Grêmio Libertador

O “negócio” futebol – Parte III

Como o negócio futebol é agradar o seu público, criar identificação, gerar pertencimento e engajamento com o Clube, principalmente, e com o esporte, muitas coisas que os clubes de futebol fazem ao redor do mundo deveriam ser repensadas. E os exemplos positivos podem ser encontrados no próprio futebol, além de outros esportes. Como se faz isso? Para gerar engajamento, o marketing é o carro chefe, junto com um bom tratamento dos sócios e torcedores, obedecendo a determinados critérios. E para o espetáculo, cuidar do futebol como um todo, não só contratações. É esse último item que explorarei nesse texto.

identidade do time: é o único ponto onde contratações fazem sentido. É interessante para o futebol que os times procurem uma filosofia de trabalho para embasar as contratações buscando uma dinâmica de jogo particular. Alguma característica que seja a marca, mesmo que esquema, treinador e jogadores mudem. Isso gera identificação da torcida. É um conceito já bastante aceito, o Barcelona já mostrou isso pro mundo. O único detalhe aqui é que isso sempre deve ser feito dentro de realidades financeiras concretas (o que não é o forte dos catalães). “Ser campeão” não é uma identidade válida porque é impossível GARANTIR isso (a não ser que se compre o campeonato, o que é esportivamente – e financeiramente – desastroso).

igualdade de condições: essa lição vem das ligas dos EUA. Como eles não tem “série B” (as franquias não são rebaixadas de seus campeonatos), precisam manter o equilíbrio esportivo da competição pra ela ter graça. Isso se dá através de duas maneiras: distribuição de verba de TV e das escolhas de “drafts”, ou seja, seleção de jogadores “da base”. Os piores times na temporada anterior tem as melhores posições de “draft”. Não há preocupação nenhuma com formação de jogadores nas grandes ligas – isso é tarefa das ligas universitárias, de onde vem os mais jovens. Os seus melhores jogadores tendem a ir para os piores times – ou serem usados como moeda de troca para se reforçarem (me dá três jogadores e eu te dou a minha posição deste ano). O exagero nas contratações também é uma demonstração da quebra desse equilíbrio (algo que o Bayern vem demonstrado dentro da Bundesliga). Campeonatos mais parelhos são mais atrativos pois tendem a apresentar a necessidade de mais recursos técnicos e táticos para a vitória. Não necessariamente mais dinheiro.

preocupação com o jogo: o item anterior leva, diretamente, a esse. Não adianta a evolução técnica e tática se dar na arte da retranca (tendência atual, diga-se). Se o gol é o grande momento do futebol os clubes devem zelar para a sua ocorrência. Seja estimulando identidades de jogo que busquem esse resultado mais pragmático (a vitória em cada jogo sendo mais importante que o resultado do campeonato), seja discutindo maneiras de tornar o jogo mais ofensivo. “Ah, mas eu gosto de garra”. Isso não é necessariamente ganhar sempre de um a zero, mas sempre fazer gols quando tiver chance, mesmo que só uma vez. São coisas diferentes. Dá pra ter garra e empilhar gols.

participação ativa no campeonato: os dois últimos itens acabam levando a esse. Que poder o clube tem para dar pitaco sobre a dinâmica do jogo e as igualdades de condições? A sua própria participação. O clube não é um coitado na relação com a CBF e a televisão. Ele deve ser a parte mais importante na negociação. As empresas não pagam para transmitir um time. Pagam para transmitir um jogo, um campeonato com os times que tem os torcedores. Logo, não é justo que se pague mais para determinado time por achismo ou vontade em detrimento da qualidade do próprio jogo (igualdade de condições). Da mesma forma, se a organizadora do campeonato não é clara quanto aos seus procedimentos a ponto de excluir um time por um erro ridículo de organização interna (Portuguesa manda lembranças), não há segurança para um campeonato que desperte o interesse para os direitos de imagem, por exemplo. O ideal aqui é uma participação ativa na elaboração do próprio campeonato e nas regras de premiação (coisa que uma liga resolveria, se bem administrada). Inclusive mudando regras do campeonato, com já falei por aqui. Da mesma forma, garantindo visibilidade igual para os times, sugerindo horários e dias de jogos (se a operadora A tá passando novela, azar o dela, a B não está; vender por dia tem muitas vantagens).

garantir a imagem da competição: sim, tem relação com os outros, mas, nesse caso, quero me concentrar numa parte que não brota diretamente dos anteriores. Falo de valores do campeonato. Campeonato não tem torcida, mas tem uma imagem a zelar. Cada patrocinador compra não só os seus direitos, mas o pacote todo de ideias que estão lá. Igualdade é facilmente verificável na organização do campeonato e nas equidade de sanções que vem dos dispositivos disciplinares (muito mais importante que o juridiquês). Agora, se disciplina em direção a quê? É esse retorno, esse modelo ideal que a sociedade tem como contrapartida do futebol. O modelo que o Brasileiro atual traz não é dos melhores, e diversas marcas evitam. O clube deve atuar compactuando com esses valores e cuidando da sua aplicação.

Esses elementos deveriam nortear a política do clube, tanto na escolha dos envolvidos com o futebol, quanto na sua própria atuação perante os outros clubes e federações (incluindo a administração dos conflitos resultantes dessas relações). É importante para os objetivos do clube que todo o seu “meio ambiente” funcione de maneira clara. Isso também é importante para que o próprio engajamento via clube seja mais profícuo em resultados. Falo sobre o tema na quinta.

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