Critérios na Base

0 Postado por - 6 de março de 2012 - Artigos

Em janeiro desse ano assisti revoltado a campanha do Grêmio (sub-18) na Taça São Paulo de Futebol Júnior. Tivemos partidas com muitos gols da nossa parte mas sempre a mesma realidade: não tínhamos a menor qualidade de passe. O meio campo, mal e porcamente, sabia destruir jogadas. O goleiro, embora acima do peso, tinha bom reflexo e posicionamento e, mesmo em jogos em que goleamos, se destacou por defesas difíceis. O ataque brigador, porém sem muita técnica. O pior jogo foi aquele que, somado a isso, passeamos em campo: a goleada para o Grêmio Osasco. Se o jogo tivesse mais 90 minutos, teríamos tomado o dobro de gols sem fazer nenhum.

Eis que ontem aparece nos jornais eletrônicos uma contratação do Grêmio para a base: Danrlei, o atacante que, sozinho, fez três gols contra o tricolor naquele jogo. Aí eu olho para a base e penso: quem foi a última grande revelação da base do Grêmio? Seria o Anderson, claro. Mas depois ainda teve o Rafael Carioca. E aí se vão três anos. E o resto? Nada. Mário Fernandes e o Lucas vieram na mesma condição que o Danrlei: para a base e, em um ano, já com o principal e jogando bem. O primeiro veio do São Caetano e o último do Caxias. Não foram formados aqui. Por que isso acontece?

É uma matéria muito difícil de saber. Porém, uma coisa é certa: se o Grêmio não tem muitos critérios definidos para a base, um é invariável, seja para o time “de cima” ou de baixo. Fez gol no Grêmio, é contratado. Léo Gago, Pedro Júnior, Adão, Guilherme, Léo Lima, Grafite, Ferdinando… a lista é interminável. Poucos deram certo. Mas, ao que parece, o que está completamente sucateado no Olímpico é  a estrutura de olheiros que tínhamos em outras épocas. Ao invés de parceiros do Grêmio que indicam para que algum técnico dê uma olhada em certo garoto, parece que simplesmente ficam sentados esperando um craque destruir num jogo contra o nosso time ou, mais fácil, um empresário de bom coração chegar com uma revelação que vai estourar aqui.

Nessas horas eu fico pensando: se o Grêmio tivesse maior penetração na sua torcida, se tivesse um melhor relacionamento no interior, como tinha há tempos atrás (quando o time quase todo vinha de uma cidade de fora, onde a família do jogador acabava se sentindo parte do Grêmio), será que não teríamos mais revelações na nossa base? A várzea ainda é organizada. Por que não temos mais jogadores de lá?

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14 + comentários

  • Rafael 6 de março de 2012 - 12:03 Responder

    Fagner, me parece que não exista só um motivo para o problema da nossa base.

    Eu citaria dois como os principais:

    1) Com a mudança da ‘lei do passe’, os jogadores passaram a ‘pertencer’ a empresários. Empresário, como se sabe, tem interesse no lucro (venda do jogador) e não no desenvolvimento das equipes. Logo, os jogadores da base são influenciados a se preocuparem com o individual e com mkt pessoal. Então, o que vemos em campo na base é um monte de jogadorzinho tico-tico, cabelinho moicano, chuteiras coloridas, fita branca no pulso, muito pouco comprometimento com a equipe, nenhuma preocupação em evoluir como profissional e nenhum desejo de vencer e se firmar como ídolo de um grande clube.

    2) Cito aqui um grave problema do Grêmio, que não impacta só na base, mas no clube como um todo: a cada mudança de gestão, muda TUDO no Grêmio. É gente que vinha trabalhando que sai, outros são trazidos e muda toda a filosofia. Não tem como dar certo. Independente da corrente política, o trabalho de base deveria seguir uma única diretriz, sempre o mesmo perfil.

    Enfim, acho que não veremos mudança neste quadro no curto/médio prazo, infelizmente.

  • ArthuJ 6 de março de 2012 - 12:15 Responder

    Poxa, Fagner, eu entendo as críticas que tu faz, na maioria das vezes são críticas justas, mas acho que às vezes tu parece forçar a barra (pra não dizer ‘torce contra’). Então Carlos Eduardo e Fernando não podem ser considerados ‘revelações’? Douglas Costa poderia ter sido mais um, se não tivesse saído tão cedo…

    Não vejo erro em contratar jogadores mais ‘prontos’ pra base (nosso co-irmao faz o mesmo e já vem colhendo frutos). E esse Danrlei fez 16 gols no Campeonato Paulista de Juniores (e jogando pelo OSASCO!). Acho que vale o investimento.

    No mais, concordo que o Gremio precisa ser mais organizado nessas questões, investir mais, ser mais atento às competições, etc.

  • Matias Schuler Guenter 6 de março de 2012 - 12:40 Responder

    Fecho contigo.
    Mas grandes jogadores que atuam na base desde crianças são raros. A maioria vem pro clube com 16/17 anos. Não?
    O Inter, por exemplo, que todos dizem que tem uma base muito boa, mas os grandes jogadores vieram de fora (Damião, Oscar, Giuliano, Nilmar…), Pato é uma exceção.

    Eu invistiria mais na busca por esses talentos de 15, 16 e 17 anos. Me parece mais garantido (e barato) do que “criar” um guri desde os 10 anos.

  • maik 6 de março de 2012 - 13:01 Responder

    cara moro em votorantim SP, sou torcedor louco pelo grêmio, aqui teve a copa brasil sub-15 em janeiro , fui em todos os jogos do grêmio infelizmente perdemos a final p coritiba nos pênaltis, mas vi o camisa 9tal de indião, o 10 acho q é henrique e o camisa 7 q esqueci o nome os tres arrebentam são rapidos brigadores em campo dariam certo com o estilo do gremio no profissional ,mas dai comversando com um parente do camisa 10 ele me disse q ele sairia do grêmio p vir p são paulo … agora eu pergunto o grêmio não tem condições de manter uma base … pensar no futuro ?

  • Paulo_PoA 6 de março de 2012 - 14:30 Responder

    Tchê,

    BAITA post!

    Me faço essa pergunta há anos.
    A resposta que eu encontrei? Quem está ganhando o dindin é o dirigente/empresário. Não há tempo hábil (4 anos de mandato) pra “criar” um jogador, é mais fácil fazer a negociação e o dindin (comissão) cair no bolso.
    Já do ponto de vista do clube, fica a despesa de gerenciar centenas de guris e quem sabe, um saia bom (tem todo lado do QI, não?).

    Mas é uma questão que realmente não dá pra entender como não formam mais …

    Dá-lhe Grêmio!

    Abr.,
    Paulo

  • Fagner 6 de março de 2012 - 15:06 Responder

    Massa a discussão. Os comentários estão em ótimo nível. Porém, alguns precisam de um contra argumento. Aí vão algumas respostas:

    Rafael: concordo que existe esse “pertencimento” a empresários. Porém, não são todos, muita gente joga na várzea sem ter empresário. Principalmente na gaúcha. Reativando os olheiros (escolhendo consules que além de incentivarem que se torça pelo Grêmio costumem frequentar esses jogos) a gente depende menos de empresário. O Grolli só foi comprado por um empresário para vir para o Grêmio. Se isso acontece no profissional, imagina na base…

    Arthur: realmente, não foi má vontade, simplesmente esqueci do Carlos Eduardo (2007) e do Douglas Costa (de 2009, que, embora tenha jogado pouco aqui, é titular em jogos de Champions League, o que não é pouca coisa). E acho que esqueci exatamente por que jogaram muito pouco no Grêmio. Porém, o Fernando não é do nível desses que citei. Pra mim, revelação da base farda e não sai mais do time. Esse é o caso de todos os citados, tirando os que esqueci (o Douglas, pelo que citei acima). O Fernando só foi virar titular no meio do ano passado, sendo que foi lançado lá nos tempos do Silas.

    Matias: esse modelo de pedir jogador para empresário é o modelo que quase todos os times do Brasil usam. É realmente mais barato, mas não forma identidade de time. E como é que os empresários tem esses jogadores? Dando incentivo deles treinarem nos seus times “amadores”. Se o Grêmio competir com eles, dando oportunidade de entrar direto no clube, é certo que vamos pegar pelo menos os gremistas. E isso já é mais inteligente que pagar comissão depois.

    Saludos,
    Fagner

  • Arthur FV 6 de março de 2012 - 15:07 Responder

    Tirando o fato de Rafael Carioca ser uma revelecao, concordo 100% com o post. A equipe que jogou a copinha e’ horrivel tecnicamente…

    E’ so’ a gente ver o retrospecto da equipe nos ultimos anos, se eu nao me engano faz 2 anos ou mais que a equipe nao passa da primeira fase do Br sub-20.

  • heraldo 6 de março de 2012 - 15:40 Responder

    Por que não um campeonato nacional com os consulados, no sub, 15,17 e 19 anos, os consulados, organizam,podendo ser regional, por exemplo, região de bagé, pega-se as cidades perto que tenham consulados e faz o campeonato regional, depois uma região mais ampla(logico que os caras de bagé farão uma seleção dos caras desta regiaão para ir jogar na outra região, depois quem sabe estadual de consulados, e uma grande final , quem sabe 7 a 15 dias no ct de eldorado., vejamos quantas piazadas participariam, e teriam uns, que desde o sub 13, até o 19,seriam 6 anos , “evoluindo”, e sabendo que podera se apresentar neste campeonato em eldorado.

  • Alex 6 de março de 2012 - 16:51 Responder

    Carlos Eduardo e o Fernando não são revelações da base?

  • Joca 6 de março de 2012 - 17:11 Responder

    Valeu pela resposta, Fagner.

    É acho que no caso do Fernando, eu forcei um pouco a barra também, mas é um dos jogadores que eu levo fé, junto com o Biteco. Espero que confirmem (eu tinha esperanças com o Leandro e deu no que deu).

    Um outro ponto que eu acho interessante levantar é com relação a essas copinhas, sub20, etc. Na maioria dos casos os jogadores que vão pra lá são as ‘sobras’, pois os bons mesmo já estão jogando no profissional à essa altura.

    Aliás, a pouco tempo atrás fomos campeões brasileiros sub20 (ou sub23, não me recordo). Deu pra aproveitar algum jogador daquela leva? Lembro que o destaque foi o Mythiuê, que logo em seguida se lesionou feio e agora é banco até no Juventude…

  • ArthurJ 6 de março de 2012 - 17:13 Responder

    Opa, o Joca ali sou eu. Escrevi no PC do meu primo, hehe.

  • Tiago 6 de março de 2012 - 22:03 Responder

    No caso desse Danrlei, acho que o fato do empresário dele ser o Jorge Baidek foi decisivo para ele vir parar no Grêmio. É só uma suposição minha, mas imagino que o Baidek ainda tenha uma rede de contatos com os dirigentes do Grêmio (o famoso QI), o que conta muito na hora de contratar um jogador. Não é o critério ideal, mas é o que imagino que aconteça num caso desses e em muitos outros.

  • Fagner 6 de março de 2012 - 22:49 Responder

    Sim, concordo Tiago. Foi ele quem indicou o Caio JR e é empresário do Ozéia. Mas eu não sei desde quando ele é empresário do Danrlei. Pode ter sido um caso como o do Grolli.

    Para o todos, achei uma reportagem que mostra como está acontecendo essa terceirização dos olheiros. Dinho e Carlos Miguel são hoje olheiros profissionais, que levam jogadores jovens (12, 13 anos) para peneiras em clubes (qualquer clube).

    http://esportes.terra.com.br/gremio/noticias/0,,OI5644061-EI19361,00.html

    Saludos,
    Fagner

  • Ronaldo 9 de março de 2012 - 20:58 Responder

    Fagner, creio que cometeste um erro em relação ao Lucas leiva, afinal ele chegou para as categorias de base do Grêmio com apenas 15 anos. Ele passou TRÊS ANOS na base do Grêmio antes de subir.

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