Mudanças inevitáveis II

3 Postado por - 17 de setembro de 2015 - Artigos

A formação de uma liga é apontada por muitos como a solução de um grande problema que temos. E é por isso que é a segunda das mudanças inevitáveis as quais me refiro. A Federação precisa organizar campeonatos, seleções, categorias de base, litígios de calendários, etc, conforme os mesmos interesses (os seus, basicamente). Apenas em momentos de crise (como o 7×1 e a Copa João Havelange) é que abre as portas para as reivindicações dos clubes. Somado a isso, a proximidade muito forte com a política nacional (o filho do José Sarney é vice, outro vice é prefeito/presidente de federação do AL, o outro emprega filho problemático na federação porque isso não é nepotismo, o outro vice é deputado pelo Espírito Santo, o ex-ministro do FHC Walter Feldman é secretário geral, pra ficar no primeiro escalão, que tem seu presidente investigado pelo FBI) e com a Globo (que, por muito tempo, foi a empresa que hospedava até mesmo o site da CBF) faz com que se abram vários espaços de relações um tanto quanto questionáveis. Seja obrigar jogadores a participar de um jogo ao meio dia (e escolher quem não vai fazer o mesmo) no mesmo dia em que os jogos das 16 passam para uma hora mais tarde devido à condições desumanas de saúde dos atletas (caso da 31ª rodada), seja por não organizar adequadamente uma competição para turbinar a venda dos direitos dos seus campeonatos, como manda o capitalismo (pelo menos o teórico).

Pois bem. Eis que, de repente, em função de birras com as suas federações (caso claro do Cruzeiro e, talvez, do Grêmio) ou novas ideias sobre como gerar receitas (além de uma invejinha da Lampions League), vários times do centro-sul do país resolveram que seus regionais não eram mais tão importantes e poderiam ter alternativas. O Atlético Paranaense, por exemplo, já não manda seus titulares para o seu regional faz tempo, preferindo jogar torneios preparatórios em outros países. E, junto com o Coritiba (talvez pelo seu péssimo resultado no certame de 2015) resolveram tentar voltar a ter aquele campeonato que certos campeões de tudo não tem, mas que foram disputados no fim dos anos 90/início dos 2000: a Copa Sul Minas.

O que era para ser apenas um torneiozinho mequetrefe pra esvaziar regional começou a tomar outras proporções conforme foi se organizando. Dois gigantes aos olhos da Globo utilizaram suas engronhas com a Federação do Estado do Rio de Janeiro (FERJ) para engordar a competição. E assinaram a criação da LIGA Sul-Minas-Rio, que jogará uma Copa, não se sabe bem se em 2016 ou 2017. Veja bem: não é mais um campeonato, apenas. É uma LIGA. E aí a coisa começou a criar rebuliço.

Noveletto não quer. A FERJ não quer. Paraná está acostumado e Minas está em guerra declarada de pelo menos um dos envolvidos. Só a Federação Catarinense (daquele vice “nepotista”) parece concordar. Os patrocinadores? Bem, já se fala em 80 milhões na primeira edição. E é um prato cheio para quem não tem os direitos de transmissão do filé (Campeonato Brasileiro), ainda mais em um cenário de briga aberta da Fox com a Globo (e a entrada da Turner via Esporte Interativo, detentora dos direitos da Champions League já em 2015, além da exclusividade da Copa Verde e da própria Lampions). Há espaço comercial para a sua entrada no calendário, principalmente se os clubes não fizerem como da última vez e arregarem pra Globo – o que, diga-se, é a tendência. Se forem profissionais, muita panela ficará sem tampa.

É por isso que o movimento tem sido visto por alguns como “embrião da Liga Nacional”. Tem tudo pra ser, porque é meio óbvio que terá sucesso rápido – há interesse de patrocinadores e de emissoras, há muito o que mais importa no futebol. A tensão é tanta que a própria CBF está tentando criar uma Rio-São Paulo para tentar minar os interesses de patrocinadores e levá-los a um ambiente mais controlado, onde está o Corinthians e um grande público. Se os clubes fizerem isso por conta própria, abandonando as suas federações (sendo uma LIGA por definição) e contratando um profissional (DE VERDADE, não um advogado torcedor de algum time) pra tocar os interesses da LIGA e seus clubes, se foi o boi da CBF/Globo com corda e tudo.

O fato é que regionais não se sustentam mais e o motivo é óbvio: disparidade técnica. Não há dinheiro fácil que compense. Porém, o grande empecilho, a contrapartida dos clubes, é abrir mão de mamatas. O Flamengo estaria disposto a abdicar de receber muito mais que os outros para uma partilha de direitos mais igualitária, priorizando desempenho esportivo ao invés de apenas audiência? Os clubes estariam dispostos a se reunir e pensar o futebol de maneira maior do que apenas chorar que foi roubado e tratar os outros como inimigos em todas as esferas? Os clubes estariam dispostos a se profissionalizar de vez para acompanharem as mudanças de postura da Liga, como auditorias e interferências diretas na sua administração financeira? Enfim, são várias questões que precisarão ser – e serão respondidas. Ao que parece, essa é outra mudança com pouca chance de volta.

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6 + comentários

  • Gianlucca 17 de setembro de 2015 - 09:16 Responder

    Esse Noveletto é um colorado safado mesmo… o Grêmio deveria boicotar a FGF até que esse cara saísse da presidência. O Grêmio é o time que mais tem torcida do Sul do Brasil, se metesse uma pressão, ele já renunciava, a diretoria não sabe a força que o Grêmio tem.

  • Serrano 17 de setembro de 2015 - 13:25 Responder

    O Novelleto não quer… claro que não quer. Bom mesmo é disputar aquele certame que, se meu cachorro latir aqui no quintal, é pênalti pro Inter. Alguém aqui esqueceu o jogo Inter x Cruzeiro?

    Ou o juiz da final, famoso por “deixar o jogo correr”, que amorcegou o Segundo Tempo inteiro do Gre-Nal.

  • Ricardo 17 de setembro de 2015 - 15:41 Responder

    Desde que a CBF conseguiu extinguir o clube do 13 o campeonato Brasileiro perdeu a graça! O nefasto favorecimento aos clubes do eixo Rio-São Paulo sempre existiu. Mas a imoralidade ficou escancarada com a virada de mesa em 2005, só para favorecer o E.C. Corinthians Paulista, que ao longo do tempo é de longe o mais favorecido pela máfia da arbitragem. Pelo que está acontecendo, ainda existe tal “sujeira por debaixo do panos”, só falta vontade política do MPF para investigar. Caso fosse um clube do citado estado ou região com certeza ocorreria investigação, porém como não é, estes ficam sem qualquer punição! Nada mais comum a tratar-
    se de fatos relacionados em um país chamado Brasil!

  • Ricardo 17 de setembro de 2015 - 21:19 Responder

    Agora parece ser a hora dos clubes baterem o pé e não se deixarem minar por esse monte de gente tentando derrubar o torneio antes mesmo dele começar. Agora também é a hora, como bem colocaste, dos clubes agirem visando o bem da liga ao invés de olhar apenas o próprio umbigo.

    Se os próprios clubes tentarem minar a liga pra se beneficiar, aí acho que a coisa não sai do chão. Se por outro lado houver cooperação, o benefício à todos deve ser maior do que aquilo que qualquer clube conseguiria individualmente.

  • Impzone 17 de setembro de 2015 - 21:23 Responder

    A única coisa que me incomoda realmente é o discurso ainda muito diplomático com a CBF e a Globo. Claro, com a Globo eu já nem espero nada… mas com a CBF ainda acho que os clubes, mesmo os da Liga Sul-Minas, balançam demais o rabinho, inclusive o Grêmio. No próprio discurso da criação da Liga falam que depende muito da CBF.

    É possível que se faça algumas concessões, e os clubes deixem a Liga mais rápido do que o tempo que levou para fazê-la desde que ela começou a ser cogitada.

  • Jonatha Zimmer 19 de setembro de 2015 - 07:41 Responder

    O que me incomoda da criação dessa liga é o que o Impzone citou e mais o fato de os clubes não demonstrarem os motivos que, por exemplo, são apresentados no post. As entrevistas que acompanhei, trazem um tom por parte dos dirigentes, em ser mais um campeonato pra se jogar e engordar o calendário. Não vejo um discurso de deixar o ruralito de lado pra jogar a tal liga.

    Acredito que os dirigentes dos clubes envolvidos podiam dar uns peitaços mais fortes e demonstrarem que abrem mão dos ruralitos pra jogar a tal liga.

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