Grêmio Libertador

Sem subestimar, mas sem criancice

Parece que a polêmica do dia é uma “relação” feita pelo Túlio Milmann, um ananá da RBS que adora dar uma de outsider, entre a escolha do número do Giuliano e o nazismo. É claro que esse é um assunto importante. É claro que não é a primeira vez que a RBS levanta essa bola. Esse é um problema mundial e muito presente. Pra quem não sabe, o Rio Grande do Sul tem uma cena nazista FORTE, e não é de hoje. Grupos neonazis vivem em embates contra gays e punks, principalmente, na Cidade Baixa ou na Redenção. Muitos deles, em função do racismo que faz parte do movimento (por mais imbecil que eles sejam, já que apanhariam de neonazis alemães se estivessem soltos lá por serem latinos), escolheram torcer pelo “time dos alemães”, o Grêmio. E, pra eles, o 88 tem uma simbologia – logo, a escolha pode, sim, fazer algum tipo de sentido e soar como “legal” pra esses idiotas.

Giuliano é apresentado com a 88 (Foto Lucas Uebel, Grêmio Oficial – via Flickr)

Da mesma forma que isso é algo importante, isso também é algo que está sendo exagerado. O número 88 é um símbolo para os nazistas, mas, antes disso, é um número. O Giuliano gosta do 8, que estava ocupado; logo, usou o 88, como o André Lima, que queria ser o 9, usou o 99 quando jogou aqui. A Itália, por exemplo, onde o racismo institucional teve muito mais peso que aqui (o fascismo do partido do Mussolini e seus camisas pretas) e onde a ligação com o nacional socialismo alemão é mais forte (a SS Lazio que o diga), aprendeu a relativizar isso. O Hernanes, que se transferiu pra Internazionale de Milão, usa a camisa 88. O Anderson, aquele mesmo dos Aflitos, usa a camisa 88 na Fiorentina. O Felipe Mello também vestiu a 88 na Fiorentina (mudou para a 4 na Juventus). Aqui no Brasil mesmo, o Luan, quando trocou o Palmeiras pelo Cruzeiro optou pelo número. O Cléber Santana foi o 88 do Avaí.

“Então o problema é só com o Grêmio?” Sim e não. Não pela lógica do número. Se o 88  é um problema para o Brasil, vamos proibir essa camiseta? Vamos pensar um pouco sobre isso. A mensagem subliminar do 88 é a posição das letras no alfabeto. A oitava letra é o H. Assim, 88 é HH, ou “Heil Hitler”. Porém, na Alemanha, o policiamento às atitudes dos neonazis (que, pra quem não sabe, tem aumentado de  número em função da imigração e da diminuição das conquistas da antiga Social Democracia sufocada pelo liberalismo do partido da Merkel), não é burra: percebeu que o 18, pela mesma lógica, é AH, ou “Adolf Hitler”. E aí, vamos proibir isso também? Vamos cobrar todos os jogadores que escolhem o 18? Óbvio que não.

Mas, sim, o problema foi levantado por que é com o Grêmio. E se, nesse caso, ser o Grêmio é o problema, o que fazer? Bem, em primeiro lugar, tratando o assunto com maturidade. Óbvio que não se vai trocar a camiseta do Giuliano. Também é óbvio que não vai se deixar assim, simplesmente. O Grêmio tá sofrendo essa “perseguição” por inação. Já fez ótimas campanhas contra o racismo. Mas é pouco pelo grau de ignorância da maioria dos torcedores. Temos torcedores homofóbicos, por exemplo. E, pior, que SE ORGULHAM DISSO (duvida? olha aqui). Não é algo que, simplesmente, se deixa passar. O Grêmio precisa se livrar dessa pecha de racista, homofóbico, alemão. Tudo o que faz esses assuntos sempre serem relacionados SÓ com o Grêmio. Mesmo que não tenha culpa nisso. Foi colado nele e não é nada bom (se alguém quiser não ser humano para admitir isso,  pelo menos pense nas punições possíveis). O Grêmio precisa de mais campanhas de conscientização, mostrar para os torcedores que isso é não ser humano, é ser babaca. Educação é o caminho; proibição de números, não. Enquanto o Grêmio não se der conta disso, vamos seguir tendo que vir aqui discutir coisas aparentemente absurdas.

Deixo vocês com um exemplo prático: o Borussia Dortmund contra o nazismo.

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