Quando isso vai acabar?

2 Postado por - 18 de junho de 2014 - Artigos

Parece que foi ontem que eu vim aqui para mostrar uma injustiça braba que o Correio do Povo fez com um jornalista francês em nome da “rivalidade grenal”. (Não, pera, foi ontem). Pois bem, a comoção que gerou nas torcidas mal terminou e já temos um novo campeão: o tal Australiano que disse que o Grêmio era o segundo maior clube da capital. Dessa vez, a pérola partiu do Globo.com. “Ah, teve erro de tradução, mais uma vez”. Não, dessa vez, não*. O que diz na reportagem da Globo é exatamente o que está escrito lá. Mas nos temos algumas omissões bastante importantes. Como por exemplo a imagem abaixo.

O famoso Churrasco "na pedra" e a "típica" Razen Bier.

O famoso Churrasco “na pedra” e a “típica” Razen Bier.

Quem nunca fez um churrasquinho “típico” desses? E a RASEN BIER, cerveja tradicional de Porto Alegre? Olha, eu já ouvi relatos de gente que faz churrasco com o espeto em pé, em valas. Dizer que isso é o “modo correto” do churrasco gaúcho é uma coisa (discutível, até); mostrar como sendo tradicional, é outra bem diferente. Tradicional é aquilo que a gente mais vê. Aí é só ir nas churrascarias do estado e fazer uma conta. A churrasqueira do salão das igrejas é bem mais comum do que essa. Bem como espetar a carne deitada. Da mesma forma a cerveja. Eu já tinha ouvido falar nessa marca. Foi a reportagem desse australiano que me apresentou a GARRAFA. Eu não sabia nem qual a cara que ela tinha.

O que eu quero dizer com isso? Que, em primeiro lugar, o jornalista australiano não cometeu nenhum grande erro na reportagem. Ele simplesmente falou sobre o que o INFORMANTE dele relatou. Exatamente o mesmo que o francês de ontem. Nesse caso, provavelmente um colorado. “Ah, mas é um burro, como acreditou nisso?” Olha, não necessariamente burro. Ele simplesmente não deu muita importância pra isso. Se o cara que acompanhou ele aqui tivesse dito que as boleadeiras COM NEON que apresentam nas churrascarias GOURMET de Porto Alegre (não acredita? Olha aqui a “performance” do famoso CTG 35) eram usadas para derrubar boi no escuro, era óbvio que isso estaria ressaltado na matéria. O fim da matéria eram só peculiaridades, aí, quanto mais, melhor. E um cara chamado Eric Hobsbawm, um conceituadíssimo e muito inteligente historiador, por exemplo, faleceu recentemente como colorado, acreditando na historinha pra boi dormir que o Olívio Dutra contou pra ele: o Inter teria esse nome em homenagem à Internacional Socialista, como o de Milão. Ele não veio para pensar criticamente o futebol; veio ver uma partida, acreditou e nem pensou sobre isso.

Se é pra achar motivo para chacota entre torcidas, daqui a pouco vão ressucitar a notícia do maior jornal holandês, o De Telegraaf, que diz que os clubes de Porto Alegre são o Grêmio e o Nacional (isso, mesmo sem saber holandês, olha o último parágrafo aqui). Há duas grandes questões aqui: a primeira é que isso não é jornalismo. É chacota de torcedor, que é bem livre, e que deveria ser feita entre amigos em um bar (porque entre desconhecidos pode até acabar mal, infelizmente). É uma tentativa ridícula de ganhar cliques para ganhar mais dinheiro de patrocinadores usando essa “rivalidade” – estimuladíssima por eles, diga-se, por que dá retorno financeiro (tem uma RÁDIO GRENAL de graça, por acaso?).

Em segundo lugar, há algo mais grave nessa coisa toda. O viralatismo. Ao contrário do que muitos dizem, o termo cunhado pelo Nelson Rodrigues não é para aqueles que dizem que tudo aqui é ruim. Na verdade é um pouco mais específico: é aquele que só acredita que o Brasil não é uma merda quando gringo DE GRIFE diz. Como se o Brasil não pudesse se julgar, precisasse da opinião abalizada de quem é “primeiro mundo” (afinal, eles é que são chiques, né?). Esse pensamento já sustentou políticas econômicas (o FMI bem sabe…) e, infelizmente, ainda baliza muita gente. Por que diabos se importar com o que um francês diz sobre o Beira Rio? O que muda na realidade objetiva das pessoas um australiano (que, nesse caso, nem é “primeiro mundo”, mas tem a imagem de possuir cabelos claros e olhos azuis) dizer que o Grêmio é a segunda força do futebol em Porto Alegre? Eles que não manjam PORCARIA NENHUMA de futebol? Se é relevante, por que não perguntaram pros Hondurenhos o que acharam do Grêmio e do Inter? Vão traduzir algum jornal de grande circulação da Coreia do Sul em nome da “rivalidade grenal”? Da Argélia?

Portanto, vamos parar com isso. É feio, tanto para os “jornaleros” quanto pra quem compartilha dizendo que “são eles (os estrangeiros) quem sabem de verdade”. Não caia na deles.

* Até o momento em que esse texto foi escrito (23h de ontem), constava, como a Globo.com informou, o termo second-biggest para se referir ao Grêmio. O jornal australiano retirou. O que corrobora com o mote: não fazia a menor diferença para a reportagem.

PS.: Ah, mas como eu vou fazer uma flauta sem dar grana pra eles?” Nesse post eu usei o Não Fode (naofo.de). Trata-se de um encurtador de links que cria um espelho da página para que o teu clique não apareça na página de origem. Ou seja, tu compartilha, mas eles não ganham nenhum centavo com isso. Recomendo, viu?

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5 + comentários

  • Gustavo 18 de junho de 2014 - 10:55 Responder

    Olá Fagner, teve erro de tradução na reportagem da globo SIM. A parte traduzida por eles diz em ingles: “It’s a stronghold for Gremio fans, one of the two big clubs in the city.” Pois bem, em inglês “one of the two” significa “um dos dois”. Não tenho ideia da onde eles tiraram que isso quer dizer “o segundo maior clube da cidade”. Sem ser paranóico demais, é de pensar mesmo que foi de propósito, até o tradutor do google traduz como “um dos dois grandes clubes da cidade.”

    • Fagner 18 de junho de 2014 - 13:35 Responder

      Oi Gustavo, o texto do jornal australiano foi alterado. Antes constava “second-biggest” para se referir ao Grêmio. Toda a passagem desta citação foi suprimida.

      Saludos,
      Fagner

  • Marco 18 de junho de 2014 - 11:39 Responder

    Bom dia….
    Belo texto Fagner, vai contando até o final desta copa quantas reportagens de jornalistas estrangeiros sobre a dupla Grenal sendo que o foco são as seleções e não os clubes brasileiros.Escuto diariamente programas esportivos e na sua maioria os jornalistas e comentaristas ditos isentos são os maiores incentivadores da rivalidade grenal fora de campo…Um abraço

  • Thiago 18 de junho de 2014 - 13:01 Responder

    Bolhadeiras?

    • Fagner 18 de junho de 2014 - 13:36 Responder

      É que elas dão bolh… brincadeira, não notei e escrevi errado. Corrigi.

      Saludos,
      Fagner

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