, vai apenas rir na cara deles. Ele os transforma em tolos e emerge como um vencedor. Do jeito que vejo, ele é capaz de se tornar um símbolo da luta contra o racismo, na Itália e ao redor do mundo”

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