Queria ver isso no Grêmio

0 Postado por - 18 de setembro de 2012 - Artigos

O futebol é um esporte coletivo fácil (são apenas 12 regras), barato (qualquer coisa é bola) e inclusivo. Qualquer espaço aberto é campo e se pode jogar mano a mano, duplinhas, trios, salão… as variantes são inúmeras. Até contra cachorro dá para jogar (o meu finado fila, o Tigre, era um ótimo goleiro). Mas toda essa pluralidade que se apresenta nas ruas, parques, vilas, clubes, condomínios e fossos de luz some à medida que se passa do esporte para o negócio. E quanto mais “clube” menos importa o futebol enquanto esporte: se fala em cifrões, vendas, lucro, etc. Aí vemos imperar os salários quase literalmente milionários, treinadores à peso de ouro e atleta ruim que ganha 200 mil por mês.

Só que esse não é um caminho inevitável. Como qualquer outra faceta social, é o resultado de escolhas. O “medo da concorrência” afeta o planejamento e não permite que se “coloque dinheiro fora” para poder economizar para um jogador especial. É esse o caminho que fez do Grêmio passar de um clube social, com diversos esportes, para apenas um clube de futebol. Ainda bem que restam base e escolinha, que deveriam receber muito mais recurso do que ganham atualmente. Dá para dizer, sem medo de errar, que fazem milagres com valores anuais que não chegam ao que os principais jogadores do nosso elenco principal ganham por mês.

Se a nossa base não recebe a atenção que merece, ainda é pior a situação do Futebol enquanto esporte. Posso até engolir (mesmo que com dificuldade) que o Grêmio simplesmente tenha abdicado de sua história vencedora em outras modalidades em nome do seu “carro chefe”, o futebol. Mas não exploramos vários pontos que poderíamos. Por que, afinal de contas, não temos um time de futebol feminino?

“Ah, mas mulher não joga bola”. Bem, lamento informar que não é bem assim. Em algum momento da nossa história, o machismo resolveu dizer que mulher não pode jogar bola – o que vai completamente contra as origens do esporte. Mulheres jogam futebol desde o final de 1800 (o famoso século XIX, para quem não sabe). O site estadunidense “History of Women’s Football” apresenta uma série de registros fotográficos de times formados por mulheres tão ou mais antigos que os brasileiros. E, felizmente,  cada dia mais mulheres são mensalistas de quadras de grama sintética e jogam bola até mesmo no meio dos homens.

Santa Helena FC em foto da mesma época da fundação do Grêmio

Santa Helena FC em foto da mesma época da fundação do Grêmio

 

“Ah, mas as mulheres não sabem jogar futebol”. Não é bem assim. Se os critérios para o futebol forem os masculinos, de times que praticamente se batem o jogo inteiro, pode até ser. Mas não vamos esquecer que o que conhecemos hoje como volante não existia nos anos 70. Tarciso foi ponta, função que não existe mais hoje. Isso porque o futebol é mutável. Ele sofre essa transformação em razão da competição. Logo, como é que as mulheres no Brasil jogarão um futebol mais atrativo se não existe competição? Se os clubes grandes não investirem no esporte ele não se desenvolve.

“Ah, mas investir no futebol feminino é caro”. Pois é outra questão de escolha. O Santos fechou o seu time de futebol feminino por considerar muito caro investir R$ 1,5 milhões no time. Achou muito? Pois isso é POR ANO. Cerca de R$ 120 mil por mês. Ou um Marcantônio para poder contar com a melhor jogadora do mundo no time e mais metade da seleção principal. Toda guria no Brasil queria jogar lá. Por que não ampliar o investimento na base e usar a rede de escolinhas femininas do Grêmio de maneira sistemática e organizada? Mesmo que não lucrássemos um centavo, só pelo desenvolvimento do esporte já valeria o esforço.

E mais: que esse esporte seja completamente desvinculado do masculino no seu desenvolvimento. Não importa o sexo do treinador, por exemplo, mas que ele não queria colocar o sistema do Barcelona no time feminino. É um futebol diferente, que talvez nem precise de quatro zagueiros, possa jogar com três meias e sem volantes. Por que não evoluir esse esporte de maneira independente? E por que não o Grêmio ser a referência nessa modalidade para o mundo inteiro? Fiquei muito feliz em ver uma mulher, ex-jogadora, dirigindo o time da Grã-bretanha na Olimpíada.

Então, nesse mês de eleição, gostaria de pedir aos envolvidos: considerem seriamente a possibilidade de utilizar Eldorado do Sul como celeiro de craques como a Marta. Para o bem do esporte.

Comparilhe isso:

4 + comentários

  • heraldo 18 de setembro de 2012 - 18:21 Responder

    existe esperança no GREMIO!,parabens pelo texto.

  • hans 18 de setembro de 2012 - 19:28 Responder

    que bobagem. futebol feminino é mais desinteressante que curling. a única justificativa seria como ação de marketing para manter o público das garotas associado ao nome da instituição. mas isso carece de estudos mais profundos. do jeito que está posto aí, é uma ingenuidade tal qual a de uma zagueira.

  • Fagner 18 de setembro de 2012 - 21:21 Responder

    Hans,

    Garotas não precisam disso para torcer pelo Grêmio. Mas garotas não podem sonhar em defender as cores do seu time em um campeonato às ganhas. O futebol feminino, como muitos outros esportes, carece de investimento. O Grêmio é um clube DE FUTEBOL. Não diz em lugar nenhum se é de sete, de salão, só masculino, se tem que ser interessante ou não. E, como qualquer outra coisa dentro de um clube, precisa de um plano de ação para por em prática. O texto aqui é só para lançar o debate e tentar tirar um pouco dos preconceitos históricos sobre essa variante da modalidade.

    Mas para haver debate, tem que ter argumentos. Não adianta vir só com comentários maldosos como um carrinho viril de um volante homossexual com medo de se revelar.

    Saludos,
    Fagner

  • Leonardo 18 de setembro de 2012 - 23:55 Responder

    Poderia ser criada uma liga como a NFL com controle centralizado de gastos e teto de salários. Acho que não seria difícil vender para alguma emissora um campeonato de 16 times por R$ 32 mi por ano. Dividiria R$ 1,5 mi por time e o restante seria para cobrir os gastos dos clubes com logistica e aluguel de estádios em alguns casos. O lucro dos clubes viria de bilheterias, artigos esportivos e marketing (entre outros) que poderia ser convertido na própria estrutura do clube (Estádio/Categoria de Base feminina). Com 16 clubes em um campeonato de turno e returno teriam 30 datas para jogos que poderiam ser realizados nos fim de semana com jogos iniciando as 14h e/ou 21h (possibilitaria a venda da transmissão destes jogos para a Europa e EUA onde o futebol feminino é mais difundido) e o calendário poderia ser compatível com o Europeu para proporcionar intercambio entre os clubes. Na minha visão, não é nada difícil de ser feito, precisa apenas vontade e um pouco de visão dos responsáveis pelo futebol brasileiro.

  • Deixe uma resposta