Empate com o dedo de Luan

O empate em 2×2 hoje, na Arena, mostra cinco coisas que muita gente vinha esquecendo nesses últimos 10 jogos sem perder. A primeira é que o Grêmio é Walacedependente. O time não produziu o mesmo dos últimos jogos porque faltou aquela infiltração entre linhas, que dizem, quando um jogador da linha de trás (um volante ou lateral) cai compor a da frente, abrindo um espaço por sobrar um atacante sobre a última linha defensiva do adversário. Edinho não sabe fazer isso nem que a vida dele dependesse disso. Maicon faz esporadicamente e muito mal (se bem que quase fez o 2×0, parando na sua falta de habilidade de chutar a bola na goleira).

O jogo começou com uma coisa que o Grêmio já mostrou que, quando faz, não existe adversário a altura no Brasil: marcando sob pressão. O Juventude precisava sair com seus dois volantes – Sananduva e Vacaria – que, distantes 130 km entre eles, não conseguiam sair jogando e davam a bola pra gente sem esforço. Assim, fomos chegando e a melhor bola, ainda antes dos 10 minutos, foi o gol. Virada de jogo em profundidade pelo Maicon, vitória individual do Wallace Oliveira que cruzou bem pro Bobô, que chutou. O goleiro fez a primeira de umas sete defesas difíceis do jogo e, no rebote, Douglas estufou as redes.

O Grêmio seguiu controlando o jogo e resolveu não marcar mais com pressão. Mesmo assim, o Juventude só chegava com um jogador na linha intermediária, que, sem ter como fazer alguma coisa, chutava. Numa dessas, a bola desviou (juro pra vocês que até agora eu ainda não sei em quem, provavelmente no Gasparzinho) e foi pra escanteio. A batida foi afastada pra lateral, o Bobô foi tentar jogar a bola pra fora, levou um drible monstruoso do Hugo que cruzou mal, pra ninguém. Bruno Grassi, entre TRÊS zagueiros, deu uma MANCHETE (??????) na bola e jogou no pé de um atacante deles. Aí foi fácil: com o Edinho marcando meio drible já serve e o chute ainda desviou no Wallace Oliveira pra bater o Bruno e entrar no gol. Empate na única bola que realmente teve algum perigo.

Seguimos jogando um futebolzinho burocrático que rendeu pelo menos três chances claras: do Maicon em uma bela enfiada de bola do Giuliano (descrita aí em cima) e duas com o Bobô – a primeira delas em bola de pressão com o Marcelo Oliveira, tava sozinho e não chutou, mesmo livre, deixando o zagueiro aparecer. Depois, arrematando errado pra fora. Outra com o Giuliano, em uma boa jogada do Bobô pela direita; porém o oito chutou a bola lá em Marte.

Era uma partida onde se sabia o que faltava e se esperava que o Grêmio fizesse outro gol ao natural. Porém, no segundo tempo, antes dos cinco minutos, Wallace Oliveira terminou de lembrar pra gente a segunda coisa que havíamos esquecido: não tem como confiar nele a ponto de escalar o Ramiro no meio contra a LDU. Em um carrinho ridículo, em outra bola sobrada que apresentava pouco risco, deixou o braço pra trás e a bola bateu nessa asinha. Pênalti que Hugo bateu bem no canto. O Bruno fez o certo (esperou) mas a bola encontrou a lateral da goleira. Grêmio tomando a virada com apenas um lance de gol do Juventude.

Aí o time de Caxias resolveu esperar o contra-ataque. Praticamente não conseguiu nenhum – mesmo que o Wallace Oliveira tivesse se esforçado muito pra isso ocorrer (perdeu uma bola SOZINHO que quase rendeu um gol). Mas a gente votou a ter o problema da falta de Walace (e Galhardo, porque não) – infiltração entre linhas. A linha dos meias se limitava a abrir o jogo e cruzar. Bola tirada em cima de bola tirada, quando isso não acontecia, nem jogo tinha, porque o time deles tava se jogando desde os 15 do segundo tempo.

Tivemos um gol do Bobô anulado, pelo menos três cabeçadas sozinhos perdidas pelos zagueiros, Giuliano perdendo outro gol, enfim, aquele velho Grêmio criticado que “ninguém sabia o motivo” da diferença pra 2015 (spoiler: a diferença joga com a cinco). Entrou o Lincoln, saiu o Douglas. Porque era pra ser o melhor jogador do time, etc, etc, etc. E aquilo que já foi exaustivamente dito aqui foi a terceira coisa pra lembrar: o Lincoln é UM GURI, e como GURI, não está pronto pra ser PROTAGONISTA. Ele oscila, tem partidas geniais e partidas comuns. Não dá pra esperar que ele resolva os jogos. Ele (ainda) não é esse cara. Tem muitíssimo potencial, mas pouquíssima idade.

Fernandinho entrou também pra lembrar a quarta coisa: nunca deveria ter vestido a camiseta do Grêmio. “Ah, mas ele jogou bem jogo x, y e z”. Exatamente. São três ou quatro em quase 100. E todos eles na hora que as pessoas dizem “tá já deu”. Aí vem um “pera aí, será que foi só azar?”. Azar é do Grêmio. Ele entrou mais uma vez para ser “a alternativa de velocidade” e, realmente, foi bastante veloz a sua demonstração de falta de possibilidade de ser alternativa. Sua melhor jogada foi pela ponta esquerda, em um chute que nem no gol ia e foi desviada pelo Bobô pras redes. Pena que impedido.

No fim do jogo já tinha muita gente enfiando a viola no saco. Não tinha pressão, não tinha aquela cara de gol. 50 minutos e falta na beira da área, daquelas que meio estádio já queria um pênalti, pela proximidade da área proporcional a distância da inspiração. Aí veio, pra mim, a quinta e maior lembrança, aquela que muita gente estava já crente que nem existia, que era uma ilusão: LUAN É CRAQUE. Que golaço. Que pintura. Um jogador DECISIVO, de onde se pode esperar a jogada diferente. Aquele jogador que muitos tentam ofuscar por uma idolatria precoce ao Lincoln só pra não admitir tardiamente a importância de Luanel Messi. Luan só não é unanimidade porque a galera do “eu avisei” só vai calar a boca quando ele morder uma medalha de campeão pendurada no pescoço.

Luan, apenas o nosso melhor jogador. Foto do Lucas Uebel/Grêmio Oficial (via Flickr).

O Grêmio joga contra o Brasil de Pelotas na Arena, provavelmente na quarta, pra viajar dia 7 para o confronto decisivo contra a LDU.