Tinha estúdio. Tinha convidados especiais. Tinha mestre de cerimônias. Tinha bandas. Tinha transmissão em canal de TV fechada. Tinha pioneirismo, marca registrada do tricolor.
Só não tinha talento, criatividade, profissionalismo e organização.
É triste perceber que o que deveria ser uma festa se tornou um velório.
O Grêmio copero e imortal de 2016, 17 e 18 foi infectado pelo vírus do convencimento, passou 2019 no respirador e foi enterrado ontem em uma cerimônia muito aquém do tamanho das suas conquistas.
A comemoração de uma das datas mais importantes na história do Grêmio é um retrato atual do clube dentro e fora de campo.
Ontem o Grêmio conseguiu, em uma celebração, reproduzir toda decepção que a torcida vem sentindo a cada jogo. Após um espetáculo deprimente, mal dirigido e produzido com vídeos toscos, os gremistas foram dormir com raiva.
É como se a produção horrorosa da festa fosse os laterais que não apoiam. A escolha dos personagens, os balões pra área. As pessoas passando em frente às câmeras, a falta de marcação e compactação do meio pra frente. O despreparo, e até desprezo, da delegação no Chile, a falta de treino e jogadas ensaiadas.
E por favor, não me venham com números de audiência para justificar um “sucesso” – como fazia a tragicômica gestão Obino.
Não coloquem a culpa da raiva sentida na frustração de uma expectativa criada pela própria diretoria em torno de uma contratação extremamente difícil.
Em 5 minutos, o esforçado (e não mais que isso) mestre de cerimônias poderia muito bem eliminar qualquer expectativa da torcida em torno do anúncio de uma contratação.
Pelo contrário: durante a semana, e a cada minuto do evento, o roteiro da live e as redes sociais oficiais do clube estimulavam a fantasia dos torcedores.
Como uma pessoa carente de atenção, o Grêmio gritava totalmente nu, em cima de um poste, com uma melancia pendurada no pescoço, filmando tudo numa selfie no TikTok.
E neste quesito, parece que vestiário e diretoria estão perfeitamente entrosados.
Nosso técnico é um ídolo.
Um vencedor na vida e no esporte.
Um personagem.
Ele pode ser fanfarrão e folclórico.
A instituição, não.
O Grêmio é maior que todos nós: comissão técnica, jogadores, diretoria e torcida. Mas parece que somente a torcida vem fazendo a sua parte. Mantendo a mensalidade em dia, comprando artigos oficiais, acompanhando os jogos – e eventos – mesmo à distância.
Não consigo ver a mesma seriedade e comprometimento do lado de lá do balcão.
Algo precisa ser feito para se recuperar a humildade. E a solução para isso não está restrita ao vestiário, ou resultados em campo.
O Grêmio é grande. Enorme. Planetário. Mas fica menor a cada dia que passa nas mãos de quem não entende a sua real grandeza.
Não é momento de brincar com os sentimentos do principal patrimônio do Grêmio. Nós, torcedores, não merecemos isso.
Escolhendo com muita tristeza cada palavra acima, assina Tiago Russell.
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