Grêmio Libertador

Injustiça, violência e contextos

(Esse texto só faz sentido se lido depois do pós-jogo Grêmio 0 x 0 Santos, pelo Campeonato Brasileiro de 2014. Leia ao menos a nota no final antes de prosseguir).

Como assim, se ofenderam? Por acaso eu não posso mais chamar de otário? Qual é o problema em chamar assim? Por acaso é ofensivo?

(…)

Vocês precisam entender que eu vim do calor do jogo, onde vi isso e escrevi assim, por escrever. A intenção não era ofender. Só escrevi porque a galera do bem estava fazendo o mesmo.

(…)

Olha, pelos comentários de vocês ao post, eu é que estou ofendido! Como vocês podem me chamar assim! Meu deus! Vocês são monstros! Eu tenho sentimentos, sabia?

(…)

Descobri! Vocês tão fazendo esse draminha aí só pra me ferrar! Seus merdas! Vocês tão me prejudicando! Estão passando por cima de um direito meu pra criar aprovação da imprensa pra essa palhaçada! Da próxima vez vai ser pior! Espera o próximo post! Torcida, otária! Torcida, otária!

Essa justificativa parece ridícula? Não te preocupa. É mesmo. E tem um objetivo. O post de ontem e o post de hoje se completam e procuram copiar os passos do “caso Aranha”. Esses dois posts tem as três coisas que o título desse anuncia. A injustiça é clara: como é que eu simplesmente saio por aí xingando toda a torcida do Grêmio que vaiou  o Aranha ontem? Eu estava lá, vi de perto a reação da torcida. Na primeira vez que ele pegou na bola, rolou vaia –  uma daquelas que parece pedir autorização, daquele tipo que só a concordância da “galera” consegue dar confiança pra seguir fazendo. E, nesse primeiro momento, o comportamento da Geral (do lado sul da Arena, onde estava) pareceu exemplar: cantaram e deslocaram o foco da vaia. Porém, depois disso, o Aranha foi manhoso, esperando mais vaias. Coisa que qualquer goleiro faria e que já vaiamos milhares de vezes. Porém, esse não era um jogo qualquer, como eu já escrevi. Era um jogo onde a gente precisava não ser burro, não “cair na do Aranha”, como disse o Felipão ao longo da semana. Não foi o que ocorreu.

Aí vem a segunda parte do título. A torcida não se comportou como deveria. Não foi inteligente. Pode ser (e vai ser) interpretada exatamente como o Aranha fez: a torcida que vaiou é porque dá apoio pra Parícia “Única racista do Mundo” Moreira. Em resumo, me irritou. Então, eu descarreguei violência. Tomei o cuidado de não usar nenhum tipo de xingamento que pudesse ser levado pelo lado da homofobia, misoginia, racismo, etc. Isso fez eu deixar de ser babaca por isso? Fez o meu argumento ter mais razão? Pois é. É o que a violência (como chamar de macaco, dar um soco ou proibir) faz com os argumentos. Deixa eles ofensivos, arrogantes, sem razão.

A justificativa que coloco no início é o que nos leva ao final do título: o contexto. Vamos deixar o caso concreto de lado e vamos pensar nesse caso. Eu não tinha o direito de ofender os leitores. Muitos deles nem mesmo estiveram na Arena ontem. Muitos dos que efetivamente vaiaram fizeram como fariam em qualquer partida. Mas há um contexto muito claro aí. E esse contexto não permite que as coisas sejam lidas pelos outros de forma diferente. A reação que descrevi, me colocando como vítima, é forçar a barra. Ela se sustenta no direito que eu tenho de chamar alguém de otário e exigir que essa pessoa não se ofenda. E esse direito simplesmente não existe. Como a base é irreal, todo o processo de me transformar em vítima se torna sem sentido, ridículo. Como vocês notaram.

Existe um agravante que eu não consigo passar para vocês, mas que o esse cara aí de baixo possa (perde um tempinho e olha com o coração aberto). Racismo não é nem palavrão. É uma ofensa muito maior que uma palavra. Não existe comparação possível entre se sentir ofendido com racismo e se sentir ofendido com cera, ou com “otário”.

Por falar em ofensa, espero que vocês tenham entendido o que quis fazer. E me perdoem pelo método violento de fazer. A gente sempre pode evitar. Eu simplesmente não quis. Achei que ia ser mais fácil assim.

Pensem nos seus atos.

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