A Primeira Liga e a revolução

3 Postado por - 11 de novembro de 2015 - Artigos

Alexandre Kalil, ex-presidente do Atlético MG e atual executivo da Primeira Liga, deu uma entrevista sensacional ao Trivela, veiculada no último dia 11/11. Se quando era presidente do Galo ele nem se coçou para puxar alguma coisa na saída do Ricardo Teixeira, agora ele demonstra muita percepção de momento e clareza na função do embrião da liga nacional. Sim, não pestanejo em dizer isso, mesmo sabendo que pode dar em nada, porque é um embrião, e nem todos viram alguma coisa (boa) no final.

Há aspectos muito interessantes ali que, até então, não tinham sido discutidos. Seja por medo (né Globo?), seja por dar pouca bola, ninguém ainda havia parado para conversar com o mandatário da liga sobre algo a mais do que o rompimento com a CBF ou as datas. O principal deles, pra mim, é o objetivo da liga: dinheiro. O futebol atual não dá o que os clubes esperam e a ninguém interessa que os clubes menores sumam.

O Brasil tem dimensões continentais. E a forma de organização do futebol é um misto de tradição (estaduais) com “modernidade” (um nacional com divisões). Há uma concorrência entre os planos nacionais e regionais. A Confederação não age pelas suas federações, concorre com elas. O movimento que começou em 1971 com o nascimento do Campeonato Brasileiro culminou com o Campeonato Brasileiro de 2003 e o “todos contra todos, turno e returno” copiado na cara dura dos campeonatos mais “modernos”. Adeus formulismo, como diziam.

Pois bem: quem é que disse que formulismo é ruim? Quem disse que é preciso um campeonato nacional independente e separado dos regionais (os times podem ser rebaixados nos seus estaduais e, ainda assim, jogarem a primeira divisão nacional, sem galho algum)? Quem é que disse que precisamos seguir o modelo “europeu” para nos tornamos adequados a um pretenso padrão mundial? Por que adequar calendário foi transformado em copiar o modelo europeu? Pouco se pensou sobre isso. E a minha esperança na Liga está exatamente aí: fazer o que der mais grana é uma lógica de funcionamento melhor do que a que (não) temos.

Um retorno ao formulismo poderia muito bem regionalizar as disputas nas ligas. Os melhores passam para uma etapa nacional. Quantos cada liga coloca lá? Começam todos com o mesmo número de vagas e se faz um ranking dos participantes, como a Copa dos Campeões. Pode até ser todos contra todos, podem as duas ligas seguirem paralelas (os meios de semana para as regionais, finais de semana para a nacional). Etapas estaduais classificam para a regional. Não há nada de errado em não fazer igual aos europeus.

A saída para o futebol brasileiro passa por se pensar dentro da nossa própria especificidade.

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1 comentário

  • Jonatha Zimmer 12 de novembro de 2015 - 06:48 Responder

    Realmente não há a necessidade de se copiar o “modelo europeu” para garantir sucesso por essas bandas. Nem há nada que garanta o modelo do velho-continente como o “primor organizacional de campeonatos”. Podemos e devemos pensar uma nova formulação de tabelas e calendários.

    O que me assusta (e MUITO), é quem está puxando essa ~barca~. Kalil tem uma história bem confusa e complicada de desonestidades e uso do futebol para situações que só traziam benefício para si.

    Posso estar enganado, equivocado e agindo com preconceito, mas acredito que o Kalil, apenas quer dar a volta e assumir o lugar como um novo Ricardo Teixeira.

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