Campeonato Estadual é vício. O Gauchão, doença terminal.

1 Postado por - 14 de março de 2016 - Artigos

Texto enviado por André Foresti.


 

Já sabemos. Clubes estão quebrados e federações ricas. Crise sem precedentes no futebol brasileiro. Veja o exemplo no Rio de Janeiro. Os “grandes” do futebol carioca e brasileiro, cada dia se apequenam mais se afundando em dívidas e má gestões. Mas daí vem uma Taça Rio, Guanabara, Leblon e essas porcarias que inventam e dá a falsa sensação de sucesso ao torcedor. Quase como morfina diante da dura realidade.
Uma vida cíclica, sempre alguém na série B, mas com volta olímpica e piadinha sobre o rival na segunda feira. Um modelo lá do início do século passado. Vejam bem, século passado.

Falando em século passado, é de 1919 o nosso ~charmoso~ gauchão. Num tempo que o time de futebol inteiro não valia o passe de um jogador de base da dupla. São quase 100 anos de futebol, e de mundo. Incompreensível colocar um time de 50 milhões de euros a jogar com um time formado as pressas, por caridade de empresários locais para satisfazer sua comunidade. Nenhum esporte de alta performance no mundo proporciona isso. E nem vou entrar na questão técnica, de gramados, etc…

Bom, vocês devem estar pensando quando vou chegar no assunto Bolaños, né? Em breve. Mas juro, não é mimimi de quem tá chateado com a lesão. Antes disso, mais um elemento que é a gasolina da papagaiada: A boa e velha imprensa.

Mais velha do que boa, esse é o último guardião pra que a gente nunca saia desse vício e caminhe com o mundo do futebol. Existe uma agenda. Não importa o que aconteça, o ponto de vista já está claro e definido. Antigamente, ela apenas cobria o evento e hoje é parte do “produto” Campeonato Gaúcho. Vende isso para seus clientes, aliás. Basta o time recuar no Ruralito que começa a pilha na torcida “média”, aquela que vai na onda e joga pipoca em carro de jogador. A chantagem pelo “medo do clássico” é o último recurso para fazer um time, que estava focado em outra coisa, entrar na disputa. Grêmio e Inter já tentaram inúmeras vezes esvaziar o Gauchão. Mas, com a baixa performance, veio a porrada da imprensa com crises e demissões forjadas a técnicos que talvez poderiam ter continuado.

A verdade é essa: o estadual vale pelo grenal e seu folclore. E só. Se os grandes jogassem 2 jogos valendo a taça, ida e volta, o impacto seria o mesmo do que esses famigerados jogos. “Ah, mas importante para o Interior?” Oi? A média de público é de 500 pessoas (piada!) contando a família dos jogadores (não piada!). O interior estaria mais mobilizado se existisse de fato uma disputa entre eles, com rivalidade entre eles.
A taça não vale nada. Vale a história do jogo e a gozação com os amigos. Só.

E o Bolaños? Bom, é só mais um caso. Não será o primeiro e, infelizmente, não será o último. Para não grenalizar, podia sim ter sido o Rodrigo Dourado, excelente jogador que ganhará o mundo em breve, que recebeu uma entrada também criminosa do Maicon. Vi o Juninho Pernambucano falar que ele não quebrou a perna porque na hora H o Maicon não pisou com tudo. Tomara que tenha sido isso. Mas sim, o choro e reflexão podia ser do lado de lá. Os jogadores precisam parar. São profissionais ou não? Merecem os salários que ganham? As vezes parece que eles saem da várzea mas a várzea não sai deles. Podemos discutir tudo: pênalti aqui ou ali? Falta? Árbitro local? Critérios? Tudo.
Só não dá pra dizer que o lance do rapaz do Inter (que nem vou dar moral de citar o nome) foi “acidente”. Isso é pilha. É chinelagem.
Pilha da semana, da mobilização, do perfil de quem os comanda. Energia a mais por um simples pedido por arbitragem isenta soar como desafio ou desaforo ao coronelismo local. RS: melhor em tudo. Pilha que vira a discussão tacanha pelos metros da área técnica, que óbvio, não é por 1 metro a mais e sim pra patifar o jogo. “Tem que pintar, senão não vamos entrar em campo”. Pelo amor de Deus. Dias antes a LDU foi lá num campeonato bem mais relevante, tomou 4 e jogou e isso não foi assunto. Pequenos. Eles, nós.

Mas sabe por que isso acontece? Começa na Federação e seu modelo de gestão, sucessão, oratória, argumentação. Lembra muito um período da história do Brasil que estudamos no colégio: Coronelismo? Ditadura?

Na boa, chegou a hora de decidir. Futebol é um negócio ou não? Se for, não cabe sucumbir a esse circo sem fundamento, propósito e vantagem.
Se não querem entrar nessa lógica de clube-empresa, esqueçam investidores, finanças e passemos o ano jogando grenais. Todos os Domingos. Mas daí não precisamos craques. Vamos, Grêmio e Internacional, colocar em campo os gladiadores da vez. Pão e Circo. E venda de anúncios em rádio e jornal.


 

André Foresti. Gremista, cozinheiro, publicitário, estrategista de marcas exilado em São Paulo

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4 + comentários

  • Teresinha de Vargas 14 de março de 2016 - 02:30 Responder

    Parabéns pelo texto, muito preciso e claro. Infelizmente não vejo perspectivas de mudanças para melhor. A ganancia e tanta ,que só vai mudar se acabar com a podridão que existe dentro das federações ou acabar com elas. Livrando os Clubes dessas ervas daninhas, cipós parasitas que sugam até ver os Clubes se terminarem em dividas.

  • De Leon 14 de março de 2016 - 07:30 Responder

    Bom dia.

    É sobre a administração do Grêmio? Poderia fazer um texto?
    Sobre o presidente falastrão, o Rui Costa (este sim coronel MASCARADO), nossos vices das respectivas áreas fazendo cagadas e escondendo a cabeça no buraco? O perfil chinelão e vagabundo que está impregnado em nosso vestiário? Podreiras como Douglas, Maicon, Edinho e demais, que vem ano após ano serem os cabeças do elenco?

    É sério que o atual momento do GRÊMIO, que não conquista bosta nenhuma há quase duas décadas, passa deriva de Campeonato Gaúcho, FGF, RBS, Noveletto?

    Nas décadas passadas o GRÊMIO passava por cima de tudo isso, e sempre foi preterido por globo, cbf, stjd. RESULTADO? TÍTULOS!!!

    Por favor GRÊMIO LIBERTADOR, nos presentei com um texto lúcido, apaixonado e principalmente crítico.

    Desculpas repetitivas passam a imagem de covardia, mesmice, chinelagem.

    Grato

  • Mano 14 de março de 2016 - 09:43 Responder

    Tudo isso se deve ao fato do Grêmio não ganhar nada relevante a muito tempo.
    Gauchão chegou a ser chamado de cafezinho, hoje é uma refeição. Não aquele filé mignon, mas aquele feijão com arroz que mata a fome pra mais um dia de trabalho.

    Infelizmente, contra canalhice não tem o que fazer, a cotovelada poderia ser contra a LDU, San Lorenzo. Ter sido no Grenal apenas exacerba os ânimos e exponencia a canalhice.

    Dá raiva. No fim, torcedor é tudo meio otário, porque o torcedor só tem a sua paixão. E quer que o jogador compreenda isso. Mas a verdade é que se botou grana no negócio, acabou a paixão.
    E precisamos aceitar isso. Queremos apenas um ponto de equilíbrio pra gente se enganar sem se sentir roubado ou usado.

  • Ezio 15 de março de 2016 - 00:10 Responder

    O texto tem seu fundamento mas como o De Leon comentou e que já testemunhei, sou gremista há pelo menos 36 anos e SEMPRE a FGF funcionou a serviço dos colorados, o Noveletto é somente mais um pau mandado da padre cacique. A grande diferença é que o GRÊMIO colocava tanto essa chinelagem da FGF como o Inter em seus devidos lugares e mostrava quem mandava no RS. Falta esse tipo de atitude na instituição GRÊMIO nesses ultimos 15 anos.

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