O Futebol conheceu seu limite?

6 Postado por - 4 de abril de 2015 - Artigos

Não faz muito tempo. Em maio de 2014, Mário Balotelli sofreu com injúrias racistas, vindas de torcedores da seleção italiana. Não foi a primeira vez, e muito possivelmente, não será a última. Mas ali houve um agravante: o fato ocorreu no âmbito de uma seleção nacional, por seus próprios torcedores, se é que se pode chamar estes celerados de torcedores. Tetracampeã mundial. Uma das principais seleções do mundo.

Pois, menos de um ano depois, nos deparamos com uma cena surreal, aqui mesmo, na Porto Alegre; aquela mesmo, do #RsMelhorEmTudo. Quando um jogador de futebol, titular do time do Internacional, abandona o campo, retira sua camisa e, jogando-a longe, explode em fúria contra os torcedores que a ele dirigiram todo tipo de impropérios.

Nossos velhos conhecidos comentaristas, narradores e repórteres esportivos, muitos deles com vínculos umbilicais ao seu clube do coração, apressaram-se a transformar o fato em um mero destempero do atleta frente a vaias normais. A pressão de quem joga em time grande. Com isso, rapidamente, Fabrício foi reduzido a um juvenil, um aprendiz das circunstâncias do futebol profissional.

Fabrício não é Balotelli. Lhe falta, além de um futebol de qualidade, o reconhecimento, a fama, o interesse da mídia. Não tem o mesmo padrão econômico financeiro e nem tampouco é disputado pelos grandes clubes do futebol mundial. Fabrício não é um futebolista badalado nem tampouco perseguido pelos paparazzi. Mas existem, entre Fabrício e Balotelli, muito mais afinidades que possam parecer.

Vamos reduzi-las ao básico. Ambos futebolistas. Ambos negros. Ambos com uma história de vida cheia de superação, em maior ou menor grau. E, fundamental, ambos são seres humanos, com suas virtudes, defeitos, potenciais e limites.

Fabrício chegou ao seu limite e explodiu.

Mas, infelizmente, este basta não veio porque seus atores são pessoas sensíveis, antenadas na questão ou – ao menos – pessoas com discernimento para não colocar suas relações pessoas acima de um fato humano devastador: o racismo. Uma realidade que tentou ser subtraída do grande público por um aparato de blindagem poucas vezes visto na história deste Estado. A nossa dileta imprensa somente considerou a possibilidade de que o que aconteceu era algo mais do que apenas uma reação às vaias da torcida, quando um dos seus integrantes, o jornalista Luciano Potter, mesmo identificado com o Sport Club Internacional, resolveu escancarar o que todos sabiam. Aquilo que parecia impensável há algum tempo atrás, de que haveria igualmente pessoas alinhadas com o abjeto pensamento racista e que se vestiam de vermelho e branco, veio enfim à tona. Luciano Potter, por ter testemunhado os fatos e ter tido a coragem de denunciá-los, demonstrou algo que todos já sabiam mas poucos admitiam: Racistas estão infiltrados em todos os cantos da sociedade Porto Alegrense, Gaúcha, Brasileira e Mundial. É um triste fenômeno social, não uma política que se enraíza em certas cores de camisas mas que é impenetrável às outras.

Mais triste ainda é saber que, desde que se pronunciou sobre os atos de racismo que presenciou no Beira-Rio, Luciano Potter teve sua vida transformada num inferno. Pessoas próximas a ele relatam que ele tem recebido um quantidade impensável de mensagens e ligações condenando sua postura. Muitas até contendo ameaças a sua integridade física.

Quando o Grêmio foi execrado publicamente por um ato racista conduzido por uma das suas torcedoras, o clube foi punido de forma brutal e inédita. Por força de um argumento principal: era preciso dar um exemplo. Uma punição que demonstrasse aos demais, o braço longo da lei, ainda que a lei dos tribunais de justiça desportiva, um grande recôndito de injustiças, favorecimentos, de amplo nepotismo e de rituais criados para investir de importância pessoas absolutamente comuns, que decidem o que querem, quando querem e que se prestam a proferir sentenças – no mínimo – questionáveis. Onde alguns clubes recebem – frequentemente – um tratamento diferenciado, como gremistas e colorados sabem muito bem.

Pois serão estas mesmas pessoas comuns, investidas de um poder bufão, concedido por um sistema de Federações de Futebol viciado e que se perpetua no poder a custas do velho toma-lá-dá-cá, que vão decidir se o Sport Club Internacional merece uma punição idêntica à que foi imposta ao Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense. Decidir sobre o princípio da isonomia ou livrar o clube vermelho e branco, cujo presidente da Federação Gaúcha de Futebol é Conselheiro. A saída oferecida pela “grenalização” é tentadora, mas vergonhosa. Mas nada que seja inédita no curso das ações da justiça desportiva.

Mais esperança encontramos no sistema judiciário da Bolívia.

 


 

Texto recebido por email de um leitor do blog.

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4 + comentários

  • edi rorato 7 de abril de 2015 - 05:59 Responder

    Vergonhoso, esse Gremio Libertador deveria se chamar Gremio Acorrentado, pois voces sao escravos da mente pequena de voces. Cegados pela paixao clubistica, poderiam ate ser levado a serio, mas deixam claro o objetivo deste texto no que esta destacado em negrito, tirar o corpo fora. Tem racista no Inter? Tem, Tem no Gremio? Tem. Tem na Italia? Tem, Tem na Alemanha? Tem.
    Sabe como a Alemanha comecou a resolver seus problemas com racismo? Admitindo os erros ocorridos, nao jogando a culpa na Italia, pois la tambem tem racismo e chamando de hipocrita os outros paises por acusar seus erros graves.
    Nao se preocupem, a midia ja achacou a imagem do Inter tambem, ja exigiu punicao ao clube, talvez tenha achado 1 ou 2 racistas no meio de 13 mil.
    Eu se fosse gremista teria vergonha de voces, pois ao inves de tentarem resolver os serios problemas de voces, tentam se eximir de culpa generalizando.

    #ProcuroRival

  • edi rorato 7 de abril de 2015 - 06:07 Responder

    Sei que nao publicarao meus comentarios, mesmo assim, gostaria de finalizar.
    Por mais que a maioria gremista nao seja racista, eh fato que vemos mais comportamento racista por parte da torcida do Gremio do que a do Inter.
    Eu fui criado no interior do RS em uma pequena cidade de colonizacao Italiana, extremamente racista, acho lamentavel e repudio esse tipo de comportamento, ainda bem que tive a oportunidade de sair de la (vivi no litoral, capital, e moro fora do pais) e nao me bitolar naquele meio. Hoje, quando vejo amigos que nunca sairam da regiao, vejo que o comportamento que acontecia a 20-30 anos atras, continua sendo propagado pois os locais nao coibem e nem se importam com esse tipo de comportamento.

    • Fagner 8 de abril de 2015 - 09:09 Responder

      Cara, dá uma lida geral nos textos aqui no Grêmio Libertador sobre racismo. Depois tu vem aqui debater. “Vemos muito mais comportamento racista por parte da torcida do Grêmio” é a prova de que não somos só nós que podemos ser acusados de ser cegados pela paixão clubística.

      Saludos,
      Fagner

      • edi rorato 11 de abril de 2015 - 09:26 Responder

        Caro Fagner,

        Estou falando alguma mentira?
        O Grêmio desde que iniciou com as barras teve exacerbado o comportamento racista dentro de sua torcida. Não estou me cegando. Este texto, assim como essa suposição (que vocês levantaram, e depois tiraram o vídeo do site) de racismo agora na torcida do Inter tentando igualar os fatos que foram completamente distintos é uma vergonha.
        Tenho certeza que a maioria não é racista, mas não deve-se esconder os que são, assim como o Inter, agora vocês começaram a procurar colorados cometendo injurias raciais apenas para dizer que o problema é social e não apenas do Grêmio, ou seja, tirando o corpo fora.
        Abraço.

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