Nosso macaco, nosso mico.

4 Postado por - 6 de setembro de 2014 - Artigos

mico_azul

Eu estou tentando há dias traduzir no texto o que eu penso sobre a história do grito de macaco.

Quando eu voltei a morar em Porto Alegre que aprendi que colorado era macaco. E simplesmente como se coloca um apelido no colega da sala de aula eu passei a chamar todo colorado de macaco.

Alguns anos depois começou a se questionar o termo e eu busquei respostas para o apelido. Achei claro a resposta padrão dos torcedores em cima da arvore e das imitações que fazem da torcida do Grêmio. Pra mim bastou. Eu estava seguro de que poderia usar o termo sem maiores problemas. Eu acreditei nas respostas. Eu por não fazer essa diferença de raças não entendia que pessoas covardes se escondiam atras do meu grito de macaco.

Mas a menina, que talvez inocentemente, só repetia o que alguns também faziam e gritavam jogou por terra minha crença. Afinal que defesa eu poderia fazer ao termo se esse é um apelido colorado e o jogo era com o Santos. Só ai eu vi o tamanho da minha ingenuidade. A guria estava sim tendo atitude racista. E antes de pensarem que estou querendo incrimina-la digo que é bem o contrário. Acho que ela é vitima da nossa condescendência, da permissividade com a indiferença. E ai somos todos culpados.

É natural da nosso cultura transformar uma característica da pessoa em uma referencia dela. Se o cara é alto, baixo, gordo, feio, loiro, negro, chinês… isso vira alvo. Muitas vezes o apelido é inocente e inofensivo. De outras é cruel. Só que Macaco não é apelido. Macaco é uma comparação para dizer a outra pessoa que por ela ser de outra raça ela está em um nível abaixo do seu. É isso que a guria estava falando e possivelmente não estivesse se dando conta, pois é comum se gritar macaco aqui. Assim como é comum chamar os torcedores do São Paulo de Bambis e não se achar homofóbico. Todo mundo fala e o preconceito se dilui entre aqueles que não tem a intenção da ofensa real.

A verdade é que ofende. E eu não sei onde isso vai parar. Não sei se sempre foi assim mas as arquibancadas de futebol que eu convivi sempre foram território livre para todo tipo de impropérios. No passado imagino que deveria ser pior. Mas a realidade é que isso tem que mudar.  Pode parecer que vai ficar sem graça não poder gritar livremente qualquer merda que vier a cabeça mas quando tu começar a te policiar e agir de forma mais controlada as pessoas que realmente tem o sentimento racista e homofóbico vão gritar sozinhas e esses serão de fato culpados. E ai não teremos que aturar o mico de ser generalizado como uma torcida racista. Há racistas na nossa torcida mas não só na nossa. Na maioria somos apenas mau educados e indiferentes ao sentimento alheio.

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9 + comentários

  • Ricardo Furlanetto 6 de setembro de 2014 - 09:19 Responder

    Baita leitura tchê e por isso q levanto a bandeira de acolhermos a Patricia Moreira , pois defendia a Tricolor quando cometeu o erro da maioria, porém foi flagrada! Vamos extinguir o primata de duplo sentido de nossos cantos!!

  • geraldo josé tavares gattolini 6 de setembro de 2014 - 10:00 Responder

    É por aí que eu ando defendendo

    • Renato 6 de setembro de 2014 - 10:42 Responder

      Lindo seu texto, mas na real enquanto o negro continuar com vergonha de sua cor isso nunca vai acabar, como em qualquer raça sempre vai ter um querendo tirar proveito, temos que nos cuidar mais porque agora eles tem uma arma o preconceito.

      • Fagner 6 de setembro de 2014 - 11:29 Responder

        Isso é mais ou menos como eu dizer que agora eu tenho que tomar cuidado onde atiro porque as pessoas podem passar na frente da bala e se sentirem prejudicadas de alguma forma por terem tomado um tiro. “Eles agora tem a lei do homicídio culposo”.

        Saludos,
        Fagner

  • José 6 de setembro de 2014 - 13:23 Responder

    O engraçado é que se você cortar os pelos dos macacos, TODOS eles tem pele branca/rosada por baixo.

    Mais um bom texto sobre o assunto por aqui. Parabéns!

  • Rafael 6 de setembro de 2014 - 13:36 Responder

    “Macaco é uma comparação para dizer a outra pessoa que por ela ser de outra raça ela está em um nível abaixo do seu.”

    E foi exatamente sempre o meu sentimento quanto ao interzinho… Seja ele da cor que for, dizer macaco pra colorados, NEM SEMPRE é racismo, as vezes é só como chamar um palmeirense de “porco”, é a mesma coisa, mas tem gente que se passa, gente que realmente é racista e se esconde atrás disso pra poder se libertar, mas “macaco” é só mais um animal que inclusive eles mesmos adotaram, não precisamos vestir um capuz que foi imposto aos gremistas. Duvido que parem de gritar pros “porcos” do palmeiras, pros gaviões do corinthians ou pros urubus do flamengo!

    Simples assim.

    • Rafael 6 de setembro de 2014 - 13:37 Responder

      Chamar corinthiano de gambá faz mais sentido *

  • Virgílio 6 de setembro de 2014 - 15:16 Responder

    Creio ser mais ou menos consensual que a punição aos indivíduos que proferiram injúrias raciais foi justa, embora o exagero oriundo de tudo aquilo que a mídia, irresponsavelmente, sensacionaliza. Isso porque nosso ordenamento jurídico determina que tais indivíduos sejam penalizados por atos dessa natureza.

    Mas a questão é que esse mesmo ordenamento juríridico proíbe que terceiros sejam, de alguma forma, também penalizados. Identificados os criminosos, é a eles que os rigores da justiça devem ser direcionados.

    Quando esse arremedo de poder judiciário condenou o Gremio e o excluiu do campeonato, mandou a mensagem a sociedade, mesmo que subliminar, que a instituição e, por extensão necessária, todos os milhões que a ela se associam pelos mais diversos interesses também tem parcela de culpa. Não há como condenar e absolver ao mesmo tempo. Mesmo que sem intenção, tornaram o Gremio um símbolo associado ao racismo.

    Isso é profundamente injusto, ilegal e em nada colabora para combater o racismo em geral. Isso apenas sacia parcialmente a sede de justiça de toda a sociedade, sacrificando um clube de futebol – um ritual expiatório tão antigo quanto a civilização. Nas Guerras Púnicas, antes de Cristo, os Romanos sacrificavam cartagineses para aplacar as Fúrias, divindades da vingança que perseguiam os homens pelos seus crimes e pecados.

    Mas o tribunal desportivo que nos condenou a todos a um crime que não cometemos não foi o mais culpado nessa injustiça. Demos graças a imprensa por ter colaborado tão exitosamente com essa situação. Ao dar destaque aos fatos sem o menor discernimento, sem o cuidado necessário, sem tomar as precauções necessárias, sem assumir a responsabilidade pela exposição e pelo destaque, sem zelar para que os efeitos colaterais daninhos, parte da natureza mesma dessas situações, pudesse prajudicar gente inocente e mais do que a justiça tolere – ao negligenciar levianamente todos os aspectos que cercam a situação, colaboraram, na verdade, para maquiar o problema do racismo, que é geral, que é de toda a sociedade e que, sobretudo, deve ser atribuido a indivíduos ou grupos, não a uma coletividade de milhões de pessoas, mais de 99,5% do conjunto.

    Ademais, um erro nunca pode justificar um maior. A injustiça nunca será exemplo ou fomentadora da justiça.

  • Sergio Amarildo 9 de setembro de 2014 - 20:06 Responder

    Muito bom o texto. Contudo, sobre essa questão tenho uma questão que me intriga. Por que eu uso um mascote macaco se esse animal está associado ao racismo? Isso não pode ser interpretado como uma forma de favorecer aqueles que querem expressar insultos racistas? Sou a favor da decisão de abolir o termo macaco dos cânticos da torcida independente se o jogo é contra o Inter ou outro time. Contudo, não podemos esquecer a história, a tradição, até o folclore de cada agremiação. E teremos que repetir muitas e muitas vezes que somos gremistas e não racistas.

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