Grêmio Libertador

Quando isso vai acabar?

Parece que foi ontem que eu vim aqui para mostrar uma injustiça braba que o Correio do Povo fez com um jornalista francês em nome da “rivalidade grenal”. (Não, pera, foi ontem). Pois bem, a comoção que gerou nas torcidas mal terminou e já temos um novo campeão: o tal Australiano que disse que o Grêmio era o segundo maior clube da capital. Dessa vez, a pérola partiu do Globo.com. “Ah, teve erro de tradução, mais uma vez”. Não, dessa vez, não*. O que diz na reportagem da Globo é exatamente o que está escrito lá. Mas nos temos algumas omissões bastante importantes. Como por exemplo a imagem abaixo.

O famoso Churrasco “na pedra” e a “típica” Razen Bier.

Quem nunca fez um churrasquinho “típico” desses? E a RASEN BIER, cerveja tradicional de Porto Alegre? Olha, eu já ouvi relatos de gente que faz churrasco com o espeto em pé, em valas. Dizer que isso é o “modo correto” do churrasco gaúcho é uma coisa (discutível, até); mostrar como sendo tradicional, é outra bem diferente. Tradicional é aquilo que a gente mais vê. Aí é só ir nas churrascarias do estado e fazer uma conta. A churrasqueira do salão das igrejas é bem mais comum do que essa. Bem como espetar a carne deitada. Da mesma forma a cerveja. Eu já tinha ouvido falar nessa marca. Foi a reportagem desse australiano que me apresentou a GARRAFA. Eu não sabia nem qual a cara que ela tinha.

O que eu quero dizer com isso? Que, em primeiro lugar, o jornalista australiano não cometeu nenhum grande erro na reportagem. Ele simplesmente falou sobre o que o INFORMANTE dele relatou. Exatamente o mesmo que o francês de ontem. Nesse caso, provavelmente um colorado. “Ah, mas é um burro, como acreditou nisso?” Olha, não necessariamente burro. Ele simplesmente não deu muita importância pra isso. Se o cara que acompanhou ele aqui tivesse dito que as boleadeiras COM NEON que apresentam nas churrascarias GOURMET de Porto Alegre (não acredita? Olha aqui a “performance” do famoso CTG 35) eram usadas para derrubar boi no escuro, era óbvio que isso estaria ressaltado na matéria. O fim da matéria eram só peculiaridades, aí, quanto mais, melhor. E um cara chamado Eric Hobsbawm, um conceituadíssimo e muito inteligente historiador, por exemplo, faleceu recentemente como colorado, acreditando na historinha pra boi dormir que o Olívio Dutra contou pra ele: o Inter teria esse nome em homenagem à Internacional Socialista, como o de Milão. Ele não veio para pensar criticamente o futebol; veio ver uma partida, acreditou e nem pensou sobre isso.

Se é pra achar motivo para chacota entre torcidas, daqui a pouco vão ressucitar a notícia do maior jornal holandês, o De Telegraaf, que diz que os clubes de Porto Alegre são o Grêmio e o Nacional (isso, mesmo sem saber holandês, olha o último parágrafo aqui). Há duas grandes questões aqui: a primeira é que isso não é jornalismo. É chacota de torcedor, que é bem livre, e que deveria ser feita entre amigos em um bar (porque entre desconhecidos pode até acabar mal, infelizmente). É uma tentativa ridícula de ganhar cliques para ganhar mais dinheiro de patrocinadores usando essa “rivalidade” – estimuladíssima por eles, diga-se, por que dá retorno financeiro (tem uma RÁDIO GRENAL de graça, por acaso?).

Em segundo lugar, há algo mais grave nessa coisa toda. O viralatismo. Ao contrário do que muitos dizem, o termo cunhado pelo Nelson Rodrigues não é para aqueles que dizem que tudo aqui é ruim. Na verdade é um pouco mais específico: é aquele que só acredita que o Brasil não é uma merda quando gringo DE GRIFE diz. Como se o Brasil não pudesse se julgar, precisasse da opinião abalizada de quem é “primeiro mundo” (afinal, eles é que são chiques, né?). Esse pensamento já sustentou políticas econômicas (o FMI bem sabe…) e, infelizmente, ainda baliza muita gente. Por que diabos se importar com o que um francês diz sobre o Beira Rio? O que muda na realidade objetiva das pessoas um australiano (que, nesse caso, nem é “primeiro mundo”, mas tem a imagem de possuir cabelos claros e olhos azuis) dizer que o Grêmio é a segunda força do futebol em Porto Alegre? Eles que não manjam PORCARIA NENHUMA de futebol? Se é relevante, por que não perguntaram pros Hondurenhos o que acharam do Grêmio e do Inter? Vão traduzir algum jornal de grande circulação da Coreia do Sul em nome da “rivalidade grenal”? Da Argélia?

Portanto, vamos parar com isso. É feio, tanto para os “jornaleros” quanto pra quem compartilha dizendo que “são eles (os estrangeiros) quem sabem de verdade”. Não caia na deles.

* Até o momento em que esse texto foi escrito (23h de ontem), constava, como a Globo.com informou, o termo second-biggest para se referir ao Grêmio. O jornal australiano retirou. O que corrobora com o mote: não fazia a menor diferença para a reportagem.

PS.: Ah, mas como eu vou fazer uma flauta sem dar grana pra eles?” Nesse post eu usei o Não Fode (naofo.de). Trata-se de um encurtador de links que cria um espelho da página para que o teu clique não apareça na página de origem. Ou seja, tu compartilha, mas eles não ganham nenhum centavo com isso. Recomendo, viu?

Comparilhe isso: