Grêmio Libertador

Saco cheio

O maior problema de quando o Grêmio perde é que os invencíveis aparecem. E com 15 anos sem título, os invencíveis estão mais invencíveis do que nunca. Nada presta. De massagista até a bola, tudo do Grêmio é ruim. Porque não é título, só título que importa. Não interessa que a década de 10 tenha dado anos luz mais alegrias do que a os primeiros anos desse século. O que importa é aquele lampejo, aquela agonia de um time ferido de morte por um contrato porcamente conduzido, que logo ali cobrou o seu preço.

O Grêmio caiu em 1992. Depois de um título mundial, um hexacampeonato de Ruralito e o título da primeira Copa do Brasil ninguém achou que isso poderia acontecer. Tivemos craques nos elencos, revelações vendidas por milhares de dólares. E caímos igual. Subimos relaxadamente, quase porcamente, praticamente pedindo pra levar mais porrada. Se não fosse a alteração de regulamento dando 12 vagas pra série A não teríamos subido.

Voltamos com uma política de pé no chão. De não gastar mais do que recebe. De revelar jogadores. De investir no trabalho de um treinador. E tivemos muita sorte de conseguir um título logo em 1994. Aquela Copa do Brasil com o gol de cabeça do Nildo. O estopim para colhermos o fruto daquele trabalho iniciado lá no retorno da segundona. Um título renomado por ano até 1997, pelo menos. E o que fizemos?

O Conselho elegeu a oposição. Não tava bom ganhar só uma Copa do Brasil e “fazer fiasco” na Libertadores. Porque classificar com as calças na mão em 1998 era ridículo pro time do Grêmio. Não se vendiam craques. Se assinava cheque no verso pra não pagar quem devia receber dinheiro. Porque o mesmo conselho achou que seria uma boa assinar com a ISL (como achou ótimo o negócio da Arena, agora). Porque a direção achou que seria ótimo manter os jogadores que seriam pagos com aquele dinheiro que não viria mais depois da falência da empresa.

Caímos pra segunda em 2004 porque não aprendemos merda nenhuma em 1992. Montamos times impagáveis, contratávamos jogadores que não eram melhores do que os nossos da base, vinculamos a conquista de títulos a jogadores renomados. Não dava pra ser campeão sem investimento, então investiam o que não tinham. A conta chegou. Ela sempre chega.

De 2005 até 2010 tivemos espasmos. O título da série B veio mais com sorte do que juízo. Conseguimos chegar no vice campeonato da Libertadores em 2007 com um time que investiu em desconhecidos (os medalhões de sempre falharam miseravelmente, com salários pornográficos e no banco). 2008 veio um vice-campeonato Brasileiro sólido com quase meio time da base.

A década de 10 começou com nosso último título e um quarto lugar que levou pra Libertadores. Mesmo com brigas, conseguimos repetir a classificação em 2012 (terceiro lugar), 2013 (vice-campeão) e 2015 (terceiro lugar). Com estratégias completamente esquizofrênicas ora tentamos contratar à peso de ouro, ora precisamos usar a base porque os salários são absurdos. Tudo isso por causa dessa merda de “pressão por um título”. Andamos em círculos porque uma quantidade barulhenta de torcedores simplesmente só quer saber de título e tem preguiça de ver onde isso pode levar.

Vi meu time ser rebaixado duas vezes. Duas fucking vezes. Que se foda o jejum. Eu não quero voltar pra série B. Por isso eu não encho o saco “exigindo” título. Por isso eu entendo quando o time consegue fazer bem o seu papel mesmo limitado financeiramente. Por isso eu fico feliz quando fazemos merda nos salários mas conseguimos resolver no ano seguinte sem lutar contra o rebaixamento. Por isso eu pareço “pago” pela direção, como já me acusaram aqui. Eu quero trabalhos com algum sentido. Não aquela maluquice que foi 2001-2002-2003-2004-2005. Milhões de vezes a nossa sequencia atual, sem nem Ruralito, mas sem nenhuma proximidade com aquele inferno. Título não pode ser a qualquer preço.

Não tá tudo errado. Foto do Lucas Uebel/Grêmio Oficial (via Flickr)

E não podemos simplesmente esquecer isso agora pra exigir saída de treinador. Pra lamentar e lamuriar ridiculamente ao fim do primeiro quarto do campeonato. Pra fazer terra arrasada e encher o saco em comentário só por causa de um resultado. Não é porque se escalou um time errado que tá tudo errado. Não é porque perdemos por falhas de x ou y que temos 15 anos de jejum. Temos 15 anos de jejum porque ignoramos o que fazemos direito em nome de título. Porque “só o que importa é título”.

É por isso que o título desse post é esse. Porque é o único que me interessa agora. Grêmio, ganha alguma coisa. Já tô de saco cheio de aguentar babaca.

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