Grêmio Libertador

Calando a minha boca

Quando o Grêmio contratou o Roger,  eu disse aqui que era mais uma da série pensamento mágico (tipo jogar só  com o terceiro uniforme em casa) do que uma solução lógica. Que, inclusive, haviam nomes melhores no mercado e que deveriam ter prioridade na contratação. Porém, como esses últimos sete jogos mostram, eu estava completamente enganado.

Roger, o cara do Grêmio nesse brasileirão. Foto: Lucas Uebel/Grêmio Oficial (via Flickr)

De fato, essa não foi a primeira vez que isso me ocorreu.  Em 2010 eu detestei a contratação do Renato pro lugar do Silas. Eu ainda acreditava que aquilo eram apenas resultados  ruins e o cara merecia seguir trabalhando. E a insistência do Renato no Vílson volante me deixava desesperado. Mas ele conseguiu montar um ótimo esquema, copiado à exaustão em 2011 (e substituído como moda apenas depois do Corínthians campeão da LA com o 4-2-3-1 do Tite), ganhando a minha admiração. Tanto que não me surpreendeu em nada os resultados de 2013. Já tinha falado que ele merecia respeito. É um grande treinador – considero um dos melhores da atualidade, inclusive – embora muitos insistam que não.

E o que faz a campanha do Roger me fazer admitir, num estágio ainda tão curto do trabalho, que temos em mãos um ótimo treinador? Sem dúvida não são os pontos conseguidos. Aliás, mesmo se não conseguirmos um G-4 eu já renovaria com ele pro ano que vem. E isso vem do simples fato de que precisou de menos tempo que o Renato pra acertar o time do Grêmio. Roger conseguiu criar uma maneira INÉDITA (pelo menos pra mim) de jogar. A maneira como jogamos não se encontra na Europa, no Brasil, na Argentina. O Roger não veio com esquemas para testar  no elenco. Ele fez o que poucos sabem fazer: colocou os melhores jogadores nas funções onde tem o melhor rendimento. À Guardiola (e não estou exagerando). Que se fodam os esquemas da moda.

Esse Grêmio do Roger mata todo o mundo atacando em um 4-2-4 e defendendo em 4-4-2. Giuliano e Pedro Rocha tem a missão de voltar pra ajudar – o que, também, é um conceito fluido. A linha de ataque sem centroavante conta com pivôs e tabelas de quem estiver no lugar. A posição de início é Giuliano e Pedro Rocha abertos, Luan e Douglas no meio, mas tu vai ver isso mudar ao longo do jogo inteiro. Com a ajuda sempre de um da defesa (qualquer  um dos  volantes ou laterais) fica muito difícil de marcar. E se colocar marcação individual, então, aí tu assinou  a sentença de morte. E mais: com esse esquema de jogo, até contratações não são mais tão necessárias. Temos “pé-de-obra” até o final da temporada. Podemos nos concentrar em ter apenas um “extra-classe”. Nada de pacotões. Maxi Rodriguez, Ramiro e, talvez, até o Fernandinho, são mesmo reforços para o segundo semestre. Mais um. Dois, no máximo, se for negócio de ocasião.

É claro, isso não é pra sempre. Se eu já estou enxergando isso faz algum tempo, é óbvio que os adversários, com gente que vive disso, também já viram. Uma hora vão conseguir nos marcar (ou não, né, em 1995 e 96 ninguém sabia  parar a “única” jogada do Grêmio). Aí é o que  separa os ótimos treinadores dos “top-de-linha”: sacrificar as suas escoras, os esquemas que já garantiram resultado, os jogadores que estavam rendendo bem por jogadores mais indicados para os novos esquemas.

Mas isso é pra ver depois. Roger, obrigado por queimar minha língua tão rápido.

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