Grêmio Libertador

Pra quem é novinho

Faz 18 anos desde o último título de Felipão com o Grêmio. E foi, pra mim, o último grande título que tivemos. Um brasileiro com a cara do Grêmio: enfrentamos o “time sensação”, a menina dos olhos da Rede Globo, no papel de vilão nacional. Todo o Brasil torcendo pelos “meninos da Portuguesa” por um título inédito ao clube (mais um para São Paulo, mas só coincidência) e ainda, lá, tomamos 2×0. E o jogo da volta teve um gol bem no início, do Paulo Nunes e o outro aos 40 do segundo tempo, quando já não havia mais nada além da crença de que: VAI DAR. E deu. Bola alçada na área do meio de campo, escorada de Zé Afonso e bomba de Aílton (eu sou foda, bate palma pra mim).

Agora, que o gringo voltou, gosto mais ainda de lembrar dessa cena. Isso porque pessoas que estão com seus 25, 26 anos nem mesmo lembram do que era torcer pro Grêmio naquela época. Da mesma forma que, pra mim, é completamente inconcebível entender o que se deu em 1983 (“posso apenas sentir”). Há toda uma geração de adultos que se alimenta de lendas e mitos criados gestão após gestão (desastrosa) do Grêmio. E, ainda bem, esses já adultos enganados até hoje estão começando a ver o que era aquela realidade. De quem viveu ela, posso garantir: voltamos aos anos 90.

Felipão. Foto retirada da imprensa da época pelo André Kruse (clique na imagem pra ir pra página)

Foi naquela época que a torcida daqui revoltou o Brasil ao adaptar o FUNK (sim, funk) do “Ah, eu tô maluco”, cantado e copiado aos quatro cantos do Brasil da torcida do Flamengo para “Ah, eu sou gaúcho“. Em mais um episódio clássico de “RS melhor em tudo” (só que não), copiado pelo Juventude e pelo Inter, diga-se, que nos alçou a anti-brasileiros e, portanto, lixo. E nem adiantava gritar que não e ter uma bandeira do Brasil com o símbolo do Grêmio no meio, que voltou na época (que levou o colorados a fazerem uma do RS): como todos éramos xenófobos naquela época, hoje somos todos racistas, ganhamos a pecha.

O futebol também era esse. Muita marcação, quase nunca tomando gol, goleando quem não nos respeita e ganhando de quem respeitava. Como bem diziam os colorados: o Grêmio vencia, empatava ou era roubado. Quem não conseguia entender esse ranço, agora é fácil: lembra do que aconteceu no jogo de ida entre Grêmio e Santos pela Copa do Brasil. 9 em cada 10 gremistas é capaz de dizer que, no futebol, só não vencemos por causa daquela mão não marcada no meio do campo. Era muito difícil ganhar da gente assim, na bola. O líder do campeonato pode atestar que voltamos a esse nível. Por sinal, a última derrota desse time no Brasileiro.

E a expressão “jogando com o regulamento embaixo do braço” é exatamente o que pudemos ver contra os dois últimos rubro-negros: em momentos de futebol distintos, sempre fazer o resultado necessário na hora que precisa. Então, novinhos, fiquem felizes. Não é sempre que temos a possibilidade de viajar no tempo para sentir o passado assim, na pele. O ódio ao Grêmio, o resultado sofrido, a secação que não nos atinge, meio a zero ser goleada, a própria torcida encher o saco de um jogador a temporada toda, um paraguaio no time, um lateral estrangeiro, um centroavante que define, um ponteiro ciscador que inferniza a defesa, um goleiro gremista e formado na base, a estrela do time ser o próprio time. E um cara de bigode pondo ordem na bagaça.

Caros: ressuscitem seus tamagochis.

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